POMBA GIRA MIRIM (MENINA)
Me lembro perfeitamente de ter uma "amiguinha", que poderia ser considerada imaginária durante todo o período de minha infância; era uma menininha linda, sempre sorridente, vestida apenas com uma peça íntima, que se escondia debaixo da cama sempre que meus pais entravam no quarto, mesmo que ninguém pudesse vê-la além de mim.
Nós éramos companheiras diárias nas brincadeiras, fazíamos tudo juntas e minha inocência infantil não me levava a questionar o que era aquela relação. Lembro que ela escolhia as roupas que eu devia vestir minhas bonecas e ficava muito feliz quando, ainda brincando, eu usava coisas da minha mãe, tais como maquiagem, salto alto e em especial uma blusa que parecia vestimenta cigana. Feliz e contente, ela ficava saltitante batendo suas mãozinhas, e ia comigo dançar na sala.
Era uma alegria indescritível eu poder ter uma amiguinha imaginária que me protegia de meus pais, quando tomava broncas, e me acompanhava em minhas traquinagens de criança.
Em meus sonhos, lá estava ela, corríamos em lugares que ela própria me conduzia para brincarmos, eu nem tinha ideia de que lugar era aquele. Hoje eu sei que se tratava. na verdade, do Ponto de Força dela.
Minhas recordações são vasta sobre nós e nossas brincadeiras nesses lugares. Havia sonhos em que ela me levava para correr dentro de um cemitério e nós pulávamos de túmulo em túmulo, tentando alcançar uma a outra. Brincávamos de esconde-esconde nas covas com total normalidade; nos escondíamos atrás dos jazigos e quando as pessoas que estavam no cemitério passavam por nós, aparecíamos de repente e dávamos um "BUMMMMM" e elas saíam correndo assustadas. Essas traquinagens nos faziam rir muito e aumentava ainda mais nossa ligação.
De alguma forma, ainda que criança, não sentia medo algum e achava tudo divertido.
Eu ria muito por conta dessas brincadeiras que ocorriam durante os sonhos enquanto dormia; muitas vezes gargalhava dormindo e acordava minha irmã carnal que dividia o quarto comigo e que dormia na cama ao meu lado.
Em meus sonhos sempre via uns senhores vestindo roupas pretas, alguns usando chapéus ou cartolas, outros com capas e outros não. Nós duas nos aproximávamos deles sorrateiramente, esperávamos um momento de distração para pegarmos algo deles. Sobre essa situação lembro-me particularmente de um que se distraiu e nós pegamos a cartola e a capa dele e nos vestimos com suas coisas, enquanto ele, sem reagir, apenas nos olhava com cara de que estava achando tudo aquilo muito engraçado.
Ainda não entendia qual era a importância desses sonhos, não imaginava que eles eram desdobramento e não percebia a influência deles que eles exerciam sobre minha vida, a ponto de lembrar-me deles até hoje.
Bem mais tarde fui me dar conta que minha amiga "imaginária" se tratava na realidade de um Guia Espiritual e, ainda que sendo apresentada como uma criança, não era um Erê.
A energia inquieta e astuta, principalmente no quesito voltado aos relacionamentos, eram latentes, a tal ponto que pude perceber que a criança poderia se tratar de uma Pombagira, o que me intrigava, afinal era uma criança.
Me apareceu tempos depois, desta vez, um pouco mais "mocinha", caprichosamente vestidinha, colocando as mãozinhas no rosto.
No ano de 2002 fui para São Paulo conhecer o recém-fundado Colégio de Umbanda Sagrada Pai Benedito de Aruanda, no Bairro do Belém, dirigido pelo Sacerdote Pai Rubens Saraceni, que me recebeu e convidou-me a participar do corpo mediúnico da Casa. De imediato recebi permissão dos Guias Espirituais que me acompanham.Permaneci naquela casa até os meados de 2015.
Dessa forma, em um belo dia de trabalho mediúnico no caminho de todo médium umbandista, durante uma gira de esquerda, sem que eu recebesse qualquer aviso prévio ou sinal de Sua presença, ela se manifestou com toda a sua alegria, pulando rodopiando, com aquelas mãozinhas agitadas no ar, toda serelepe, e foi logo se apresentando ao Pai Espiritual da Casa, dizendo: "Boa noite, Senhor, sou Pombagira Menina, me dá licença para trabalhar nesta Casa?"
E nessa hora eu tive a prova de que minha amiguinha imaginária de infância estava ali e sempre esteve comigo, e não era imaginária. Era sim, um espírito que permitia que eu o visse e vinha buscar meu espírito desdobrado enquanto eu dormia, para cuidar, tratar, ensinar, brincar, etc. Percebo que crescemos juntas, cada uma no seu tempo. Hoje ela é uma mocinha madura aparentando ter uns 7 anos, enquanto eu, uma mulher imatura com meus 40 (kkkkkk)
Sinto-me feliz e honrada, e sei que ela também está feliz, por podermos juntas compartilhar a satisfação de ser, ter, conhecer, codificar e ativar o Mistério Pombagira Mirim!
Eu vos reverencio, Mistério Pombagira Mirim!
Laroye, Pombagiras Meninas!
Salve "minha" pequenininha Rosinha das Almas!
Cris Egidio - Autora
Extraído do Livro:
Mistério PombaGira Mirim
Autora Cris Egidio
Editora Madras