Ògún e Ṣàngó nunca se reconciliaram.
Vez por outra digladiavam-se nas mais absurdas querelas.Por pura satisfação do espírito belicoso dos dois.
Eram, os dois, magníficos guerreiros.
Certa vez Ògún propôs a Ṣàngó uma trégua em suas lutas, pelo menos até que a próxima lua chegasse.
Ṣàngó fez alguns gracejos, Ògún revidou, mas decidiram-se por uma aposta, continuando assim sua disputa permanente.
Ògún propôs que ambos fossem a praia e recolhessem o maior número de búzios que conseguissem. Quem juntasse mais, ganharia.
e quem perdesse daria ao vencedor o fruto da coleta.
Puseram-se de acordo.
Ògún deixou Ṣàngó e seguiu para a casa de Iansã, solicitando-lhe que pedisse a Iku (a morte) que fosse à praia no horário que tinha combinado com Ṣàngó.
Na manhã seguinte, Ògún e Ṣàngó apresentaram-se na praia e imediatamente o enfrentamento começou. Cada um ia pegando os búzios que achava.
Ṣàngó cantarolava sotaques jocosos contra Ògún.
Ògún, calado, continuava a coleta.
O que Ṣàngó não percebeu foi a aproximação de Iku.
Ao erguer os olhos, o guerreiro deparou com a morte, que riu de seu espanto.
Ṣàngó soltou o saco da coleta, fugindo amedrontado e escondendo-se de Iku.
À noite Ògún procurou Ṣàngó, mostrando seu espólio.
Ṣàngó, envergonhado, abaixou a cabeça e entregou ao guerreiro o fruto de sua coleta.
OGUM E O FAZENDEIRO
Conta a lenda que aqueles que fazem oferendas a Ogum e tem a proteção desse orixá não irá sofrer injustiças.
Diz um itan que um pobre homem peregrinava por toda parte, trabalhando ora numa, ora noutra plantação. Mas os donos da terra sempre o despediam e se apoderavam de tudo o que ele construía.
Um dia esse homem foi a um babalawô, que o mandou fazer um ebó na mata. Ele juntou o material e foi fazer o despacho, mas acabou fazendo tal barulho que Ogum, foi ver o que ocorria.
O homem, então, deu-se conta da presença de Ogum e caiu a seus pés, implorando seu perdão por invadir a mata. Ofereceu-lhe todas as coisas boas que ali estavam. Ogum aceitou e satisfez-se com o ebó. Depois conversou com o peregrino, que lhe contou por que estava naquele lugar proibido.
Falou-lhe de todos os seus infortúnios. Ogum mandou que ele desfiasse folhas de dendezeiro (mariwo), e as colocasse nas portas das casas de seus amigos, marcando assim cada casa a ser respeitada, pois naquela noite Ogum destruiria a cidade de onde vinha o peregrino.
Seria destruído até o chão. E assim se fez. Ogum destruiu tudo, menos as casas protegidas pelo mariwo.
Então nessa lenda você aprendeu por que dentro do culto ao Orixá Ogum nós batemos no ferro (kalá-kolò) ao chamar Ogum e utilizamos mariwô na porta de nossas casa com a finalidade de ter a proteção e indicando que ali mora um devoto fiel de Ogum.
OGUM OFERECE À OYÁ SEU AKORÔ
Ògún, o ferreiro de Ire, gostava de sua liberdade. Morava na forja, na última rua da cidade, com sua esposa Oyá, que o ajudava.
Sua casa não tinha porta ou janela e o teto era formado pelas folhas de mariwo, que impediam a chuva e o excesso de sol de incomodá-lo.
Ele via os amigos passarem na rua e os saudava com um aceno. Era considerado homem importante, e fora presenteado pela comunidade com um "akoro", pequena coroa de metal que usava com muito orgulho.
Pedira ao seu irmão Ode, o caçador, também chamado Osóòssi, que caçasse para ele um enorme touro selvagem que vivia por perto. Tratou o couro do animal e fez dele um enorme fole.
