Maria Stella de Azevedo Santos | |
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Nascimento | 2 de maio de 1925 Salvador |
Morte | 27 de dezembro de 2018 (93 anos) Santo Antônio de Jesus |
Cargo | Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá |
Maria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi, Odé Kayode, (Salvador, 2 de maio de 1925 – Santo Antônio de Jesus, 27 de dezembro de 2018) foi a quinta Iyalorixá do Ilê Axé Opó Afonjá em Salvador, BahiaMaria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi, Odé Kayodê, nasceu no dia 2 de maio de 1925, em Salvador, Bahia. É a quarta filha de Esmeraldo Antigno dos Santos e Thomázia de Azevedo Santos. Seus irmãos, por ordem de nascimento são: Coryntha de Azevedo Santos (falecida), Bellanizia de Azevedo Santos (falecida), José de Azevedo Santos, Milta de Azevedo Santos e Adriano de Azevedo Santos (falecido).
Sua avó materna foi Theodora Cruz Fernandes, filha de Maria Konigbagbe, africana de etnia egbá.[nota 1] Aos nove anos de idade, Maria Konigbagbe estava na aldeia quando mandaram que ela entregasse uma encomenda em um navio, assim que chegou foi presa e trazida para o Brasil.
Sua tia, Dona Arcanja, também conhecida como Dona Menininha, tinha o posto de arobá no Gantois e de Sobalojú[nota 2] no Opô Afonjá nos tempos de Mãe Aninha, de quem era afilhada. Por volta dos treze anos de idade, Mãe Stella apresentou um comportamento não esperado, o que fez com que Dona Arcanja procurasse ajuda do oluô Pai Cosme de Oxum, que informou que mãe Stella deveria ser iniciada e que seu caminho era de iyalorixá. Com isso Dona Arcanja decidiu procurar Mãe Menininha do Gantois. Dona Joaninha, que era governanta da casa, foi que acompanhou Mãe Stella na consulta. Depois de esperar muito para ser atendida, uma filha do Gantois apareceu na sala e avisou que ninguém mais seria atendido naquele dia.[nota 3] Aborrecida, Dona Joaninha seguiu para casa, e relatou o ocorrido à Dona Arcanja, que resolveu levar Mãe Stella ao Ilê Axé Opô Afonjá no dia 25 de Dezembro de 1937, quando foi apresentada à Mãe Aninha. Esta entregou Mãe Stella aos cuidados de Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora.
Mãe Stella relatou:
Em 12 de setembro de 1939, aos quatorze anos, Mãe Stella foi iniciada por Mãe Senhora e recebeu orukó (nome) de Odé Kayodê. Mãe Stella conta que quando foi realizada sua iniciação, ela "não pensava em nada", "não tinha noção" do que estava acontecendo:
Lizete Fernandes Copque, prima, companheira de infância de Mãe Stella e iniciada no Gantois para Iansã, relembra:
Mãe Stella estudou no colégio Nossa Senhora Auxiliadora, dirigido pela professora D. Anfrísia Santiago. Formou-se pela Escola de Enfermagem e Saúde Pública, exercendo a função de Visitadora Sanitária por mais de trinta anos.
Em 29 de junho de 1964, foi designada ' Kolabá[2] por Mãe Senhora. Filha dileta de sua mãe-de-santo, pouco a pouco foi aprendendo os grandes mistérios e segredos do candomblé. Ainda em vida de Mãe Senhora fizera exercer a função de mãe de uma iaô - Celenita – que era filha de Ogum.
Em 19 de março de 1976, foi escolhida para ser a quinta iyalorixá do Ilê Axé Opó Afonjá, conforme consta no livro de atas do conselho religioso do próprio terreiro, a seguir:
Quando Mãe Stella foi escolhida iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, Dona Milta explicou que não conseguia aceitar o peso da responsabilidade que caía sobre os ombros da irmã:
Em 1981, Mãe Stella visitou templos e casas de orixás em Oshogbo na Nigéria. Ela cumprimentava as pessoas, era recebida por todos e, uma vez, ao entoar um canto para Oxum, à sua voz incorporaram-se outras. Houve total entendimento e todos se emocionaram. O mesmo se deu nas cidades de Ile-Ifé e Ede. Apesar das barreiras linguísticas, fez amigos e foi homenageada. Em 1983 o professor Wande Abimbola, à época reitor da Universidade de Ile-Ifé, fez questão de realizar em Salvador, na Bahia, a II Conferência da Tradição dos Orixá e Cultura, porque sabia haver em Salvador raízes profundas da cultura yoruba.
