Relato de um filho sobre a doutrina proferida por Exu Marabô:
"Confesso que estava ansioso e aflito, pois trabalho com o amigo Marabô há vários anos e não sabia o que este iria falar, afinal em nossas aulas após o conteúdo didático permitimos que se manifestem nossos instrutores espirituais para eventuais explicações de apoio.
Como obrigação de todo bom Umbandista, dirigi-me ao Conga para elevar os pensamentos ao Pai Maior e receber a devida autorização de apoio deste nosso grande amigo.
Marabô então assumiu o controle. Pegou seu chapéu, sua vestimenta, tábua de pontos, pembas, olhou para a imagem de Cristo e todo o altar, solicitou as bênçãos de Olorum, saudou todos os presentes, sentou-se em um toco e com muita paciência colocou uma tábua em seu colo e com uma pemba branca desenhou um círculo.
Todos os presentes ficaram observando o que acontecia em profundo silencio. Marabô então fez a seguinte indagação: "Vocês já viram Deus Pai? Sabem quem ele é?" E a resposta que obteve para este questionamento foi um pouco incompleta e vaga, do tipo: "Não vi Deus, acho que sei quem ele é, algumas vezes o sinto presente". Diante das respostas encontradas ele começou a discorrer o seguinte: "Jamais vi Deus Pai, todavia trago-o junto de meu ser todos os momentos de minha existência, tenho verdadeira fé e crença em sua plenitude. Este círculo desenhado representa “ele”, não tem início, nem fim, é um todo universal, se vivencia tanto interna como externamente. Não precisamos ver Deus, a fé maior está nos que acreditam sem precisar ver ou tocar. É preciso sentir e acreditar com o coração e ter sempre a certeza de que somos frutos dele".
Suas palavras eram simples e demonstravam profunda sabedoria. Com sua costumeira calma desenhou então, ainda com a pemba branca, uma estrela de seis pontas dentro do círculo e dissertou o seguinte: "Como a estrela de seis pontas é desenhada com um triangulo voltado para cima e outro para baixo, pode-se observar que em todas as extremidades forma-se um novo e pequeno triangulo".
Foi então que, dentro destes pequenos triângulos “ele” começou a traçar novos desenhos. No pequeno triangulo superior da estrela de seis pontas, ainda com a pemba branca, desenhou uma cruz símbolo máximo de Oxalá). Em seguida com uma pemba azul, no pequeno triangulo formado do lado direito desenhou ondas, no triangulo esquerdo superior, um coração, na pequena estrela formada na parte inferior direita desenhou com uma pemba verde uma flecha, na extremidade inferior esquerda com uma pemba vermelha fez o símbolo de uma espada e na extremidade inferior, com uma pemba marrom, desenhou um machado. O espaço interno da estrela maior, “ele” desenhou, com uma pemba branca, uma escadaria com uma cruz ao alto.
Quando terminou esta etapa de desenhos, virou a tábua para todos e discorreu o seguinte: "No ápice, onde coloquei o desenho da cruz, encontraremos o Reino de Oxalá ou da Fé, onde está assentado o primeiro filho e Maior Orixá gerado por Deus. Este reino tem como escopo maior difundir a existência de um único Deus gerador e Pai que tudo governa, ama e irradia. Só o Grande Orixá Oxalá é que consegue reger com maestria este assunto e reino. No vértice direito superior coloquei a segunda criação de Olorum, a fonte geradora e grande mãe, cujo Orixá Maior é Yemajá, representada por muitos pelas Mães Marias (Nossa Senhora). É a mãe de todos e fonte necessária para dar continuidade nas Criações de Deus Pai. Na outra extremidade superior esquerda, desenhei um coração que representa o Orixá Maior Oxum encarregado de difundir o amor maior do Pai aos seus filhos. Necessitando que toda a sua futura criação compreendesse seus desígnios Deus então criou o Reino do Conhecimento através do Orixá Maior Oxóssi, representado na extremidade inferior direita da estrela. Zambi tinha então a Fé, a geração, o amor, o conhecimento, mas faltava ainda as Leis Maiores, ordenamento para toda criação. Fez-se então o orixá da Lei Ogum, encarregado de fazer cumprir suas Leis Divinas. Todavia, faltava ainda criar a Justiça para que a fé, geração, amor, conhecimento e leis tivessem todo embasamento justo e correto no transcorrer de toda a formação. Este reino fica representado neste último vértice da estrela e tem como Orixá Maior Xangô, Orixá Maior da Justiça. Então, no centro da estrela “ele” desenhou uma escadaria com uma cruz no alto e disse que ali se encontrava a sétima grande criação – Obaluaiê, pai da evolução criacionista, grande Orixá divino encarregado desta missão, pois a verdadeira evolução só se dá quando estiver impregnada de toda energia maior de Deus e dos Grandes Orixás Maiores".
