Certo dia uma pessoa procurou ajuda de nego-velho para solucionar uns probleminhas. Compareceu na casa espírita e desfiou um rosário de lamentações à pessoa que o atendeu.
A resposta de pai velho veio logo em seguida, através do receituário mediúnico:
“Levante pela madrugada, mais ou menos às 4 horas. Colha então algumas rosas brancas no roseiral que está plantado no fundo do seu quintal e, ao fazê-lo, sinta seu aroma. A cada rosa arrancada do pé, faça uma oração pedindo a Deus que o abençoe, bem como aqueles que ama. Depois, dirija-se à cozinha, ponha água no fogo e, enquanto ferve, meu filho, procure o Evangelho e faça uma leitura, preparando assim o ambiente de sua casa para a mandinga de nego-velho. A seguir, coloque as rosas dentro da água fervendo, apague o fogo e abafe. Enquanto aguarda para que esfrie um pouco, vá tomar um banho de asseio, lavando-se todo, da cabeça aos pés. Quando estiver debaixo do chuveiro, ore e feche os olhos, reparando atentamente na água que cai em seu corpo. Enxugue-se e pegue a água de rosas, derramando-a pelo corpo. As rosas que foram cozidas devem ser jogadas em água corrente, no riacho que fica um pouco distante de sua casa. Saia com as rosas embrulhadas e vá cantando uma cantiga qualquer, daquelas que transmitem felicidade. Por fim, volte para casa e, do jeito que puder, deite-se, pois ainda não terá amanhecido o dia. Lembre-se de aproveitar as oportunidades que se fizerem presentes.”
Quando o médium viu o receituário, ficou estarrecido com nego velho. Questionou a eficácia do banho, as orações, o horário que deveriam ser feitas e a fórmula dada para aquele caso particular. Nego velho pensou um pouco e depois respondeu ao médium:
“Sabe meu filho, as rosas servem para perfumar o ambiente e o corpo do nosso companheiro. É que ele reclama que o casamento vai mal, que sua companheira está evitando-o sempre e que ela agora arranjou um trabalho noturno do qual ele está desconfiado. Mas sabe, meu filho, é que o marmanjo não gosta muito de tomar banho, e com aquele cheiro não tem mulher que agüente a situação. Conhecendo a fé do homem em nego-velho, resolvi dar um empurrão no relacionamento. Ele também não gosta muito de estudar o Evangelho nem de rezar. Porém, ajuntando tudo numa receita de pai-velho ele vai seguir à risca. Passará então a se levantar muito cedo, apanhar as rosas, tomar um bom banho e meditar debaixo do chuveiro. Quando despeja o banho de rosas no corpo, então se perfuma todo, e, aí, nego-velho o induz a levar as rosas restantes do banho para jogar no riacho que fica um pouco distante de sua casa, ainda de madrugada. Sabe por quê meu filho? É que a mulher dele é enfermeira e retorna do plantão noturno exatamente naquele horário, de ônibus, e é obrigada a andar sozinha por um bom pedaço até chegar em casa, mesmo na escuridão da noite. Quando for até o riacho, já está na hora da mulher chegar. O resto você já sabe, meu filho, é só confiar na natureza e as coisas se resolvem. Isso é mandinga de nego-velho.”
Ao ouvir a explicação, o médium pegou a receita e entregou ao consulente. O caso se resolveu em alguns dias. Nosso irmão precisava apenas de um empurrão para aprender a tomar banho e se perfumar e de uma desculpa para agradar a mulher, apanhando-a no ponto de ônibus. Nego-velho riu muito ao saber que os dois haviam se reconciliado graças a um banho despretensioso, feito de rosas, e algumas orações acompanhadas de meditação debaixo do chuveiro.
Muita gente, meu filho, tem necessidades as mais estranhas, mas que costumam se resolver com pequenas receitas de paz, diálogo, orações e - quem sabe? – um pouco de higiene também.
Capítulo 14 do livro “Alforria”
espírito “pai João de Aruanda”
médium robsom pinheiro