quarta-feira, 18 de setembro de 2019

"Grandes Exemplos": Quem Foi João de Camargo?



"O mistério de João de Camargo envolve a própria natureza, pondo até mesmo os sábios em uma profunda incerteza". A quadrinha de José Barbosa Prado, o Nhô Bento do Capão Redondo, no livro "O servo João de Camargo, humilde missionário da fé", pode traduzir um pouco do que foi o místico João de Camargo Barros, nascido em Sarapuí, em 5 de julho de 1858, mas que se mudou para Sorocaba, após a Lei Áurea. João, antes de mudar de cidade, adotou o sobrenome dos antigos donos, se tornando assim, João de Camargo.

Desde jovem recebeu muitas influências das religiões africanas, através de sua mãe, e do cristianismo, através da sua sinhazinha Ana Teresa Camargo e do padre João Soares do Amaral. Em Sorocaba, trabalhou como cozinheiro, militar, em lavouras e olarias. João surgiu com seu dom no bairro da Água Vermelha e seus seguidores o tinham como "santo", de espírito elevado e de alma muito bondosa. Nhô João, como mais tarde seria conhecido, apelidado pelos seus devotos, já praticava curas desde 1897. Mas apenas em 1906 teria tido uma visão que o curou do vício na bebida. Só a partir desse ano conseguiu dedicar-se totalmente a sua missão. Entre os pedidos mais comuns feitos a ele estavam o de batizados, problemas conjugais e profissionais, desaparecimento de pessoas, animais e objetos. Entretanto, a cura de doenças era o que chegava em maior número na esperança de um milagre.

João chegou também a ser preso 18 vezes, sob acusação de curandeirismo em 1913. Uma das vezes, quando foi julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado, foi absolvido pelo corpo de jurados. No mesmo ano, Nhô João decidiu então, para proteger a si próprio de outras acusações e a nova religião, registrá-la oficialmente como Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim, reconhecida como pessoa jurídica em fevereiro de 1921. Mesmo assim, a imagem de santo nunca agradou a João, que dizia apenas intermediar os pedidos com Deus, mas afirmando que não era ele quem fazia acontecer o "milagre". A Capela do Senhor do Bonfim, no bairro da Água Vermelha, foi erguida em 1906, após uma visão ou sonho que teve com o menino Alfredinho, um garoto que morreu por ter sofrido queda de um cavalo. João, que ficou curado do vício da bebida, e conforme orientações do menino, decidiu erguer uma igreja. João realizava as curas e morava no local. Até hoje seu quarto é preservado.

Vida e morte

João de Camargo faleceu com 84 anos em 28 de setembro de 1942, em Sorocaba. O cortejo do seu enterro começou na Capela da Água Vermelha, onde centenas de devotos prestaram suas homenagens. Foi sepultado no cemitério da Saudade, em túmulo construído com materiais comuns por doação de um devoto, em meio a outros de personalidades sorocabanas e que também são bastante visitados. Entre eles, o do monsenhor Luís Castanho de Almeida (1904-1981), sacerdote católico e iniciador da ciência histórica em Sorocaba, ou mesmo de Antônio Francisco Gaspar (1891-1972), ferroviário da Sorocabana, contador de histórias das capelinhas. Há ainda túmulos como da menina Julieta Chaves, que morreu aos 7 anos, após desaparecer de casa e ser encontrada dias depois morta. Principalmente no Dia de Finados, a capelinha de João de Camargo é muito visitada por fiéis que vão até lá para rezar, fazer pedidos e pagamentos de promessas. O túmulo de João é o mais procurado do cemitério, onde devotos diariamente levam velas e rezam no local.
 
Nos dias de hoje, muitos fiéis ainda pedem e agradecem a ele devido às graças realizadas, muitas consideradas como milagres por essas pessoas. Mais de setenta anos após sua morte, a capela continua atraindo seguidores e fiéis. Seis anos depois de falecido, um devoto do milagreiro erigiu sobre o túmulo de João de Camargo uma réplica da Capela do Bom Jesus do Bonfim. Durante estes últimos 30 anos, Nelson Ciconello, outro devoto de João de Camargo, ofereceu atendimento espiritual na capela.


Em julho, os 155 anos de nascimento de João de Camargo foram motivo de comemoração. A festa contou com a reza do terço, tradição há mais de meio século. A reza foi em um palco no jardim da capela, em memória do místico. Os festejos contaram ainda com a participação da Banda Sinfônica Municipal, queima de fogos e distribuição de botões de rosas.

Após sua morte a Capela Bom Jesus do Bonfim ficou fechada durante cinco anos por questões judiciais, Escolástica do Espírito Santo Maduro, sua ex- mulher apareceu requerendo sua parte no espólio.O túmulo de João de Camargo é uma réplica da Capela Bom Jesus do Bonfim, levantada sob responsabilidade de um de seus devotos, João Massa em 1948. Seu túmulo é visitado por um número incontável de devotos e simpatizantes, principalmente no dia 02 de novembro – Finados .