O primeiro pronunciamento público de Mãe Stella foi na II Conferência Mundial de Tradição dos Orixá e Cultura, de 17 a 23 de Julho de 1983, em Salvador, quando lançou ideias originais sobre o sincretismo. Ela também participou da III Conferência Mundial de Tradição dos Orixás e Cultura, em 1986, em Nova Iorque, Estados Unidos.
Em 1987, Mãe Stella integrou a comitiva organizada por Pierre Verger para a comemoração da Semana Brasileira na República do Benin, na África. Sua presença mereceu destaque e ela foi recebida com honras de líder religiosa.
Em 1999, Mãe Stella conseguiu o tombamento do Ilê Axé Opô Afonjá pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão ligado ao Ministério da Cultura.
Morte e sucessão[editar | editar código-fonte]
Faleceu na cidade de Santo Antônio de Jesus, no Hospital Incar, onde se internara no dia 14 de dezembro de 2018 para tratar de uma infecção; ela havia se mudado da capital do estado para a cidade do Recôncavo, Nazaré das Farinhas, após ter sofrido um AVC que a deixara sem visão e com os movimentos limitados.[3]
A mudança de Mãe Stella para Nazaré se deu de forma traumática; ela fora levada por sua companheira, a filha-de-santo e psicóloga Graziela Dhomini, que foi acusada pelos integrantes do Terreiro Ilê Axé Opó Ofonjá de impossibilitar que pudessem visitar a Ialorixá, processando-a por isto; esta por sua vez havia denunciado à polícia a forma violenta com que fora expulsa do templo, fato que teria sido filmado e divulgado na internet.[3]
Mãe Stella não indicou um sucessor, o que abriu a disputa entre ao menos cinco grupos para ocupar o cargo máximo do Ilê Axé Opó Ofunjá.[3]
Prêmios[editar | editar código-fonte]
- Em 2001 ganhou o prêmio jornalístico Estadão na condição de fomentadora de cultura.
- Em 2009, ao completar setenta anos de iniciação no Candomblé, recebeu o título de Doutor Honoris Causa[4] da Universidade do Estado da Bahia. É detentora da comenda Maria Quitéria (Prefeitura do Salvador), Ordem do Cavaleiro (Governo da Bahia) e da comenda do Ministério da Cultura.
- Em 2010, recebeu das mãos da vereadora Olívia Santana uma placa pelo centenário do terreiro Opó Afonjá ao lado do ministro da Cultura, Juca Ferreira e do secretário estadual da Cultura, Márcio Meirelles, no Plenário da Câmara de Salvador, Bahia. (fontes: Diário Oficial do Legislativo, 15 de julho de 2010.)
- Em 2013, foi eleita por unanimidade para ocupar a cadeira 33 da Academia de Letras da Bahia, cujo patrono é o poeta Castro Alves.[5] Tomou posse no dia 12 de setembro de 2013.
Livros[editar | editar código-fonte]
- "E Dai Aconteceu o Encanto", Maria Stella de Azevedo Santos e Cléo Martins, Salvador, 1988.
- "Meu Tempo é Agora ", Maria Stella de Azevedo Santos. 1a Edição: Editora Oduduwa, São Paulo, 1991. 2a Edição: Vol.1. Salvador, BA: Assembleia Legislativa da Bahia, 2010.
- "Lineamentos da Religião dos Orixás - Memória de ternura"- Cléo Martins, 2004; participação especial de Mâe Stella - Alaiandê Xirê- ISBN 8590467813.
- "Òsósi - O Caçador de Alegrias", Mãe Stella de Òsósi, Secretaria da Cultura e Turismo, Salvador, 2006
- "Owé - Provérbios" - Salvador - 2007.
- "Epé Laiyé- terra viva", conta a história de uma árvore que ganha pernas e vai lutar pela construção de um mundo que respeita o meio ambiente. Em sua trajetória o personagem ganha ajuda do orixá Ossain, divindade que domina o conhecimento sobre o mundo vegetal. Salvador - 2009.
- "Opinião - Maria Stella de Azevedo Santos - Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá - Um presente de A TARDE para a história", reunião de textos publicados no jornal A TARDE na coluna "Opinião".
Referências
- ↑ Mãe Stella de Oxóssi
- ↑ Título relacionado ao culto de Xangô.