Sua esposa Oyá manejava o fole o dia todo, enquanto ele trabalhava na forja, com o calor em seu rosto. E quem passava naquela rua ouvia a música que saia da forja: "Wuuush", fazia o fole. "Lakaiye, lakaiye", ecoavam a bigorna e o martelo. Havia muito trabalho e Ògún e Oyá não paravam nunca
Uma família resolveu certo dia realizar uma festa para o velho Pai que morrera no ano anterior.
Contrataram a Sociedade Egungun da aldeia, cerimónias de propiciação foram feitas pelos Sacerdotes, e o Egungun do velho Pai passeou todo o dia pela cidade, com a família e os amigos atrás, felizes de rever seu Pai de volta ao mercado, tomando sol na praça, andando na estrada, entrando nas casas, brincando e conversando com todos.
Bem mais tarde, Egungun passou pela forja, para rever seu amigo ferreiro. E, ao ouvir a música que saia de lá, pos-se a dançar na rua. Todos ao seu redor riam e gritavam de alegria, Ògún acelerava os movimentos, e o "Lakaiye, lakaiye" saia mais forte. Oyá manejava rapidamente o fole, e ouvia-se "Wuuush, wuuush, wuuush", quase sem parar.
O povo aplaudia aquela música e cada vez mais juntava gente ao redor da forja. Ògún estava muito orgulhoso de sua mulher. Ela realmente era muito forte, tinha bom ritmo, sabia como transformar seu fole em um instrumento musical, e com isso encantara e dominar a Egungun, tido como difícil de lidar. A noite caiu e Egungun ainda dançava na rua.
Ògún disse a Oyá que largasse o fole e fosse dançar com Egungun. Ele ao mesmo tempo manejaria o fole e bateria o martelo.
E por horas e horas, Oyá e Egungun dançaram e alegraram o povo de Ire.
Ògún então tirou seu akoro da cabeça e presenteou com ele sua esposa Oyá, dizendo a ela: "Oyá, iyawo mi, akoro mi lonoon."( Oyá, minha esposa, use meu akoro na rua).
E a partir de então, Oyá teve o direito de usar um akoro de metal na cabeça, direito este que conserva até hoje, na velha Mãe África e no novo mundo, sendo a única iyaba que pode fazê-lo, um vez que seu marido Ògún, Alakoro ( o dono do akoro), a autorizou a isto.
Oyá ficou conhecida então como "aquela que usa akoro na rua", "aquela que faz Egungun dançar com a música da forja", "a Mãe que dança com o filho toda a noite sem se cansar", "a poderosa Mãe que conseguiu cansar Egungun", "mulher de Orixá Ògún que recebeu dele o akoro e com ele divide os poderes sobre a forja", "a que tem akoro e o usa na rua, sem que seu dinheiro tenha sido gasto para isso".
OGUM E OYÁ
Segundo a lenda, Oyá vivia feliz com Ogun, pois os dois tinham muitas coisas em comum, como o gosto pela guerra e o desejo de desbravar novos lugares. Gostavam da companhia um do outro, sentindo-se em harmonia. Com ele, que é conhecedor de todos os caminhos, Oyá aprendeu a andar pela Terra.
Gostava muito de vê-lo trabalhar, em seu oficio de ferreiro, tentando aprender como ele confeccionava suas armas e ferramentas. Oyá pedia insistentemente que lhe fizesse uma arma para guerrear.
Um dia, Ogun a surpreendeu, oferecendo-lhe uma espada curva, que era ideal para seu uso. Isso a agradou muito, tanto que, mais tarde, todo seu exército estava usando esse mesmo tipo de arma.
Mas Ogun não a levava em suas batalhas, deixando-a sozinha e entediada. Sem falar no tempo que gastava em seus afazeres de ferreiro. Oyá adorava a liberdade, mas, ao mesmo tempo, não dispensava uma boa companhia. Começou a sentir-se rejeitada por ele.
