quarta-feira, 12 de maio de 2021

MARIA NAVALHA

 


Nenhuma descrição de foto disponível.Houve uma época que não me chamavam assim...

Que eu não era ninguém além de uma empregada do cais do porto...

Limpava aquele chão e ganhava menos do que merecia...

Até encontrar aquele homem, ele se chamava José dos Santos...

Ele era lindo, tinha os olhos da cor de jabuticaba...

E um um sorriso que controlava qualquer mulher...

Ele podia ter qualquer uma, mas ele me quis...

E com ele eu aprendi tudo, aprendi a trapacear...

A jogar cartas e a seduzir quem eu quisesse...

Foi com ele que eu conheci a vida além daquele cais maldito...

Foi o meu primeiro e único amor...

Ele sempre me disse que o amor era uma doença...

E que isso iria matar nós dois...

Mas eu não levei fé!

Me lembro dos sorrisos que ele me arrancava...

E me lembro quando ele me deixou...

As lágrimas que ele me causou, antes de ir...

Ele me deixou uma navalha!

Dizia que isso iria me proteger dos homens...

Que não gostavam de perder para uma mulher...

E então ele foi embora, e eu não entendi...

Fiquei doente para saber onde se enfiou o meu Zé...

O meu pretinho do sorriso alegre...

E então eu o encontrei...

Ele estava casado com uma mulher rica...

E isso me deixou arrasada!

Porque ele havia me trocado por dinheiro...

Um amor falso e financeiro!

E então eu jurei vingança!

Jurei que só na morte iria deixar-lo em paz...

E eu mudei, mudei para me aproximar da esposa dele..

Eu iria tirar aquilo que era mais importante para ele...

O dinheiro!

Então armei para a esposa dele...

E num jogo fiz ela perder tudo...

Sei que o que fiz foi errado, mas ele me usou...

E aí começou a minha vingança...

Mas como nunca ninguém conseguiu enganar o Zé...

Não seria eu a primeira!

Quando ele descobriu, ele ficou louco...

E foi atrás de mim lá no cais...

Mas antes que ele pudesse me encontrar...

Fui emboscada por um desafeto do Zé...

Então Zé ficou sabendo da minha morte...

Encontrou o malfeitor de sua morena e o matou...

Foi a golpes de navalha com toda sua ginga...

Então foi até meu corpo tombado...

E deu um demorado abraço...

Pudia ver a dor e a tristeza em seus olhos...

Quando mori me lembro que não senti nada...

Só a saudade e o meu amor por meu nego Zé...

E foi lá, lá no cais que eu acordei...

E tinha uma mulher em pé me esperando...

Ela usava roupas de homem, e fumava cigarro...

Ela me olhou e disse:

Seja bem vinda, agora você é da minha falange...

Por hora esquece esse homem...

Mas nunca se esqueça de onde você veio...

E quem você se transformou!

Seu nome será Maria navalha...

E aquele Zé?

Hoje ele também trabalha!

Hoje ele Zé Pilintra!

O cara que me ensinou a malandragem...

E me transformou em quem sou hoje...

Quando precisar de uma amiga...

Para quebrar qualquer demanda...

É só me chamar, que com aquela mesma navalha...

Eu quebro todo mal, toda falsidade e deslealdade...

Como eu me chamo?

Ah, alguns me chamam de Maria do Cais...

Outros de Maria Navalha...

E tem alguns que me conhecem como:

Maria, a morena do Zé...

Mas na verdade, eu sempre fui a Maria Navalha...

A navalha da beira do cais!

A morena do Zé!

Saravá Fraterno, Axé Filhos de Umbanda!

Pai Jonathas de Ogum.'