O FILME


O Filme de nome Cafundó, nos relata sobre o sincretismo de religiões presentes na época do Brasil pós-escravidão no fim do século XIX, onde a vida de dois ex-escravos João (protagonizado por Lázaro Ramos) e Cirino (Leandro Firmino)  tomam o centro das atenções no início do filme. Libertados, os dois vivem uma vida de miséria e trabalho duro para ganhar alguns míseros trocados. São enviados à guerra, mas não lutam por não haver necessidade.
Na primeira parte do filme, João passa a maior parte do tempo ao lado de seus amigos Cirino, Levinda e Teodoro, que realizam diversas trapaças, roubam a fim de manter sua sobrevivência. Eles trabalham posteriormente, sempre em serviços duros e que mal garantem a sobrevivência dos mesmos, representando bem a realidade vivida pelos negros libertados naquela época no Brasil.
Um clima de mistério presente nas religiões permeia algumas cenas, pode-se ver a cruz, por exemplo, presente em várias cenas do filme, bem como rituais do baixo espiritismo ou umbanda mesmo, presente em festas , danças ou locais inusitados, como aquele em que a mãe de João lhe conta a história de Alfredinho.
Numa destas festas, João conhece Rosário (Leona Cavalli), que é cheia de mistérios e é talvez, a figura que melhor representa a história deste filme de um modo geral. Os dois se casam e passam a viver uma vida de trabalho duro e sacrificante num milharal distante da cidade. O clima de mistérios e sincretismo religioso presente na vida dos dois é perceptível desde o começo do filme, na cena das cadeiras, onde outros personagens aparecem como se fossem os dois, o equilibrista e sua ajudante.
Este mistério se evidencia, quando os dois vão à cidade tentar vender seus milhos, mas chegando encontram um cenário altamente corroído e assolado pela febre amarela, outra realidade daquela época. Neste momento Rosário é “amaldiçoada” por uma vidente, que se incomoda com o jeito da moça. João fica preocupado com sua mãe pois fica sabendo que a febre está presente o todos os lugares e decide ir vê-la, e manda Rosário pra casa. Chegando lá a encontra no final da vida, e ela parte deixando tristeza e desolação no rapaz.
Quando João retorno pra sua casa, tem uma grande decepção, encontra sua mulher com outro homem, e os persegue com um chicote na mão. Neste momento, o filme toma uma direção mais dramática e conflituosa do que no começo, indicando que haveria outro “propósito” para a vida de João, apesar de toda desolação, solidão e tristeza que ele passa a viver durante este momento.
Durante uma das cenas, ele caiu bêbado no chão, e tem um vários “encontros espirituais” com o padre falecido João Soares, com o menino Alfredinho, com entidades espirituais da umbanda e com Nossa Senhora. Recebe uma missão, e sua vida sofre uma mudança drástica a partir deste momento. Sua vida toma um rumo totalmente espiritual, cercado de mistérios e motivado por santos como Senhor do Bom Fim e pela Igreja da água vermelha, que passa a ser o recôndito espiritual de João.
As situação vividas anteriores no filme, como a cena em que junto com sua mão ele vê a água vermelha vertendo da cruz, no local onde teria morrido o menino Alfredinho, começam e ficar mais claras neste momento do filme, mas não totalmente. Isto porque a crença ou fé, mesmo sendo considera magia, não pode ser julgada nem considerada certa ou errado, porque a fé não á algo tangível aos nossos olhos.
No filme, o sincretismo presente na crença de João, vai além do esperado pelas pessoas a sua volta, pois naquela época os pré-conceitos sobre a cor da pele influenciavam diretamente na escolha até mesmo das preces e dos santos. Havia preces e Santos considerados de brancos, como preces e Santos considerados de “negros”. Isto fica claro na cena da prisão.

Por uma maioria negra, João de Camargo é considerado Santo, que faz milagres, cura, tem uma fé diferenciada capaz de solucionar muitos problemas. Como na vida real, o que se vê em Cafundó, além da grande mistura religiosa presente nas cenas e na vida de João, é que cada pessoa necessita ter uma fé ou crença, e por mais que seja repudiada por outras pessoas, ela expressa o verdadeiro direito de liberdade que cada um tem de acreditar e seguir aquilo que quiser.

Cafundó é um filme  de 2005, dirigido por Clóvis Bueno e Paulo Betti. O filme foi rodado no ano de 2003, em quatro cidades do Paraná, todas na região de Ponta Grossa.

Principais prêmios e indicações

Festival de Gramado 2005
Venceu nas categorias de Melhor Ator (Lázaro Ramos), Melhor Direção de Arte e Melhor Fotografia.
Ganhou o Prêmio Especial do Júri na categoria de Melhor Longa Metragem em 35mm Brasileiro.
Indicado na categoria de Melhor Filme.
Los Angeles Pan African Film Festival 2006
Recebeu Menção Honrosa.


 ORAÇÃO A PAI JOÃO DE CAMARGO

Guia Glorioso JOÃO DE CAMARGO, vós que tem a graça recebida de Deus de defender-nos contra o mal, e nos ajuda a receber o bem, peço-vos Senhor, que retire todo mal, que nos tortura, defendei-nos também contra as pessoas que nos desejam mal.Livrai-nos das invejas que nos perseguem em nossos lares e onde estivermos trabalhando.Assim seja com a prece ao senhor JOÃO DE CAMARGO será abençoado por DEUS

JOÃO DE CAMARGO BARROS   05/07/1858 - 28/09/1942 U