Foi nesse momento que Xangô, o grande rei, foi procurar Ogun, pois precisava de armas para seu exército. Ele era muito atraente e cuidadoso com sua aparência. Era impossível não notar sua presença.
Ogun, aceitando o pedido, começou a produzir armas para Xangô, que tinha muita urgência. Ficaria na aldeia o tempo necessário para o término do serviço.
Xangô também notou a presença de Oyá, sentindo uma grande atracção por ela. Com seu jeito de ser, aproximou-se dela para trocar conhecimentos a respeito de suas habilidades. Descobriram, nessas conversas, que possuíam muitas afinidades, inclusive que não gostavam de viver isolados, assim como Ogun.
Oyá estava muito interessada em Xangô e em tudo o que estava aprendendo com ele, mas não queria magoar Ogun, a quem respeitava muito.
Xangô propôs-lhe uma união eterna, sem monotonia, sem solidão, viajando sempre juntos por toda a Terra. Seria uma união perfeita.
Quando Ogun terminou seu trabalho, os dois já haviam partido. Ele ficou enfurecido com a traição de ambos, mesmo sabendo que sua companheira não podia ficar cativa para sempre.
Partiu atrás deles para vingar sua desonra!
Oyá estava vindo ao seu encontro, para explicar-lhe que não poderia mais ficar com ele, pois Xangô a completava, mas que iria respeitá-lo sempre como grande orixá da guerra.
Ogun estava tão enfurecido, que não ouviu o que ela dizia, e foi com grande fúria que investiu contra ela, erguendo sua espada. Oyá, em defesa própria, também o atacou. Ela foi golpeada em nove partes do seu corpo, e Ogun em sete, formando curas. Esses números ficaram muito ligados a esses orixás, assim como as curas, que foram introduzidas nos rituais africanos.
PORQUE OGUM COME INHAME?
Oxaguiã, rei Ejigbô (Elejigbojo), chamado “Orixá comedor de inhame pilado”, inventou o pilão para saborear mais facilmente seus prediletos inhames. Todo o povo de seu reino adotou sua preferência. E tanto que se comia inhame que não se dava conta de plantá-lo.
E assim, grande fome se abateu sobre o povo de Oxaguiã, sendo assim Oxaguiã foi consultar Exú, que o mandou fazer sacrifícios e procurar o ferreiro Ogum, que na época vivia em Ipexá. O que podia fazer Ogum para que o povo de Ejigbô tivesse mais inhame
Ogum pediu sacrifícios e logo deu a solução. Em sua forja, Ogum fez ferramentas de ferro, fez enxadas, foice, pá, ancinhos, martelos e arados.
_ “Leve isso a seu povo, Ejigbô, e o trabalho na plantação vai ser mais fácil. Vão colher muitos inhames, mais do que plantar com as mãos”, disse Ogum.
E assim foi feito, nunca se colheu tanto inhame, e a fome acabou. Agradecido a Ogum o povo realizou uma grande festa em sua homenagem, ofereceram a ele um grande banquete de inhames, feijão regado no azeite, caracóis e etc.
E Ogum disse a Oxaguiã:
- “Na casa todos se vestem de branco, vou me vestir de branco para receber as oferendas, e a partir de hoje, o inhame será um dos meus alimentos preferidos.”
Oxaguiã respondeu:
- “Meu povo nunca há de esquecer sua dádiva, dê–me um laço de seu abadá azul para que eu possa usar em minhas roupas brancas. Vamos para sempre nos lembrar de Ogum.”
O Itan do Odu Eta Ogunda nos revela porque o inhame é um dos alimentos que não pode faltar nas oferendas a Ogum e nos revela também, porque Oxaguiã usa o azul nas suas contas.
Em algumas tradições brasileiras ficou-se designado o inhame fêmea (redondo) à Oxaguiâ e outros orixás funfun, e o cará (que é o inhame macho em forma de falo) consagrado à Ogum.
Mas tanto um quanto o outro não causam ewô à ninguém, e são oferenda votiva e alimentação quase que obrigatória nos asés.
