quarta-feira, 7 de março de 2018

CIGANO BALTAZAR



Pelos meados do século XIX, viveu um Cigano de nome Baltazar, sétimo filho de um grupo de 10 irmãos, sendo 6 homens e 4 mulheres.

Após seu irmão primogênito abandonar o clã cigano por ter se apaixonado por uma mulher na qual conhecera em uma das vilas em que os Ciganos de sua tribo acampavam, e sendo esse irmão primogênito o que seria o herdeiro do comando e poderio sobre o clã no qual viviam, após a morte do pai.

Contudo, com o abandono desse irmão ao seu povo, foi determinado que Baltazar seria o próximo chefe e responsável pelo clã.

E a partir dai, ele foi preparado, como deveria. Passou a acompanhar os mais velhos do clã, foi lhe colocado o dom dos negócios, o valor do ouro, as magias ciganas, o como manter viva as tradições de seu povo cigano.

Ele aprendia tudo com muito louvor e entusiasmo, pois não tem honra maior a um cigano que ser responsável pelo seu povo, tomar decisões, manter unido seu povo.

Baltazar tinha uma grande paixão por armas brancas, tinha várias delas, entre punhais cravejado de diamantes e lâminas feitas em ouro, todas muito bem cuidadas e armazenadas na barraca na qual Baltazar residia.

Baltazar: Significa rei protegido pelo deus Baal e indica uma pessoa introvertida e até um pouco desconfiada, mas que nunca nega colaboração aqueles que recorrem a ele. Os amigos o admiram e o respeitam muito. O nome vem do Hebraico "Que o deus Baal proteja o rei".

E era assim mesmo o nosso Cigano Baltazar, introvertido, desconfiado e de coração grandioso. 

Baltazar não só gosta de punhais e espadas como em vida forjava estas armas com metais como: cobre, latão, ouro e prata.

Ele era descendente de tribos do deserto e andou pela Namíbia, Turquia, Marrocos, Egito, Arábia. E em todos os lugares encantava a todos com suas melodias sublimes que saíam de seu violino negro, que o acompanhava em todos os momentos, principalmente nos momentos de solidão e silencio que ele tanto apreciava.

Mas quando em meio de seu povo, nos festejos variados, a noite sobre a luz da Lua cheia, Baltazar tocava belas canções, alegrando e fazendo dançar todo seu povo.

Ao completar 19 anos, foi determinado a Baltazar que ele precisaria de uma esposa, e essa esposa já tinha sido escolhida pelo seu pai, e acertado com o pai da jovem.

Como os ciganos tem a tradição de somente conhecerem a jovem desposada no dia do casamento, assim foi feito com Baltazar. Após ele fazer jus dessa honra, teve que então pagar o dote ao pai da jovem noiva, que por tradição seria 25 moedas de ouro. Contudo, o pai dessa jovem cigana, usando de má fé, já tinha acertado também o recebimento do dote e a entrega de sua filha para ser desposada por outro jovem cigano de outro clã.

Os boatos correram rapidamente por entre os acampamentos ciganos, e foi quando que o pai de Baltazar foi ao encontro do pai da jovem para uma satisfação, pois a palavra dada dentre os ciganos tem que ser palavra cumprida.

Ao chegarem ao acampamento do pai da futura noiva, Baltazar finalmente consegue olhar para a face de sua pretendida, era uma linda jovem no auge de seus 15 anos, de nome Nadja, que por entre olhares e pequenos sorrisos tímidos ficou demonstrado que ali estava nascendo um grande amor entre ambos.

Mas no acampamento também estava o outro jovem, um pouco mais velho que Baltazar, que estaria ali com seu pai com o mesmo objetivo, buscar a linda Nadja para desposar.

Após alguns debates um tanto acalorados, o cigano um tanto espertalhão, pai de Nadja, promete devolver um dos dotes, mas para isso os dois rapazes deveriam duelar até a morte ou a desistência de um deles.

E assim foi feito, mesmo a contra gosto do Cigano Baltazar, pois ele era um grande lutador da paz.

O duelo começa sobre os olhares atentos dos pais dos rapazes, e de todo povo cigano dessa região.

Duelavam com punhais nas mãos, e em dado momento o jovem rival de Baltazar consegue um ataque certeiro, ferindo um dos braços do jovem cigano.
Ele cai, e sem piedade o outro jovem tenta cravar o punhal em seu coração, que por meio de gritos do povo e lágrimas da linda Nadja, consegue se desviar, dando-lhe um contra golpe, fazendo o outro jovem ir ao chão, e como um felino em ataque, leva o punhal a garganta do cigano.