Todos os presentes se encontravam atentos às explicações e curiosos com o que era por Marabô desenhado e falado. Retornou a tábua em seu colo e nos espaços vazios que ficaram, entre o círculo e a estrela, desenhou tridentes, total de seis, explicando que ali estava Exú, criação divina e Orixá Maior, irmão dos demais, criado para formar uma portentosa força de defesa e auxílio. Explicou-nos ainda, que para cada um desses Orixás Maiores existe um seu par vibratório de sustentação, inclusive na linha dos Guardiões. Também explicou que existem muitos outros orixás que vieram a surgir durante as infinitas criações do universo de Deus e discorreu que a criação continuou de dentro para fora, reafirmando assim a infinitude do Pai Maior que ainda é muito pouco conhecido e/ou estudados pelos homens de hoje. Disse-nos que existem mais de 600 outros orixás, encarregados de auxiliar nas infinitas criações divinas e que é nosso dever saber os principais sete com seus pares vibratórios.
Foram momentos de muita reflexão para todos e as explicações eram compostas de uma simplicidade impressionante. Marabô então afirmou que Orixá é único em seu reino, não incorporam, não têm formas definidas como a dos homens: "As 'entidades' que trabalham nos centros, igrejas, templos ou qualquer outro meio religiosos são ex-encarnados que se voltam a servir determinada linha por afinidade e amor ao Pai Maior. Novamente afirmou com toda segurança que não existe incorporação de Orixá. É necessário acabar com este falso mito e começar a estudar e compreender o “todo” com mais propriedade. Admite-se que alguns professem conhecimentos diferentes, mas estes precisam aprender no seu tempo certo, pois existem homens vivendo o agora com visões do ontem, esquecem que já estamos vivendo o hoje com vistas para o amanhã. Criam uma parafernália de falsas idéias e ilusões. Sabemos que isso também faz parte da evolução, então, ajudamos no que podemos e muito ponderamos em função da vaidade dos homens.
Para aqueles que realmente buscam a verdade estudam, se dedicam e se aprimoram, falamos com alegria e emoção e incentivamos cada vez mais o progresso".
É preciso refletir muito sobre o que estava sendo dito, pois muitos dogmas acabam sendo derrubados e abrem-se novos campos de pesquisa e muito estudo.
Nosso querido amigo Marabô resolveu então falar de suas peregrinações e discorreu o seguinte: "Não consigo ainda precisar o início de minha vida, pois assim como muitos de vocês, passei por fases evolutivas onde a consciência ainda era nebulosa, mas posso lhes dizer que não haviam continentes divididos, tudo era quase que um único e imenso universo de terra ou água neste planeta. A divisão das raças humana somente aconteceu depois de muitos milhares de anos. No início, os homens que começavam a se conhecerem e a ter noção do seu ser, tinham uma só cor, muito pouco ou quase nada ainda conheciam e pouco se comunicavam. Somente quando mudanças bruscas aconteceram, é que houve diversas fusões de terras onde continentes se separaram pela formação dos oceanos e mudanças profundas surgiram. Novas adaptações ocorreram e os homens ampliaram seu processo de conscientização coletiva com a troca de informações e ações diferenciadas para a sobrevivência. Em virtude das diferenças de temperatura, de formações vegetativas e todo um complexo sistema é que mudanças nas colorações das peles, olhos, alturas se fizeram presentes nos continentes. Formaram-se grupos de pretos, brancos, amarelos e vermelhos vivendo em um mesmo planeta e implantando diferentes culturas nos seus diferentes solos. Este início de formação do que é hoje, eu me lembro e posso falar com propriedade e certamente a ciência encontrará todas as respostas. Nessa época de mudanças e adaptações éramos todos voltados à conquista e descoberta e quando sistemas diferentes se defrontavam muita coisa “errada” era feita, pois dominava o ser conquistador do homem e assim eu também fui. Vamos passar um pouco mais adiante na história, quando o enviado direto de Deus, representante de Oxalá se fez presente neste planeta terra. Neste período “eu” era da guarda Romana. Afirmo para vocês, que não somente vi nosso senhor Jesus Cristo como também nada fiz por ajudá-lo e não vou dar desculpas de que estava envolto nas Leis do Império, afinal de contas, sempre tivemos a liberdade de escolha intrínseca em nosso ser".
