Pedrinho de Xangô é um Erê, ou mesmo pode ser chamado de Ibeijada, que tem como irradiação a força das pedreiras, montanhas e montes.
Ele é uma criança que trabalha em prol da caridade nos terreiros de Umbanda, trazendo com seu jeitinho doce da infantilidade o auxílio aos necessitados que vão em busca de sua ajuda.
Pedrinho de Xangô teve sua vida encarnada na região Sul do Brasil, por volta dos meados do século XIX. Nascido de uma família de colonos portugueses, seus pais trabalhavam nas plantações de uvas da região.
Pedrinho teve uma curta passagem na vida terrena nessa encarnação, com apenas dois anos e seis meses ele desencarnou e foi para os braços de Pai Xangô, onde teve a condição de se tornar um anjo desse Orixá, e junto a ele auxiliar nos trabalhos de caridade a quem necessita.
Quando encarnado, aliás desde o tempo que esteve no ventre de sua mãe, uma jovem portuguesa muito devota das leis de Deus, Pedrinho já era diferenciado, pois em várias oportunidades, com várias pessoas que tinham fé, ele se demonstrou um anjo divino. E tudo isso começou quando uma jovem que se encontrava grávida, de quase mesmo tempo da mãe de Pedrinho de Xangô, teve uma queda e teve sintomas de perda do feto, desesperada e chorando demais a jovem clamava a Deus para que não abortasse seu filho, porém os doutores da época, ao examinarem a jovem, disseram que seria inevitável esse fato, mandara-lhe repousar, mas em poucas horas teria a perda de sua criança. A mãe de Pedrinho, também grávida, foi acalentar a amiga, e nessa visita, com muita dor e choro, a jovem com lágrimas nos olhos acaricia a barriga da mãe de Pedrinho, pedindo a Deus que nada de ruim aconteça aquela criança, pois ela já considerava o dela perdido.
Ao acariciar o ventre da mãe de Pedrinho, uma forte luz entrou nos aposentos da jovem, fazendo um brilho intenso sobre seu próprio ventre. Aquela luz no instante que lhe tocou foi-lhe dando forças, energias, as dores foram se acalmando, e o brutal sangramento fora cessando.
Após isso novamente foram em busca dos doutores da época, e milagrosamente a criança no ventre de sua mãe estava sem problemas algum.
Todos daquele arraial acreditavam que o milagre tinha sido feito pela mãe de Pedrinho, e essa assustada se fechou em seu casebre, pois não acreditava que fora ela quem auxiliou a jovem grávida a não perder sua criança.
Os comentários aumentavam, e diante do casebre longas filas de pessoas adoentadas se formavam, mas a mãe de Pedrinho não saia para falar com toda aquela gente, por receio de algo acontecer com o filho que trazia no ventre.
Porém uma tarde, algo de inusitado aconteceu, quando a jovem estava em suas orações, diante dela apareceu um homem, de idade bem madura, com grandes barbas brancas, olhar carinhoso e sereno, mesmo sem ela saber de onde viera esse homem, mesmo sabendo que ninguém se encontrava ali até aquele momento, ela encantada pela força do bem que o homem emanava no olhar, não teve receio, e ele sorriu para ela dizendo:
"Filha de Deus, não receie minha presença, sou apenas um ser que chegou a ti para lhe passar essa pequena mensagem. Em seu ventre se encontra um filho meu, um filho meu na espiritualidade, esse menino foi quem curou a jovem que estava a perder um filho. Você tem alguns meses ainda para fazer em seu ventre crescer essa criança, e eu venho rogar a ti que siga o caminho da caridade. Lá fora estão muitas pessoas em busca de uma ajuda, de uma luz, de uma cura. Rogo a ti que deixe-as tocar em seu ventre, e assim será feito a vontade do Pai Maior, que é levar a cura através da luz divina dessa criança que traz consigo.
Peço a ti que guarde essas pedras de minha casa, e toda vez que for auxiliar um necessitado, esteja com elas em suas mãos, porém ao nascer de seu filho, esses símbolos passarão a ele, e com eles ele poderá durante o tempo que estiver encarnado, e todo tempo que estiver na luz de uma divindade, utilizar para tirar os males de todos os irmãos que buscarem essa ajuda com fé.
