segunda-feira, 2 de abril de 2018

LENDA DE OBALUAÊ / OMOLU

Obalúwàiyé era originário de Empé (Tapa) e havia levado seus guerreiros em expedição aos quatro cantos da Terra. Uma ferida feita por suas flechas tornava as pessoas cegas, surdas ou mancas. Obaluayé chegou assim, ao Daomé, batendo e dizimendo seus inimigos, e pôs-se a massacrar e a destruir tudo o que encontrava à sua frente. Os daomeanos, porém, tendo consultado um Babalaô aprenderam como acalmar Obaluayé com oferenda de pipocas. O Òrìsà, tranqüilizado pelas atenções recebidas, mandou-os construir um palácio onde ele passaria a morar, não mais voltando ao país Empé. O Daomé prosperou e tudo se acalmou.

1Tendo Nanã seduzido Oxalá que era casado com Iemanjá, e dele tido um filho, este nasceu doente e malformado, pois ambos haviam desobedecido as Leis de Orunmilá.
Nanã vaidosa, não suportando a aparência de seu filho Obaluaê, abandonou-o à beira do mar para que quando a maré subisse o levasse ou não, de acordo com o que fosse seu destino. Ali ficou a criança, tendo sido mordida pelos animais das águas e da terra, atingido pelas chuvas e pelo sol, pelas doenças, até que Iemanjá teve pena dele e o recolheu, a fim de tratar de suas feridas. Mas Obaluaê, ficou cheio de cicatrizes, o que o obrigava a cobrir-se inteiramente com palhas. Assim cresceu Obaluaê, e um dia, caminhando pelo mundo, sentiu fome e pediu as pessoas de uma aldeia por onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o homem coberto de palha desde a cabeça, o expulsaram da aldeia e hão lhe deram nada.
Obaluaê triste e angustiado saiu do povoado e continuou pelos arredores, observando as pessoas. Neste tempo, os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola, os homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca.
Ainda com fome e sede, Obaluaê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo mal acabasse. Então homens o alimentaram e deram-lhe de beber, rendendo-lhe muitas homenagens.
Foi então que Obaluaê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer que fosse, tivesse a aparência que tivesse, e seguiu caminho. 
Chegando a sua terra, encontrou uma imensa festa dos Orixás. Como não se sentia bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas do terreiro, foi quando Iansã o encontrou e corajosamente o tocou, levantou-lhe as palhas, deixando todos verem um homem bonito e forte, cheio de energia e virilidade, já sem nenhuma marca pelo corpo, dançou com ele noite a dentro. A partir deste dia, Obaluaê e Iansã do Balé se associaram contra o poder do mal, das doenças e dos espíritos evitando que doenças, morte e desgraças aconteça aos homens.

2-

Xapanã era um guerreiro terrível que,seguido de suas tropas,
percorria o céu e os quatro cantos do mundo.
Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem.
Seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste.
assim,chegou Xapanã em território Mahi,no Daomé.
A terra dos mahis abrangia as cidades de Savalu e Dassa Zumê.

Quando souberam da chegada iminente de Xapanã,
os habitantes desta região,apavorados,consultaram um adivinho.
E assim ele falou:
"Ah! O grande guerreiro chegou de Empê!
Aquele que se tornará o senhor do país!
Aquele que tornará esta terra rica e próspera,chegou!
Se o povo não aceitá-lo,ele o destruirá!
É necessário que supliquem a Xapanã que vos poupe.
Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste:
inhame pilado,feijão,farinha de milho,azeite de dendê,picadinho de carne de bode
e muita,muita pipoca!
Será necessário,também,
que todos se curvem diante dele,
que o respeitem e o sirvam.
Desde que o povo o reconheça como pai,
Xapanã não o combaterá,mas protegerá a todos!"

Quando Xapanã chegou,conduzindo seus ferozes guerreiros,
os habitantes de Savalu e Dassa Zumê reverenciaram-no,
encostando suas testas no chão,e saudaram-no:

Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!
"Respeito e submissão!"

Xapanã aceitou os presentes e as homenagens,dizendo:
"Está bem! Eu os pouparei!
Durante minhas viagens,desde Empê,minha terra natal,
sempre encontrei desconfiança e hostilidade.
Construam para mim um palácio.
É aqui que viverei à partir de agora!"

Xapanã instalou-se assim entre os mahis.
O país prosperou e enriqueceu,
e o grande guerreiro não voltou mais a Empê,
no território Tapá,também chamado Nupê.

Xapanã é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas.
Ele tem,também,o poder de curar.
As doenças contagiosas são,na realidade,
punições aplicadas àqueles que o ofenderam ou conduziram-se mal.
Seu verdadeiro nome,é perigoso demais pronunciar.
Por prudência,é preferível chamá-lo Obaluaê,O "Rei Senhor da Terra"
ou Omulu,o "Filho do Senhor".