Neste momento era nítidos a voz embaraçada e um sentimento de quase choro por eclodir de nosso narrador.
"Não quero chorar, mas tenho ciência de que naquela época, cego pelo desejo das paixões e conquistas, sequer ajudei o nazareno a carregar sua cruz, presenciei as chibatadas que foram desferidas contra sua pele e todo tipo de violência executada na sua pessoa. Cheguei até mesmo a dar muita risada com os companheiros da época pelo que acontecia com o cordeiro. Não sei explicar o que me aconteceu após sua morte na cruz, mas uma espécie de tristeza começou a inundar meu ser e acabei envelhecendo neste reino de desordens. Lembro-me que certo dia um velho senhor veio ao meu encontro e chamou-me atenção sobre mudanças próximas, que deveria me preparar. Acabei falecendo pouco depois do encontro com este sábio senhor e quando me deparei do outro “lado” não senti nenhuma dor, me encontrei sozinho, perdido, perambulando com meus pensamentos. Vez ou outra encontrava uma alma em sentido contrário ao meu caminhar com a mesma fisionomia e completamente perdido também. Não sei quanto tempo assim eu caminhei. Não seis se foram anos ou décadas. Só sei que sentia a necessidade interna de mudar meu ser, encontrar mais sentido nas coisas e em tudo. Quando assim comecei a firmar meus passos, um senhor veio ao meu encontro, acho que era o mesmo que rapidamente havia conversado comigo outrora, pois hoje o vejo como o meu grande amigo e mestre, Pai Velho de Aruanda. Este me convocou para um novo desafio e tão logo assim falou me peguei reencarnado no continente Africano, em uma tribo de guerreiros e junto com um pajé que tudo me ensinava. Ele me mostrou um Deus simples e justo, me mostrou formas diferentes de reverenciá-lo, ensinou-me sobre oferendas simples e importantes para agradecer a comida, a caça, à família e toda e qualquer conquista realizada. Tratei nesta vida de aprender tudo e com a morte de meu instrutor, o velho pajé, acabei ficando em seu lugar, que era de muito destaque e poder na tribo. Confesso que ao assumir este lugar de honra, uma onda de poder me subiu à cabeça e comecei a cometer erros, pois me senti poderoso e queria dominar outras tribos com guerras e desejos de vingança. Fiz guerras, matei e fui morto. Quando me deparei novamente no outro lado, sem dor, sem medo e sozinho, ouvi a velha voz sábia a sorrir e pude perceber a presença do meu velho amigo que me cobrou os erros cometidos e me incentivou a recomeçar pelo processo de reencarnação. Nesta conversa, muita vergonha inundou meu ser, um sentimento de culpa em virtude de relembrar da minha proposta de mudanças afundada na sede do poder. Talvez, por serem verdadeiros meus sentimentos pós-morte, fui imediatamente reconduzido para o encarne, só que desta vez, para uma terra fria, gelada, lá pelos lados da Finlândia, em uma tribo habitante daquele lugar. Era um garoto alegre e extrovertido, incrivelmente habilidoso com as questões espirituais e de Deus. Chamavam-Me de feiticeiro, bruxo, profeta, pastor, e apelidaram-me ou nominaram-me Marabô. Conhecia muito sobre a natureza, como trabalhar com ela e para ela. Tudo o que acontecia de errado era convocado para concertar ou acalmar. Surgiram lendas sobre minha pessoa e vida desta época e até mesmo com os animais eu tinha certo poder de acalmá-los. É meus amigos muitas histórias inventaram graças às minhas habilidades e meu grande tamanho físico".
Muitas gargalhadas Marabô deu nesse momento.
