A História da Origem da Feijoada de Ògún
Para falar da feijoada de Ògún temos que voltar às primeiras décadas do século passado, época do Babalòrìsà Procópio Xavier de Souza, o grande Pai Procópio do Ògúnjá (Ògún Jobi), que durante muito tempo lutou para defender seu Terreiro no Vale do Bonokô (que na verdade seria o Vale do Igunnuko) e para defender a nossa religião. O povo antigo – as “mocotonas” como chamamos aqui em Salvador, falavam que Pai Procópio foi um homem muito perseguido, principalmente pelo policial Pedrito, um homem intolerante que costumava invadir os Terreiros, furar os atabaques e quebrar peças sagradas (nem parece que estamos falando coisas do século passado, infelizmente ainda hoje vivenciamos esses problemas). Mas Pai Procópio era um homem muito enérgico, do tipo valentão que não levava desaforo para casa – um característico filho de Ògún.
Certa vez no Terreiro do Ògúnjá, em época da festa do dono da casa, um homem maltrapilho e com fome chegou pedindo feijão para comer. Os Ogan de Pai Procópio tentaram mandar o homem embora, mas não tiveram êxito e logo Pai Procópio chegou para ver o que estava acontecendo em sua casa. Ao ver o homem naquela condição e também alterado, Pai Procópio não teria pensado duas vezes, pegando o sujeito e botando o mesmo para fora de sua casa, negando comida no dia da festa do seu Òrìsà – Ògún.
Na noite do Candomblé Ògún teria chegado muito nervoso e nada lhe acalmava, deixando todos apreensivos. Ògún então disse que Pai Procópio havia cometido um grande erro e que ele estava descontente com aquilo. Disse que Procópio errou duas vezes, a primeira em negar comida para uma pessoa dentro do Asè e a segunda em botar uma pessoa para fora, sem sequer saber quem era.
A história conta que Ògún chegou a dizer que aquele homem poderia ser ele próprio (Ògún), que poderia ter resolvido testar Seu Procópio, mas que nunca ninguém saberia. Todos os filhos pediam calma e perdão, mas Ògún sentenciou Pai Procópio, dizendo que ele jamais poderia negar comida a ninguém e que, a partir de então, todos os anos em sua festa, ele deveria fazer uma grande feijoada e distribuir para as pessoas, principalmente para as necessitadas – para que ele jamais se esquecesse do que havia ocorrido.
Contam que nos dias das festas de Ògún, depois do acontecido, Pai Procópio mandava que buscassem pessoas com dificuldades para comer a feijoada de Ògún. Não posso me aprofundar muito aqui, pois muitas pessoas não iniciadas também acessam essa página, mas essa feijoada não era uma feijoada comum e sim uma feijoada que continha alguns ingredientes e carnes de animais ofertados ao Ògún de Pai Procópio, sendo que o primeiro “prato” contendo determinada carne ia aos pés de Ògún.
Com o passar dos anos e com a notoriedade de Pai Procópio, muitas pessoa e também passaram a fazer a feijoada nas festas desse importante Òrìsà, sendo hoje algo que é realizado em muitos Terreiros de Candomblé – A Feijoada de Ògún de Pai Procópio!
Finalizo esse texto pedindo a benção desse importante Òrìsà, pedindo a benção de Ògún Jobi de Pai Procópio que trouxe esse ensinamento, a benção de Ògún Dekisi de minha avó – Mãe Simplícia, que deu origem ao ritual dos Pães de Ògún
Que Ògún mesmo mostre-nos sempre o melhor caminho a seguir.
Fontes de informações : google
Babalòrìsà do Terreiro de Òsùmàrè
Salvador - Bahia