Agora vá, leve as pedras de Xangô, e traga paz, saúde, felicidade, amor a todos os que buscam esses caminhos."
Com essas palavras o homem de olhar penetrante e sereno desaparece na frente da mãe de `Pedrinho, e ela sorri acariciando seu próprio ventre.
Após esse dia ela vai em frente de seu casebre, e diz a todos que recebeu uma missão de Deus, ela vai estar com todos necessitados que estiverem ali e que tivessem a fé verdadeira no coração, porém não seria ela a responsável pela caridade de cura, mas sim o seu filho que ainda estava em seu ventre, e tinha a benção do Pai Maior para que assim fosse feito todas as caridades.
E desse dia até o dia do nascimento do menino Pedrinho, ela, a mãe dele, recebia todos que a procuravam. Segurando as duas pedras dadas a ela por Xangô, se aproximava dos solicitantes de cura, paz e amor, encostava as pedras na cabeça das pessoas, enquanto essas tocavam em seu ventre, recebendo uma grande carga de energia de luz fazendo com que assim tivessem melhoras imediatas, retirando doenças, mágoas, tristezas, ódio, e tudo que pudesse prejudicar aqueles irmãos que solicitavam ajuda espiritual.
O tempo passou e chegou o dia do menino Pedrinho ver a luz em sua vida de encarnado, e sem dores para sua mãe ele veio ao mundo. Nascera o menino de Xangô, com seu rostinho de anjo, com sua luz própria, com seus dons de cura e proteção.
Deitadinho em um berço improvisado por seu pai, a criança ficava sempre iluminada por uma luz azulada, que hora tinha suas cores modificadas pelas cores marrom e branco, continuava ali as orações das pessoas que vinham em busca de auxílio espiritual. Ao lado da criança as duas pedras presenteadas por Xangô, e claro sua mãe sempre buscando proteger o filho das pessoas mais ansiosas por tocar na criança.
E assim se passaram dois anos, e nesse período muitas curas aconteceram, centenas de pessoas agradecidas ao menino de Xangô.
Com seus dois anos, Pedrinho era uma criança excepcionalmente esperta e inteligente, sabia e entendia de tudo que se passava a seu redor. Certo dia, em um passeio nas parreiras de uva com sua encantada e orgulhosa mãe, Pedrinho se depara com o mesmo homem de olhar penetrante e sereno, no qual sua mãe já conhecia dos tempos de gravidez. Pedrinho sorridente, como se conhecesse o homem de longas datas, corre a seu encontro, de bracinhos abertos, sem soltar suas sagradas pedras, e ao chegar nele recebe um grande e afetuoso abraço.
Com o menino no colo o homem vai de encontro a mãe da criança, o coloca suavemente a seu lado, e os olha fixamente, dizendo em tom sereno, porém com mais seriedade ainda.
"Está chegando a hora de meu menino voltar a nossa casa. Oxalá já deu ordens dele retornar a pedreira sagrada. Porém antes de partir deverá cumprir sua última missão como encarnado. Um grave mal vai atacar toda essa região, mas somente as crianças sofrerão desse mal. Não está no tempo dessas crianças partirem, e isso fará que todas que forem contagiadas por esse mal perderão a liberdade de andar. O mal está solto. Mas por determinação do Pai Maior, todas as crianças que tiverem recebido essa penitência dos espíritos sem luz, vão poder ter sua cura concretizada, pelas mãos do meu menino e de suas pedras sagradas. Serão muitos meses assim, e centenas de crianças virão em busca de cura. Se elevarem a fé nas forças espirituais, todas as crianças serão curadas. Porém ao final dessa missão uma delas partirá para o reino divino dos Anjos de Deus.
Vão, busquem auxiliar todos esses pequenos seres do senhor, façam com que a fé entre eles e seus pais se estabeleçam, para que seja derrotado todos os espíritos sem luz que trarão esses males.
A você mulher, no momento certo Deus vai lhe dar a luz que merece, por esse motivo aceite todo acontecido sem perder sua fé."
E com um afago na cabeça de Pedrinho, o homem se vira e sai, indo ao encontro de uma luz branca muito forte, e nela desaparece como por encanto.