"Quando passei para o outro lado, fui convidado por seres de muita luz e sabedoria para trabalhar com o Grande e Único Orixá Exú. Conheci outros obreiros como o Exú Maioral e aprendi algumas coisas importantes. Fui abençoado por sentir meu ser inundado pela presença do grande Orixá Exú e principalmente pela intensidade a me dominar do único e verdadeiro Deus Pai. Sou tranqüilo e apto para realizar os serviços necessários, conheço a verdadeira irmandade existente entre todos os Orixás e seus seguidores e firmo-me como um obreiro do Orixá Maior Exú. Amo muito este lado, tenho muitos amigos e seguidores e formo infinitas alianças para lutar pelo bem maior do Pai Maior. Nesta vida espiritual tenho muitos irmãos e amigos e sou muito unido também na linha dos verdadeiros ciganos da Umbanda. Tenho meu exército de seguidores e luto para que as divinas Leis do Pai Maior sejam executadas. Não é uma vida fácil, mas onde posso ajudar vou com meu exército ao socorro e estou sempre aprendendo. Agora vou lhes contar outra verdade de minha vida, algo para que possam ter conhecimento e entendimentos dos Exus Guardiões da Umbanda: - Muitos anos se passaram e tive que voltar a reencarnar lá pelos anos de 1.700 DC. Reencarnei a convite de “Zambi” neste abençoado solo brasileiro, em tribo indígena do alto Xingu, fui um grande sacerdote e amante destas benditas terras, não vim para corrigir falhas, mas porque, quando trabalhamos muito nas baixas esferas, nosso corpo espiritual sofre e se desgasta muito e devemos nos recompor. É certo que temos nossas fontes de recarga no mundo espiritual, temos o mar, a mata, a casa de nossos amigos trabalhadores dos Orixás e nossos próprios locais ou como chamamos: “reinos”. Mas a reencarnação é salutar e nos rejuvenesce muito rápido e mais forte, pois energia vital também é elixir para uma alma de trabalho incansável. Saibam que muitos exus que hoje se encontram trabalhando nos terreiros e searas do pai necessitam reencarnar. O problema é que muitos acham que vão perder sua sabedoria, suas descobertas e avanços, o que é mentira pura, pois ninguém perde o que de melhor conquista e isso eu posso falar sem medo, pois quando voltei para a espiritualidade, não só retomei todo meu trabalho e conhecimento, como me renovei e me tornei muito mais forte e pronto para trabalhar por mais uns cinco mil anos, sem medo de errar e ajudando sempre meus outros irmãos em suas andanças, tentando sempre a renovação dos espíritos decaídos. Constantes lutas contra o mal são travadas e os que não conseguem se reajustar são transferidos para outros mundos, outras civilizações para que tenham a chance de recomeçar seu ciclos evolutivos, por serem também filhos do Pai Maior. Este sou eu, assim como Exú Sete Encruzilhada, Tranca Rua das Almas, Tiriri, Veludo, Meia Noite e tantos outros são o que são. Muitos usam nomes em concordância com a forma de trabalho e só são Guardiões quando trabalham em concordância com as verdadeiras Leis de Deus. Exú verdadeiro não tem medo, não é covarde e tudo o que falei, é minha história, ou um pouco dela. Muitos centros nem deveriam levantar a bandeira dos exus. Zélio de Morais, há mais de cem anos passados já dizia pela sua forma de entendimento, que era perigoso. E verificamos que ainda hoje existem alguns centros que na verdade trabalham ou operam com os “Kiumbas”, espíritos desvirtuados e verdadeiros marginais, falsificadores, monstros do espaço que imitam trejeitos dos Guardiões para ludibriarem os praticantes e toda a sua assistência conseguindo operar falsos milagres. O verdadeiro Exú (Guardião) de Umbanda não pede nada em troca, faz tudo por amor ao Pai Maior. Se usar bebida e fumo é para combater o mal. Também é um grande obreiro dos Orixás que zela pela natureza. Quando raramente necessita de sangue para algum trabalho mais pesado, não mata nenhum animal. Fura o dedo do aparelho com uma agulha esterilizada e retira gotas do que precisa, sendo este um dos últimos recursos, pois a natureza quase tudo provê. Por isso, falo alto e em bom tom que não concordo com o que muitos fazem em outros locais, apenas suporto o que muito ainda vivencio devido ao seu grau evolutivo e infelizmente sei que muitos vão aprender pela dor de suas consciências. Não me preocupo com riqueza e poder e farei tudo por aqueles que fazem por merecer. Jamais deixei de trabalhar a favor de quem me pede com amor ao Pai Maior e sempre estarei ao lado dos que vestem a bandeira de Deus Pai!".
Nosso amigo respondeu várias questões levantadas com muita sabedoria e ciente de sua investidura, teve a presença de seu amigo Tranca Rua a cuidar para que durante o diálogo nada viesse a interferir e ao final da palestra fizeram a confraternização com todos os seus grandes amigos Guardiões da Umbanda."