Todos gritam para que Baltazar termine o ataque, que mate seu oponente, que não tenha pena nem piedade. Mas olhando o rosto de Nadja, Baltazar diz que um amor não poderá se firmar se começar com a perda de uma vida. E assim deixou o seu rival vivo, e disse que mesmo já amando a bela Cigana Nadja, não poderia ceifar a vida de um semelhante em prol de seu amor e de sua felicidade.

Ao ouvirem essas palavras, os pais dos jovens ciganos que duelavam, entenderam que Baltazar tinha toda razão, se abraçaram como amigos, e ficou decidido que Baltazar deveria desposar a jovem Nadja, e que o pai da jovem não deveria receber nenhum dote em favor disso.

E assim foi feito, Baltazar casa-se com Nadja, e após alguns anos ele se torna o grande chefe de todo seu clã, que aumentou consideravelmente, pois tempos depois, após o desencarne do pai de Nadja, ele se torna o chefe desse clã também, pois Nadja tinha apenas irmãs, e sem um homem para conduzir o clã, ficou na responsabilidade do Cigano Baltazar.

Baltazar foi pai de 4 filhos sendo duas meninas e dois meninos, e a eles ensinara muitas coisas, desde a música sagrada entre os Ciganos até as magias guardadas a sete chaves. E dentre esses ensinamentos, Baltazar ensinara a sua prole a caridade entre os semelhantes, o valor da vida, do amor e da paz.

Quando seu filho primogênito completou 14 anos de idade, Baltazar teve a trágica perda de sua amada e doce esposa Nadja, que fora picada por uma serpente venenosa, quando dormia em um acampamento em Marrocos.

Ele desesperado pela perda de sua amada, passou o comando a seu filho primogênito, abandonando o acampamento e o clã.

A partir daí, Baltazar se perdeu pelos caminhos de grandes desertos, andando sem destino apenas com sua dor amarga de uma perda irreparável, com o pensamento perdido, com o coração esmagado pela saudade de sua doce Nadja.

Ficou assim por muitos meses, até que em certo momento desiste de sua fuga do destino, se fixando em um local com muito verde, e um pequeno lago de águas brilhantes.

Nesse local Baltazar passou o resto de vida que lhe restava, com seu violino a tocar melodias com referência ao seu amor perdido e sua melancolia e dor da saudade de sua amada Nadja.

E assim ele ficou até que em dado momento cerram seus olhos, ainda com lágrimas de tristeza, deixando sua vida se ceifar e sua alma cigana se partir rumo aos braços de sua amada.

Dentro dos trabalhos de Ciganos do Oriente, nos terreiros de Umbanda, Baltazar se apresenta com um sorriso largo, talvez por ter reencontrado a sua amada Nadja. Ele traz sempre palavras gentis, conselhos para fortalecimento de almas desesperadas, assim como ele mesmo já ficou, traz a magia cigana para bons negócios, saúde física e espiritual entre tantas outras formas de ajuda.

Trabalha com o elemento fogo, usa camisa dourada como a cor do ouro, pode usar uma túnica preta também, pode usar uma faixa vermelha ou branca na cintura, como todos os ciganos dançarinos e músicos gostavam de usar. Usava também um lenço negro ou vermelho sobre a cabeça, como uma "bandana", que as vezes na amarração deixava a amostra os cabelos negros, que por vez o amarrava como um rabo de cavalo, pois os tinham longos na altura dos ombros.

Baltazar tem a pele morena (como a dos árabes e mouros), tem um magnetismo impressionante no olhar. Através do olhar dentro do olhar ele pode lhe dizer muitas coisas, e saber muito sobre suas reais intenções.

Ele não lê cartas, e sim, faz leitura com superfícies em pedras, como a hematita, a pedra do sangue e a obsidiana negra. Gosta de vinho tinto, bebidas a base de raízes, de anis, e também de café. Quando criança aprendeu com a mãe a leitura da borra de café, mas, segundo ele mesmo diz, o fazia em escondido, pois, isso era tido como coisas de mulheres. Com o passar do tempo, pelos lugares por onde passou aprendeu as artes mágicas de cada um deles.

É um Cigano que protege e cuida do espaço onde estiver, do ambiente sagrado e dos Gongares ciganos.

Fonte: umbandayorima.blogspot.com.br