Os olhos do menino brilharam juntamente com seu sorriso infantil, ele se vira para sua mãe, e sorrindo lhe abraça, e logo em seguida sai em uma tentativa desengonçada de correr, brincando com sua própria infantilidade ao andar.
Passaram-se sete dias após aquele encontro, e os ataques dos espíritos da doença se concretizaram. Dezenas e dezenas de pequenos seres, meninos e meninas, todos baseados na mesma idade, sofriam com enormes ataques febris. Muitos deles já medicados pelos grandes doutores da época, mas sem resultado algum. Pais e mães desesperados, rezavam em grupos pedindo proteção aos seus pequenos. Famílias inteiras destruídas pela tristeza de verem os sofrimentos de seus pequenos entes.
Em um certo momento desse desespero generalizado, uma jovem mãe de uma linda menina que teria a mesma idade de Pedrinho, ao vê-la com alguns sangramentos pelo corpo, lembrou-se do tempo de gestação, lembrou-se da queda que teve nessa época, lembrou-se do milagre que salvara sua menina, lembrou-se do pequeno Anjo de Deus que tinha o nome de Pedrinho.
Cheia de esperanças, a jovem pega sua filha ao colo, sai correndo pelo arraial, indo ao encontro do menino e sua mãe. Chegando lá se joga de joelhos aos pés dos dois, pedindo que salvassem sua criança, em lágrimas intensas e soluçando.
Pedrinho sorridente, que estava ao lado de sua mãe, vai ao encontro a mulher desesperada, a olha com carinho e lhe dá um grande abraço, sem dizer uma só palavra. Com esse gesto a mulher se emociona ainda mais, e juntamente a seu desespero intenso, fica sem ação e sem palavras.
Pedrinho, com seus passinhos infantis, adentra em sua pequena choupana, e lá pega suas pedras sagradas. Retorna como se estivesse a brincar com elas, olha fixamente para a menina que se encontrava no colo da mãe, e sobre a cabeça e o tórax da criança ele passa as pedras como se estivesse brincando.
A jovem mãe, ainda ajoelhada, fecha os olhos e se fecha em orações com tanta intensidade e fé, que não notou sua filha entreabrindo os pequenos olhos azuis, e dando um largo sorriso ao menino.
Desse momento ela já se levantou, sem febre, sem dores, apenas pedindo algum alimento a mãe, e essa chorava intensamente agradecendo por mais uma vez ter recebido o milagre que vinha das mãos daquele pequeno menino.
A notícia se espalhou, e todos que tinham seus filhos adoentados correram ao encontro de Pedrinho, e ele com todo carinho ia passando e brincando com suas pedrinhas em cada criança.
Nenhuma das crianças que Pedrinho abençoou com suas sagradas pedras de Xangô, tiveram mais aquela doença.
Crianças vinham de todos os lugares, todos os dias, a qualquer hora. E Pedrinho como um pequeno guerreiro sempre estava ali, com seu jeito infantil, e seu sorriso carinhoso.
E assim se passaram 6 meses. Seis meses de intensas curas. E no findar desse período, todo aquele mal foi aniquilado. Já não havia mais o que temer.
Um grande grupo de pessoas se aglomeravam diante da choupana da família de Pedrinho, estavam ali para agradecer, rezar, presentear o menino. Sua mãe feliz pela missão linda que seu filho cumpriu, foi ao interior da choupana buscar o pequeno. Ao verificar ele deitado em sua pequena cama improvisada, ela nota um olhar cansado do garoto, respiração um tanto pesada, seu sorriso menos intenso. Ele a chama com um gesto de sua pequena mão, ela se ajoelha ao lado de seu leito, ele com um grande esforço ergue os braços e a abraça carinhosamente. Pede a sua mãe as suas pedrinhas sagradas, e ao que ela as entrega, ele sorri, cerra os olhos e adormece. Sua respiração vai se findando, seu sorriso não existe mais, suas pequenas mãos soltam as pedrinhas sobre seu corpo, corpo esse agora inerte. O menino Pedrinho desencarnou.
Sua mãe chora copiosamente, chama pelo nome do filho, sem resposta.