"Confesso que estava ansioso e aflito, pois trabalho com o amigo Marabô há vários anos e não sabia o que este iria falar, afinal em nossas aulas após o conteúdo didático permitimos que se manifestem nossos instrutores espirituais para eventuais explicações de apoio.
Como obrigação de todo bom Umbandista, dirigi-me ao Conga para elevar os pensamentos ao Pai Maior e receber a devida autorização de apoio deste nosso grande amigo.
Marabô então assumiu o controle. Pegou seu chapéu, sua vestimenta, tábua de pontos, pembas, olhou para a imagem de Cristo e todo o altar, solicitou as bênçãos de Olorum, saudou todos os presentes, sentou-se em um toco e com muita paciência colocou uma tábua em seu colo e com uma pemba branca desenhou um círculo.
Todos os presentes ficaram observando o que acontecia em profundo silencio. Marabô então fez a seguinte indagação: "Vocês já viram Deus Pai? Sabem quem ele é?" E a resposta que obteve para este questionamento foi um pouco incompleta e vaga, do tipo: "Não vi Deus, acho que sei quem ele é, algumas vezes o sinto presente". Diante das respostas encontradas ele começou a discorrer o seguinte: "Jamais vi Deus Pai, todavia trago-o junto de meu ser todos os momentos de minha existência, tenho verdadeira fé e crença em sua plenitude. Este círculo desenhado representa “ele”, não tem início, nem fim, é um todo universal, se vivencia tanto interna como externamente. Não precisamos ver Deus, a fé maior está nos que acreditam sem precisar ver ou tocar. É preciso sentir e acreditar com o coração e ter sempre a certeza de que somos frutos dele".
Suas palavras eram simples e demonstravam profunda sabedoria. Com sua costumeira calma desenhou então, ainda com a pemba branca, uma estrela de seis pontas dentro do círculo e dissertou o seguinte: "Como a estrela de seis pontas é desenhada com um triangulo voltado para cima e outro para baixo, pode-se observar que em todas as extremidades forma-se um novo e pequeno triangulo".
Foi então que, dentro destes pequenos triângulos “ele” começou a traçar novos desenhos. No pequeno triangulo superior da estrela de seis pontas, ainda com a pemba branca, desenhou uma cruz símbolo máximo de Oxalá). Em seguida com uma pemba azul, no pequeno triangulo formado do lado direito desenhou ondas, no triangulo esquerdo superior, um coração, na pequena estrela formada na parte inferior direita desenhou com uma pemba verde uma flecha, na extremidade inferior esquerda com uma pemba vermelha fez o símbolo de uma espada e na extremidade inferior, com uma pemba marrom, desenhou um machado. O espaço interno da estrela maior, “ele” desenhou, com uma pemba branca, uma escadaria com uma cruz ao alto.
Quando terminou esta etapa de desenhos, virou a tábua para todos e discorreu o seguinte: "No ápice, onde coloquei o desenho da cruz, encontraremos o Reino de Oxalá ou da Fé, onde está assentado o primeiro filho e Maior Orixá gerado por Deus. Este reino tem como escopo maior difundir a existência de um único Deus gerador e Pai que tudo governa, ama e irradia. Só o Grande Orixá Oxalá é que consegue reger com maestria este assunto e reino. No vértice direito superior coloquei a segunda criação de Olorum, a fonte geradora e grande mãe, cujo Orixá Maior é Yemajá, representada por muitos pelas Mães Marias (Nossa Senhora). É a mãe de todos e fonte necessária para dar continuidade nas Criações de Deus Pai. Na outra extremidade superior esquerda, desenhei um coração que representa o Orixá Maior Oxum encarregado de difundir o amor maior do Pai aos seus filhos. Necessitando que toda a sua futura criação compreendesse seus desígnios Deus então criou o Reino do Conhecimento através do Orixá Maior Oxóssi, representado na extremidade inferior direita da estrela. Zambi tinha então a Fé, a geração, o amor, o conhecimento, mas faltava ainda as Leis Maiores, ordenamento para toda criação. Fez-se então o orixá da Lei Ogum, encarregado de fazer cumprir suas Leis Divinas. Todavia, faltava ainda criar a Justiça para que a fé, geração, amor, conhecimento e leis tivessem todo embasamento justo e correto no transcorrer de toda a formação. Este reino fica representado neste último vértice da estrela e tem como Orixá Maior Xangô, Orixá Maior da Justiça. Então, no centro da estrela “ele” desenhou uma escadaria com uma cruz no alto e disse que ali se encontrava a sétima grande criação – Obaluaiê, pai da evolução criacionista, grande Orixá divino encarregado desta missão, pois a verdadeira evolução só se dá quando estiver impregnada de toda energia maior de Deus e dos Grandes Orixás Maiores".