ORIXÁ OKÔ CRIA A AGRICULTURA COM A AJUDA DE OGUM
No princípio, havia um homem que se chamava Ocô, mas Ocô não fazia nada o dia todo, não havia o que fazer, simplesmente.
Quando os alimentos na Terra escassearam, Olorum encarregou Ocô de fazer plantações, que plantassem inhame, pimenta, feijão e tudo mais que os homens comem.
Ocô gostou de sua missão, ficou todo orgulhosos, mas não tinha a menor idéia de como executá-la, até que viu, debaixo de uma palmeira, um rapaz que brincava na terra, com um graveto ele revolvia a terra e cavava mais fundo, Ocô quis saber o que fazia o rapaz.
"Preparando a terra para plantar, para plantar as sementes que darão as plantas", explicou o rapaz de pele reluzente. "Que sementes, se nem plantas ainda há?", perguntou, incrédulo, Ocô. "Nada é impossível para Olodumare", foi a resposta.
OGUM DÁ AOS HOMENS O SEGREDO DO FERRO
Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole, por isso o trabalho exigia grande esforço.
Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa, era necessário plantar uma área maior. Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área da lavoura.
Ossaim, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno, mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossaim, todos os outros orixás tentaram um por um e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio.
OGUM PUNE OS CRIMINOSOS
Uma antiga história yorùbá versa que Ògún, acompanhado do seu irmão mais velho, depois de muitos anos conquistando terras pelo mundo, retornou ao vilarejo onde seu pai era o grande chefe.
Quando eles chegaram, o Pai de Ògún disse: “Agora que vocês retornaram, eu posso viajar para resolver questões que tenho pendente. Assim, vocês deverão tomar conta de tudo e punir qualquer pessoa que cometer um crime. Aqui, não pode haver crimes”.
Diante das palavras do Pai, Ògún questionou: “Meu Pai, sim faremos como o senhor deseja, mas qual será a punição que devemos aplicar aos criminosos”?
O Pai de Ògún disse: “Ògún Pa Ori Ota Mi” (Ogun corte a cabeça dos nossos inimigos, dos criminosos). Ògún entendeu e acatou as ordens do seu Pai.
Com o passar do tempo, Ògún observou que no vilarejo havia uma pessoa (Alunipa) que ele suspeitava que cometia crimes e lançava a culpa em outras pessoas, mas Ògún precisava de provas.
Ògún, então, escolheu uma grande ovelha que pastava na cidade, cortou sua cabeça e deixou o corpo no vilarejo. Ògún pegou a cabeça da ovelha e escondeu na casa do seu irmão, retornando aonde havia deixado o corpo da ovelha.
Quando chegou, viu uma grande multidão ao redor da ovelha dizendo: “Quem será que fez isso, quem pode fazer isso”? O dono da ovelha chegou anunciando que todos deveriam ir até a casa de Alunipa, pois ele saberia quem fez aquilo, pois ele sempre sabia quem cometia os crimes.
Alunipa disse que quem fez aquilo, havia sido o irmão mais velho de Ògún, então, todos foram até lá.
Quando chegaram, encontraram a cabeça da ovelha no lugar onde Ògún havia colocado. Alunipa pegou o irmão de Ògún pela cabeça e disse: “Ògún, corte agora a cabeça dele”.
Ògún perguntou se Alunipa tinha certeza daquilo. Alunipa respondeu que sim, que sempre via o irmão de Ògún cometendo crimes na cidade. E disse: “Vamos Ògún, faça o que tenha que ser feito”.
Ògún nesse momento pegou seu Alada e puniu Alunipa. Todos ficaram aterrorizados, pois ele havia punido a pessoa errada.
Mas Ògún contou a história, esclarecendo que seu irmão não havia feito nada. A partir daquele dia, todos os criminosos sempre serão julgados pelo Alada de Ògún.
A partir daquele dia, ficou acordado que, jamais ninguém, em hipótese alguma mentiria para Ògún.
Afrosapiens
#Povodafloresta