Ela no desespero da perda de seu menino, no intenso rio de lágrimas, sem entender o que está acontecendo, solta um enorme grito de dor.
As pessoas que estavam a espera do menino para agradecer, se assustam com a intensidade do desespero da jovem mãe, adentram na choupana, e entendem o acontecido.
A dor e desespero foi generalizada, todos choravam intensamente o desencarne do pequeno Anjo salvador.
A mãe em desespero pega o menino nos braços, o abraça, chora, e busca uma resposta. Uma resposta assim como todos que ali estavam buscavam.
E essa resposta veio.
Veio em forma de uma luz brilhante que vinha do céu carregado de tristeza. Essa luz rasgou as nuvens escuras, iluminando todo o povoado. E dela saíram duas imagens divinas, uma do homem de barbas brancas, outra do pequeno menino de Deus, Pedrinho de Xangô.
Pedrinho se encontrava no colo do homem, sorridente, olhar infantil, sapeca, divinamente iluminado por raios de luz azul e fachos marrons.
Seu sorriso era muito mais intenso e brilhante do que antes, seus olhos irradiavam amor, paz e caridade. E em suas mãos as pequenas pedras sagradas.
O homem olhando o povo e a mãe de Pedrinho, disse com tom forte, porém sereno.
"Filhos e filhas de Deus, a missão desse pequeno nessa terra foi cumprida. Agora sua missão é nas pedreiras de Aruanda. E lá ele vai crescer em evolução para retornar a essa terra como uma Entidade de Luz. O tempo que foi passado aqui era apenas para completar sua luz de caridade. Ensinar a todos vocês o amor, a paz e a fé.
A missão desse pequeno foi bem recebida por todos vocês. Vamos erguer essa fé que aprenderam a ter. Vamos mostrar e demonstrar a todos sem esperança que a fé não remove montanhas, mas faz crescer as pedreiras, as pedreiras que servirão de escudo para vossa proteção.
Clamem, rezem, mas agradeçam, agradeçam a fé que nasceu em seus corações.
A você mulher, não perdeste um filho, mas sim ganhou a oportunidade de ser acolhida pela força do mar. Aguarde com tranquilidade e muita fé. O que é seu virá."
Dizendo isso o homem, com a criança ainda em seu colo, se vira e caminha pelo facho de luz de encontro com o céu de Oxalá, e se vai.
Todos se ajoelham, inclusive a mãe de Pedrinho. E diante daquela imagem partindo, rezam, e agradecem a Deus por tudo.
Sete dias se passaram, e em uma tarde, a mãe do menino Pedrinho escuta uma voz doce e linda chamar seu nome. Ela curiosa vai de encontro com a voz. Sai de sua choupana até que se depara com uma linda pomba branca. A pomba traz em seu bico um pequeno ramo, e a jovem ao ver o ramo se lembrou que era uma vegetação na qual seu filho tinha costume de colher para brincar, quando iam juntos passear pelas areias junto ao mar.
A pomba levanta voo, pousa mais a frente, e a jovem curiosa a segue. E novamente ela voa, e novamente pousa, como se brincasse com a mãe de Pedrinho.
E foi assim até chegarem diante do grande mar. E lá extasiada com tudo aquilo, ela vê novamente a imagem de seu filho, dessa vez estando ele sobre uma bela nuvem brilhante, estando a seu lado o homem de barbas e uma linda mulher vestida de azul com detalhes em branco, que dá a mão a jovem, e diz:
"Agora estais sobre minha proteção. Seu caminho agora é o mar. A partir desse dia estarás ao lado de seu filho, serás minha Sereia, serás minha Iabá."
Com essas palavras a mulher traz com um raio de luz azulada a jovem junto a si. Caminhando todos para o horizonte.
E assim a mãe de Pedrinho de Xangô se tornou uma Iabá Sereia de Iemanjá.
Pedrinho trabalha com suas pedrinhas sagradas até hoje nos terreiros de Umbanda, mas essa força sagrada só dar respostas em pedidos a quem tem muita fé, e quem sabe demonstrar essa fé.
Salve o menino de Deus, salve Pedrinho de Xangô!
Por: Pai Carlos de Ogum.
Fonte: umbandayorima.blogspot.com.br