Todos os presentes se encontravam atentos às explicações e curiosos com o que era por Marabô desenhado e falado. Retornou a tábua em seu colo e nos espaços vazios que ficaram, entre o círculo e a estrela, desenhou tridentes, total de seis, explicando que ali estava Exú, criação divina e Orixá Maior, irmão dos demais, criado para formar uma portentosa força de defesa e auxílio. Explicou-nos ainda, que para cada um desses Orixás Maiores existe um seu par vibratório de sustentação, inclusive na linha dos Guardiões. Também explicou que existem muitos outros orixás que vieram a surgir durante as infinitas criações do universo de Deus e discorreu que a criação continuou de dentro para fora, reafirmando assim a infinitude do Pai Maior que ainda é muito pouco conhecido e/ou estudados pelos homens de hoje. Disse-nos que existem mais de 600 outros orixás, encarregados de auxiliar nas infinitas criações divinas e que é nosso dever saber os principais sete com seus pares vibratórios.
Foram momentos de muita reflexão para todos e as explicações eram compostas de uma simplicidade impressionante. Marabô então afirmou que Orixá é único em seu reino, não incorporam, não têm formas definidas como a dos homens: "As 'entidades' que trabalham nos centros, igrejas, templos ou qualquer outro meio religiosos são ex-encarnados que se voltam a servir determinada linha por afinidade e amor ao Pai Maior. Novamente afirmou com toda segurança que não existe incorporação de Orixá. É necessário acabar com este falso mito e começar a estudar e compreender o “todo” com mais propriedade. Admite-se que alguns professem conhecimentos diferentes, mas estes precisam aprender no seu tempo certo, pois existem homens vivendo o agora com visões do ontem, esquecem que já estamos vivendo o hoje com vistas para o amanhã. Criam uma parafernália de falsas idéias e ilusões. Sabemos que isso também faz parte da evolução, então, ajudamos no que podemos e muito ponderamos em função da vaidade dos homens.
Para aqueles que realmente buscam a verdade estudam, se dedicam e se aprimoram, falamos com alegria e emoção e incentivamos cada vez mais o progresso".
É preciso refletir muito sobre o que estava sendo dito, pois muitos dogmas acabam sendo derrubados e abrem-se novos campos de pesquisa e muito estudo.
Nosso querido amigo Marabô resolveu então falar de suas peregrinações e discorreu o seguinte: "Não consigo ainda precisar o início de minha vida, pois assim como muitos de vocês, passei por fases evolutivas onde a consciência ainda era nebulosa, mas posso lhes dizer que não haviam continentes divididos, tudo era quase que um único e imenso universo de terra ou água neste planeta. A divisão das raças humana somente aconteceu depois de muitos milhares de anos. No início, os homens que começavam a se conhecerem e a ter noção do seu ser, tinham uma só cor, muito pouco ou quase nada ainda conheciam e pouco se comunicavam. Somente quando mudanças bruscas aconteceram, é que houve diversas fusões de terras onde continentes se separaram pela formação dos oceanos e mudanças profundas surgiram. Novas adaptações ocorreram e os homens ampliaram seu processo de conscientização coletiva com a troca de informações e ações diferenciadas para a sobrevivência. Em virtude das diferenças de temperatura, de formações vegetativas e todo um complexo sistema é que mudanças nas colorações das peles, olhos, alturas se fizeram presentes nos continentes. Formaram-se grupos de pretos, brancos, amarelos e vermelhos vivendo em um mesmo planeta e implantando diferentes culturas nos seus diferentes solos. Este início de formação do que é hoje, eu me lembro e posso falar com propriedade e certamente a ciência encontrará todas as respostas. Nessa época de mudanças e adaptações éramos todos voltados à conquista e descoberta e quando sistemas diferentes se defrontavam muita coisa “errada” era feita, pois dominava o ser conquistador do homem e assim eu também fui. Vamos passar um pouco mais adiante na história, quando o enviado direto de Deus, representante de Oxalá se fez presente neste planeta terra. Neste período “eu” era da guarda Romana. Afirmo para vocês, que não somente vi nosso senhor Jesus Cristo como também nada fiz por ajudá-lo e não vou dar desculpas de que estava envolto nas Leis do Império, afinal de contas, sempre tivemos a liberdade de escolha intrínseca em nosso ser".