3
 - OMOLU CURA TODOS DA PESTE E É CHAMADO OBALUAÊ
Quando Omolu era um menino de uns doze anos, saiu de casa e foi para o mundo para fazer a vida. De cidade em cidade, de vila em vila, ele ia oferecendo seus serviços, procurando emprego. Mas Omolu não conseguia nada. Ninguém lhe dava o que fazer, ninguém o empregava, e ele teve que pedir esmola. Mas ao menino ninguém dava nada, nem do que comer, nem do que beber. Tinha um cachorro que o acompanhava e só. Omolu e seu cachorro retiraram-se no mato e foram viver com as cobras. Omolu comia o que a mata dava: frutas, folhas e raízes. Mas os espinhos da floresta feriam o menino. As picadas de mosquitos cobriam-lhe o corpo. Omolu ficou coberto de chagas. Só o cachorro confortava Omolu, lambendo-lhe as feridas. Um dia, quando dormia, Omolu escutou uma voz:
_Estás pronto. Levanta e vai cuidar do povo.
Omolu viu que todas as feridas estavam cicatrizadas. Não tinha dores nem febre.Omolu juntou as cabacinhas, os atos, onde guardava água e remédios que aprendera a usar com a floresta, agradeceu a Olorum e partiu.
Naquele tempo uma peste infestava a Terra. Por todo lado estava morrendo gente, todas as aldeias enterravam seus mortos. Os pais de Omolu foram ao babalaô e ele disse que Omolu estava vivo e que ele traria a cura para a peste. Todo lugar aonde chegava, a fama precedia Omolu. Todos esperavam-no com festa, pois ele curava. Os que antes lhe negaram até mesmo água de beber agora imploravam por sua cura. Ele curava a todos, afastava a peste. Então dizia que se protegessem, levando na mão uma folha de dracena, o peregum, e pintando a cabeça com efum, ossum e uági, os pós branco, vermelho e azul usados nos rituais e encantamentos. Curava os doentes e com o xaxará varria a peste para fora da casa, para que a praga não pegasse outras pessoas da família. Limpava as casas e aldeias com a mágica vassoura de fibras de coqueiro, seu instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro, o xaxará.
Quando chegou em casa, Omolu curou os pais e todos estavam felizes. Todos cantavam e louvavam o curandeiro e todos o chamaram de Obaluaê, todos davam vivas ao Senhor da Terra, Obaluaê.
4- OBALUAÊ TEM AS FERIDAS TRANSFORMADAS EM PIPOCA POR IANSÃ
Chegando de viagem à aldeia onde nascera. Obaluaê viu que estava acontecendo uma festa com a presença de todos os orixás.
Obaluaê não podia entrar na festa, devido à sua medonha aparência.
Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angústia do orixá, cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua cabeça e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de envergonhado, Obaluaê entrou, mas ninguém se aproximava dele.
Iansã tudo acompanhava com o rabo de olho. Ela compreendia a triste situação de Omulu e dele se compadecia. Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê estava animado.
Os orixás dançavam alegremente com suas equedes.
Iansã chegou então bem perto dele e soprou suas roupas de mariô, levantando as palhas que cobriam suas pestilência. Nesse momento de encanto e ventania, as feridas de Obaluaê pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaê, o Deus da Doença, transformou-se num jovem, num jovem belo e encantador.
Obaluaê e Iansã tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espiritus, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homen


5- IANSÃ GANHA DE OMOLU O PODER DE REINAR SOBRE OS MORTOS
Houve uma festa e todos os Orixás estavam presentes. Menos Omolu que ficara do lado de fora. Ogum pergunta por que o irmão não vem e Nanã responde que é por vergonha de suas feridas causadas pelas doenças.
Ogum resolve ajudá-lo e o leva até a floresta onde tece para ele uma roupa de palha que lhe cobre o corpo todo. O filá!
Mas a ajuda não dá muito certo, pois muitos viram o que Ogum fizera e continuavam a ter nojo de dançar com o jovem Orixá, menos Iansã, altiva e corajosa, dança com ele e com eles o vento de Iansã que levanta a palha e para espanto de todos, revela um homem lindo, sem defeito algum.
Todos os Orixás presentes, ficam estupefatos com aquela beleza, principalmente Oxum,que se enche de inveja, mas agora é tarde, Omolu, não quer mais dançar com ninguém.
Em recompensa pelo gesto de Iansã, Omolu dá a ela o poder de também reinar sobre os mortos. Mas daquele dia em diante, Omolu declarou que somente dançaria sozinho!