Vou contar minha história, não para terem medo de mim, mas para que nunca cometam os mesmos erros que cometi. Somos responsáveis por eles!
Nasci e fui criado dentro da religião judaica. Todos na minha família eram judeus. Os homens eram iniciados desde cedo nos estudos das escrituras e na sabedoria da Kabalah, a sabedoria transmitida de forma oral, muito diferente dessa que vocês conhecem hoje. Apesar de não ser, prefiro chamar de Kabalah Egípcia pela antiguidade e pela forma de interpretação, bem mais simples do que a Kabalah que os sabidos complicaram depois.
Os que se diziam seguidores do "Nazareno" (Jesus Cristo), escreveram um livro para confirmar suas "verdades". Até o nome do homem que recebeu o Cristo que era Yaohushua (que quer dizer "Estrela da Manhã") mudaram pra Jesus, pra eternizar o nome dos deuses que eles acreditavam (Júpter e Aesus). Pegaram o nossa Escritura Sagrada e aumentaram as passagens dos livros e colocaram até livros inteiros a mais. Nossa escritura sagrada tinha só 22 livros, cada um correspondendo a um mistério da Kabalah. Eles colocaram mais 50 e fizeram uma escritura com 72 livros. Acusaram meu povo de ter apagado os outros 50 de nossa própria escritura. Os Nazarenos (cristãos) acreditaram na babozeira que os "batina preta" (padres) inventaram e passaram a perseguir meu povo.
Foi um tempo de sofrimento. Meu povo tinha posses e eram tomadas. Tinham ouro, mas nos negavam vender comida. Quem era reconhecido pelos mais "fervorosos" apanhavam até a morte. Em 1242, na França, minha família, meu pai, mãe e irmãos mais velhos foram queimados em uma sinagoga junto com outras pessoas em uma fogueira com 24 carroças da nossa verdadeira escritura a qual era chamada de heresia.
Muitas crianças foram poupadas. Eu estava entre elas. Com 12 anos sabia ler, escrever e havia sido iniciado nos mistérios da Kabalah, mas isso não poderia ser descoberto. Fui a força estudar com os "batina preta". Terminei de crescer ali sabendo que tudo era uma grande mentira, me era ensinado como pregar essa mentira aos outros. Pra não morrer, tinha que aceitar o "Nazareno" como meu "Senhor" e fazer de conta que tinha esquecido tudo que aprendi no passado. Enquanto isso priorizava a leitura dos livros verdadeiros, a fonte da sabedoria e da força do meu povo, mas não era a mesma coisa, assim como não é até hoje.
Assim que tive tamanho e idade pra me virar sozinho abandonei aquela vida de falsidade. As perseguições continuavam, meu povo continuava a ser perseguido e chamado de herege. Entrei para uma ordem de outros iguais e escondidos continuamos estudando a Kabalah e praticando a Arte. Eu usava isso para que o ódio não fosse mais forte que minha vontade de viver e de ser mais podrosos do que aqueles que me perseguiram.
Foi aí que começaram minhas falhas. Eu estava tão cego de ódio que pra ser poderoso não dividia com ninguém, vi muitos irmãos passando pelo mesmo que eu e nunca dei uma ajuda. Se revelasse quem eu era eu morreria também. Pensava que assim viveria para sempre, pois tinha em minhas mãos a fonte da sabedoria eterna e a chave que era revelada apenas a uns poucos.
Tive mais bens que meus olhos poderiam ver, mas não me contentava. Queria sempre mais. Meu ódio me levou ao lado negro da magia. Até mesmo a Arte Sagrada era usada para benefício próprio. Por vezes sacrifiquei pessoas e crianças em nome do meu poder.
A conta veio. O inevitável aconteceu. Quando me dei por conta já não fazia mais parte do mundo dos vivos. Não sei dizer como aconteceu. Quando percebi já havia passado muito tempo. Estava fraco e precisava de forças. Sabia como conseguir me fortalecer, como falamos por aqui, fui o pior kiumba que eu mesmo já conheci. Sugava minhas vítimas até elas não resistirem mais. Depois as tornava minhas escravas. O medo que eu impunhava em suas mentes era tão grande que perdiam a noção de que eram livres. Passei a prestar "favores" usando essas pobres almas pedindo em troca fonte de vida pra mim (o fluído vital encontrado no sangue). Muitas vítimas eram crianças. Com a vantagem de ser um energia mais pura, sem outros obcessores para dividir. Quem oferecia esses sacrifícios eram muitas vezes mulheres da vida depois que descobriam que beleza não é eterna e que existe uma hora pra tudo acabar. Algumas sacrificavam seus próprios rebentos em troca de um homem com um pouco mais de dinheiro que pudesse garantir uma vida de conforto.
Mas aprendam comigo. Não há nada que sempre dure! Quando se iniciou a caça as bruxas a alegria delas terminou. Eu deixei de ter minha fonte de forças e acabei sendo mandado para o pior lugar do plano espiritual que alguém que viveu na terra pode ser condenado o qual a maioria chama de inferno.
Sofri muito, mas não pagando pelo o que fiz. Sofri por não ter liberdade. Sofri por não poder dar o troco. Sofri por orgulho. Sofri por não poder fazer mais. Até que de joelhos diante da Força Suprema que me mantinha lá, reconheci que Deus é mais forte que eu. Reconheci que se estava lá era porque eu merecia e aí sim começei pagar pelos meus erros. Na Lei Divina ou Lei Universal, você só paga pelos erros que se arrepende. Sofrimento sem arrependimento não é pena, é tolice de quem sofre. Se você age contra a Lei você simplesmente sofre, a pena vem depois, com arrependimento, consciência e resignação.
Foi isso que fiz. Passei a tentar amenizar os erros que fiz. Permaneci lá por um tempo igual ao que eu fiz sofrer. Ajudei quem chegava na mesma situação, mas esse "ajudar" é tornar o sofrimento dos que chegam ainda pior a ponto deles, em tempo menor que o meu, perguntarem a Deus o que fizeram pra merecer tanto. É fazendo sofrer a mãe que aborta um filho ou o sacrifica em troca de uma vida que pensa ser melhor, tanto quanto sofreu a criança até que ela perceba a gravidade daquilo que cometeu. Minha pena também teve ligação com os erros que me levaram a ela.
O tempo passou, meu tempo lá se acabou. Quando pude sair olhei para aqueles aos quais eu havia me afeiçoado, ao trabalho que ainda havia de ser feito e percebi que ninguém queria aquela função e por minha livre escolha pedi pra ficar. De tempo em tempo venho até o plano de vocês tentar evitar outros a irem pra lá, as vezes para levar espíritos obsessores que caíram no mesmo erro que eu, assim como venho em muitas seções de Umbanda. Me nego a trabalhar na Kimbanda. Me nego pactuar com kiumba. É na Umbanda que vejo a a necessidade de ajudar, a oportunidade de ensinar e só nela encontro médiuns com espíritos desenvolvidos e comprometidos com a prática do bem.
Fonte: zepilintraograndemestre.blogspot.com.br