Neste momento era nítidos a voz embaraçada e um sentimento de quase choro por eclodir de nosso narrador.
"Não quero chorar, mas tenho ciência de que naquela época, cego pelo desejo das paixões e conquistas, sequer ajudei o nazareno a carregar sua cruz, presenciei as chibatadas que foram desferidas contra sua pele e todo tipo de violência executada na sua pessoa. Cheguei até mesmo a dar muita risada com os companheiros da época pelo que acontecia com o cordeiro. Não sei explicar o que me aconteceu após sua morte na cruz, mas uma espécie de tristeza começou a inundar meu ser e acabei envelhecendo neste reino de desordens. Lembro-me que certo dia um velho senhor veio ao meu encontro e chamou-me atenção sobre mudanças próximas, que deveria me preparar. Acabei falecendo pouco depois do encontro com este sábio senhor e quando me deparei do outro “lado” não senti nenhuma dor, me encontrei sozinho, perdido, perambulando com meus pensamentos. Vez ou outra encontrava uma alma em sentido contrário ao meu caminhar com a mesma fisionomia e completamente perdido também. Não sei quanto tempo assim eu caminhei. Não seis se foram anos ou décadas. Só sei que sentia a necessidade interna de mudar meu ser, encontrar mais sentido nas coisas e em tudo. Quando assim comecei a firmar meus passos, um senhor veio ao meu encontro, acho que era o mesmo que rapidamente havia conversado comigo outrora, pois hoje o vejo como o meu grande amigo e mestre, Pai Velho de Aruanda. Este me convocou para um novo desafio e tão logo assim falou me peguei reencarnado no continente Africano, em uma tribo de guerreiros e junto com um pajé que tudo me ensinava. Ele me mostrou um Deus simples e justo, me mostrou formas diferentes de reverenciá-lo, ensinou-me sobre oferendas simples e importantes para agradecer a comida, a caça, à família e toda e qualquer conquista realizada. Tratei nesta vida de aprender tudo e com a morte de meu instrutor, o velho pajé, acabei ficando em seu lugar, que era de muito destaque e poder na tribo. Confesso que ao assumir este lugar de honra, uma onda de poder me subiu à cabeça e comecei a cometer erros, pois me senti poderoso e queria dominar outras tribos com guerras e desejos de vingança. Fiz guerras, matei e fui morto. Quando me deparei novamente no outro lado, sem dor, sem medo e sozinho, ouvi a velha voz sábia a sorrir e pude perceber a presença do meu velho amigo que me cobrou os erros cometidos e me incentivou a recomeçar pelo processo de reencarnação. Nesta conversa, muita vergonha inundou meu ser, um sentimento de culpa em virtude de relembrar da minha proposta de mudanças afundada na sede do poder. Talvez, por serem verdadeiros meus sentimentos pós-morte, fui imediatamente reconduzido para o encarne, só que desta vez, para uma terra fria, gelada, lá pelos lados da Finlândia, em uma tribo habitante daquele lugar. Era um garoto alegre e extrovertido, incrivelmente habilidoso com as questões espirituais e de Deus. Chamavam-Me de feiticeiro, bruxo, profeta, pastor, e apelidaram-me ou nominaram-me Marabô. Conhecia muito sobre a natureza, como trabalhar com ela e para ela. Tudo o que acontecia de errado era convocado para concertar ou acalmar. Surgiram lendas sobre minha pessoa e vida desta época e até mesmo com os animais eu tinha certo poder de acalmá-los. É meus amigos muitas histórias inventaram graças às minhas habilidades e meu grande tamanho físico".
Muitas gargalhadas Marabô deu nesse momento.