- ↑ ab c Roy Rogeres (27 de dezembro de 2018). «Mãe Stella de Oxóssi: o adeus a uma imortal». A Tarde. Consultado em 28 de dezembro de 2018. Cópia arquivada em 28 de dezembro de 2018
- ↑ Título Doutor Honoris Causa - Mãe Stella de Oxossi
- ↑ «Mãe Stella de Oxóssi é eleita membro da Academia de Letras da Bahia». Política livre. 25 de abril de 2013. Consultado em 7 de fevereiro de 2014
Notas
- ↑ O Egba é um subgrupo étnico dos yorubas da Nigéria, formado ainda pelas subdivisões: Ake, Owu, Oke Ona, Gbagura e Ibara. Cada subdivisão tem seu próprio rei. O termo Egba refere-se a boa parte dos nativos da cidade de Abeokuta, a capital do estado de Ogun. Localiza-se no sudoeste da Nigéria. Tem cerca de 751 mil habitantes. Durante o período colonial britânico, o colonizador apontou o rei de Ake como o principal governante e portanto este é conhecido como o rei da terra do Egba. Os títulos dos reis das subdivisões são: Alake da terra dos Egba, o Olowu de Owu, o Agura de Gbagura, o Oshile de Oke Ona, e o Olubara de Ibara. Vale notar que que a cidade original dos Egba se encontrava em torno da pedra Olumo, que hoje se chama Oke Ona Egba.
- ↑ O olheiro de Xangô.
- ↑ Sobre esse episódio, Mãe Menininha falaria mais tarde que "Stella era para ser daqui, mas não foi por causa de um recado mal dado."
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- CAMPOS, Vera Felicidade de Almeida. Mãe Stella de Oxóssi: perfil de uma liderança religiosa. 1a edição. Vol. 1. 1 vols. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor Ltda, 2003.
- JOAQUIM, Maria Salete. O papel da liderança religiosa feminina na construção da identidade negra. Vol. 1. 1 vols. Pallas Editora, 2001.
- LODY, Raul. Com Cléo Martins. Faraimará, o caçador traz alegria: Mãe Stella 60 anos de iniciação. Vol. 1. 1 vols. Rio de Janeiro, RJ: Pallas Editora, 2000.
- SANTANA, Marcos. Mãe Aninha de Afonjá: um mito afro-baiano. 1a-edição. Vol. 1. Salvador, BA: Egba, 2006.
- SANTOS, Deoscóredes Maximiliano dos. História de Um Terreiro Nagô. 2a.edição. Editora Max Limonad. 1988.
- SANTOS, José Félix dos, e Cida Nóbrega. Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora: saudade e memória. Salvador, BA: Corrupio, 2000.
- SANTOS, Maria Stella de Azevedo. Meu Tempo é Agora. 2a Edição. Edição: Oscar Dourado. Vol. 1. 1 vols. Salvador, BA: Assembleia Legislativa da Bahia, 2010.
- VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás deuses iorubás na África e no Novo Mundo. Edição: Arlete Soares. Tradução: Cida Nóbrega. Vol. 1. 1 vols. Salvador, BA: Corrupio, 2002.
Ver também[editar | editar código-fonte]
- I. Relacionados ao Ilê Axé Opô Afonjá
- Ialorixás do Ilê Axé Opô Afonjá, Salvador
(ordem cronológica)
- Eugênia Anna Santos ou "Mãe Aninha" - 1910 a 1938
- Maria Purificação Lopes ou "Mãe Bada" - 1939 a 1941
- Maria Bibiana do Espírito Santo ou "Mãe Senhora" - 1942 a 1967
- Ondina Valéria Pimentel ou "Mãe Ondina" ou "Mãezinha" - 1969 a 1975
- Iyalorixás do Ilê Axé Opô Afonjá, Rio de Janeiro
(ordem cronológica)
- Agripina de Souza ou "Agripina de Xangô Aganjú" ou "Obá Deyi"
- Cantulina Garcia Pacheco ou "Mãe Cantu - Ayrá Tolá" ou "Tia Cantu - Ayrá Tolá"
3. Outros:
- Rodolfo Martins de Andrade, "Bamboxê" ou "Bangboshê Obitikô",
- Joaquim Vieira da Silva, Obá Sanyá, Tio Joaquim, um dos fundadores do Ilê Axé Opô Afonjá.
II. Relacionados à Casa Branca do Engenho Velho:
1. Iyalorixás da Casa Branca do Engenho Velho:
- Iyá Nassô Oió Acalá Magbô Olodumarê, foi a primeira Iyalorixá da Casa Branca do Engenho Velho.
- Marcelina da Silva, Oba Tossi, foi a segunda Iyalorixá da Casa Branca do Engenho Velho.
- Maria Júlia Figueiredo, Omonikê, foi a terceira Iyalorixá da Casa Branca do Engenho Velho.
- Maximiana Maria da Conceição, Iwuin Funké, Tia Massi, foi a quinta Iyalorixá da Casa Branca do Engenho Velho.