"Quando passei para o outro lado, fui convidado por seres de muita luz e sabedoria para trabalhar com o Grande e Único Orixá Exú. Conheci outros obreiros como o Exú Maioral e aprendi algumas coisas importantes. Fui abençoado por sentir meu ser inundado pela presença do grande Orixá Exú e principalmente pela intensidade a me dominar do único e verdadeiro Deus Pai. Sou tranqüilo e apto para realizar os serviços necessários, conheço a verdadeira irmandade existente entre todos os Orixás e seus seguidores e firmo-me como um obreiro do Orixá Maior Exú. Amo muito este lado, tenho muitos amigos e seguidores e formo infinitas alianças para lutar pelo bem maior do Pai Maior. Nesta vida espiritual tenho muitos irmãos e amigos e sou muito unido também na linha dos verdadeiros ciganos da Umbanda. Tenho meu exército de seguidores e luto para que as divinas Leis do Pai Maior sejam executadas. Não é uma vida fácil, mas onde posso ajudar vou com meu exército ao socorro e estou sempre aprendendo. Agora vou lhes contar outra verdade de minha vida, algo para que possam ter conhecimento e entendimentos dos Exus Guardiões da Umbanda: - Muitos anos se passaram e tive que voltar a reencarnar lá pelos anos de 1.700 DC. Reencarnei a convite de “Zambi” neste abençoado solo brasileiro, em tribo indígena do alto Xingu, fui um grande sacerdote e amante destas benditas terras, não vim para corrigir falhas, mas porque, quando trabalhamos muito nas baixas esferas, nosso corpo espiritual sofre e se desgasta muito e devemos nos recompor. É certo que temos nossas fontes de recarga no mundo espiritual, temos o mar, a mata, a casa de nossos amigos trabalhadores dos Orixás e nossos próprios locais ou como chamamos: “reinos”. Mas a reencarnação é salutar e nos rejuvenesce muito rápido e mais forte, pois energia vital também é elixir para uma alma de trabalho incansável. Saibam que muitos exus que hoje se encontram trabalhando nos terreiros e searas do pai necessitam reencarnar. O problema é que muitos acham que vão perder sua sabedoria, suas descobertas e avanços, o que é mentira pura, pois ninguém perde o que de melhor conquista e isso eu posso falar sem medo, pois quando voltei para a espiritualidade, não só retomei todo meu trabalho e conhecimento, como me renovei e me tornei muito mais forte e pronto para trabalhar por mais uns cinco mil anos, sem medo de errar e ajudando sempre meus outros irmãos em suas andanças, tentando sempre a renovação dos espíritos decaídos. Constantes lutas contra o mal são travadas e os que não conseguem se reajustar são transferidos para outros mundos, outras civilizações para que tenham a chance de recomeçar seu ciclos evolutivos, por serem também filhos do Pai Maior. Este sou eu, assim como Exú Sete Encruzilhada, Tranca Rua das Almas, Tiriri, Veludo, Meia Noite e tantos outros são o que são. Muitos usam nomes em concordância com a forma de trabalho e só são Guardiões quando trabalham em concordância com as verdadeiras Leis de Deus. Exú verdadeiro não tem medo, não é covarde e tudo o que falei, é minha história, ou um pouco dela. Muitos centros nem deveriam levantar a bandeira dos exus. Zélio de Morais, há mais de cem anos passados já dizia pela sua forma de entendimento, que era perigoso. E verificamos que ainda hoje existem alguns centros que na verdade trabalham ou operam com os “Kiumbas”, espíritos desvirtuados e verdadeiros marginais, falsificadores, monstros do espaço que imitam trejeitos dos Guardiões para ludibriarem os praticantes e toda a sua assistência conseguindo operar falsos milagres. O verdadeiro Exú (Guardião) de Umbanda não pede nada em troca, faz tudo por amor ao Pai Maior. Se usar bebida e fumo é para combater o mal. Também é um grande obreiro dos Orixás que zela pela natureza. Quando raramente necessita de sangue para algum trabalho mais pesado, não mata nenhum animal. Fura o dedo do aparelho com uma agulha esterilizada e retira gotas do que precisa, sendo este um dos últimos recursos, pois a natureza quase tudo provê. Por isso, falo alto e em bom tom que não concordo com o que muitos fazem em outros locais, apenas suporto o que muito ainda vivencio devido ao seu grau evolutivo e infelizmente sei que muitos vão aprender pela dor de suas consciências. Não me preocupo com riqueza e poder e farei tudo por aqueles que fazem por merecer. Jamais deixei de trabalhar a favor de quem me pede com amor ao Pai Maior e sempre estarei ao lado dos que vestem a bandeira de Deus Pai!".
Nosso amigo respondeu várias questões levantadas com muita sabedoria e ciente de sua investidura, teve a presença de seu amigo Tranca Rua a cuidar para que durante o diálogo nada viesse a interferir e ao final da palestra fizeram a confraternização com todos os seus grandes amigos Guardiões da Umbanda."
Claudair de Oxossi