quarta-feira, 28 de agosto de 2019

OS SETE SORRISOS DE UM PRETO-VELHO

Estava eu pensando nas sete lágrimas de um Preto Velho...
Quando me veio em mente a pergunta!
Teríamos nós como fazer um Preto Velho Sorrir?
Foi quando um Preto Velho sentado em um toco me chamou e disse:
- Sim filho, temos também motivos para termos nossos sete sorrisos...
E começou:
• O primeiro sorriso:
Vai para as pessoas que verdadeiramente vieram em busca de Zambi e verdadeiramente o colocaram em seu coração; vai para o médium que está sempre zelando por sua conduta e equilíbrio espiritual, quando um preto velho ou outra entidade chega no terreiro e o mesmo o trata com tamanho carinho...
• O segundo sorriso:
É para as crianças carnais que, em muitas ocasiões, estão presentes nas giras, no ambiente de alegria, amor e muito carinho; vai para aquelas pessoas que vêm em busca da Paz para si e para todos os que estão a sua volta...
• O terceiro sorriso:
É para os médiuns que estão dispostos a ajudar e zelar pela Casa de Nosso Pai; Os que chegam cedo para ajudar, os que vem de fora, os que usam seus dias de trabalho para organizar a casa pela sua própria vontade e que muitas das vezes são os primeiros a chegarem nas giras e os últimos também a saírem...
• O quarto sorriso:
É para a assistência, quando olhamos para ela e vemos através de seus olhares a humildade, a solidariedade, a igualdade e a vontade de receber a caridade, pois estes olhares são de sentimentos que brotam em seus corações...
• O quinto sorriso:
É para o consulente que vem até nós e fala:
- Hoje meu preto velho, não vim para pedir e sim para agradecer a nosso pai Oxalá por tudo que recebi!
• O sexto sorriso:
É para o zelo com que o dirigente, tem por nossa UMBANDA, pelos seus irmãos; aquele que , por muitas vezes, devido à sua humildade; não sabe a referência que é...
• O sétimo sorriso:
É para agradecer aos Orixás e seus mensageiros, pois é por intermédio deles que Zambi, nos dá oportunidade de podermos praticar a caridade e nos elevarmos em nossa vida espiritual...
Saravá Fraterno, Axé Filhos de Umbanda!
Pai Jonathas de Ogum.'.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Possessão

O cavalheiro doente, na pequena fila de quatro pessoas que haviam comparecido à cata de socorro, parecia incomodado, aflito...
Articulava palavras que eu não conseguia registrar com clareza, quando o irmão Clementino, consultado por Áulus, disse, cortês, para o Assistente:
- Sim, já que o esforço se destina a estudos, permitiremos a manifestação.
Percebi que o nosso orientador solicitava alguma demonstração importante.
Convidados pelo instrutor, abeiramo-nos do moço enfermo que se fazia assistir por uma senhora de cabelos grisalhos, sua própria mãezinha.
Atendendo às recomendações do supervisor, os guardas admitiram a passagem de uma entidade evidentemente aloucada, que atravessou, de chifre as linhas vibratórias de contenção, vociferando, frenética:
- Pedro! Pedro!...
Parecia ter a visão centralizada no doente, porque nada mais fixava além dele. Alcançando o nosso irmão encarnado, este, de súbito, desfecha um grito agudo e cai desamparado.
A velha progenitora mal teve tempo de suavizar-lhe a queda espetacular.
De imediato, sob o comando de Clementino, Silva determinou que o rapaz fosse transferido para um leito de câmara próximo, isolando-o da assembléia.
Dona Celina foi incumbida do trabalho de assistência.
Junto dela acompanhamos o enfermo com carinhoso interesse.
As variadas tarefas do recinto prosseguiram sem quebra de ritmo, enquanto nos insulávamos no aposento para a cooperação que o caso exigia.
Pedro e o obsessor que o julgava parecia agora fundidos um no outro.
Eram dois contendores engafinhados em luta feroz.
Fitando o companheiro encarnado mais detidamente, concluí que o ataque epilético, com toda a sua sintomatologia clássica, surgia claramente reconhecível.
O doente trazia agora a face transfigurada por indefinível palidez, os músculos jaziam tetanizados e a cabeça, exibindo os dentes cerrados, mostrava-se flectida para trás, enquanto que os braços se assemelhavam a dois galhos de arvoredo, quando retorcidos pela tempestade.
Dona Celina e a matrona afetuosa acomodaram-no na cama e dispunham-se à prece, quando a rigidez do corpo se fez sucedida de estranhas convulsões a se estenderem aos olhos que se moviam em reviravoltas continuas.
A lividez do rosto deu lugar à vermelhidão que invadiu as faces congestas.
A respiração tornar-se angustiada, ao mesmo tempo que os esfíncteres se relaxavam, convertendo o enfermo em torturado vencido.
O insensível perseguidor como que se entranhara no corpo da vítima.
Pronunciava duras palavras, que somente nós outros conseguíamos assinalar, de vez que todas as funções sensoriais de Pedro se mostravam em deplorável inibição.
Dona Celina, afagando o doente, pressentia a gravidade do mal e registrava a presença do visitante infeliz, contudo, permanecia alerta de modo a manter-se, valorosa, em condições de auxiliá-lo.
Anotei-lhe a cautela para não se apassivar, a fim de seguir, por si própria, todos os trâmites do socorro.
Bondosa, tentou estabelecer um entendimento com o verdugo, mas em vão.
O desventurado continuava gritando para os nossos ouvidos, sem acolher-lhe os apelos comovedores.
- Vingar-me-ei! Vingar-me-ei! Farei justiça por minhas próprias mãos!... – bradava, colérico.
Repreensões injuriosas apagavam-se na sombra, porquanto não conseguiam exteriorizar-se através das cordas vocais da vítima, a contorcer-se.
Permanecia o cavalheiro plenamente ligado ao algoz que tomara de inopino. O córtex cerebral apresentava-se envolvido de escura massa fluídica.
Reconhecíamos no moço incapacidade de qualquer domínio sobre si mesmo.
Acariciando-lhe a fronte suarenta, Áulus informou, compadecido:
- É a possessão completa ou a epilepsia essencial.
- Nosso amigo está inconsciente? – aventurou Hilário, entre a curiosidade e o respeito.
 
Livro: “Nos Domínios da Mediunidade” Psicografia: Francisco Candido Xavier. Pelo espírito: André Luiz

Vida e Obra de São Francisco de Assis




O nome de batismo inicial era Giovanni Bernardone (João Bernardone), dado pela mãe provavelmente em homenagem a João Batista, que o pai, Pedro Bernardone, altera para Francesco Bernardone. Por razões ainda muito controversas, acredita-se que o nome seria em homenagem à França, país com quem mantinha relações comerciais.
Renunciou ao mundo em 1206, fez penitência durante dois anos e lançou-se a pregar em linguagem simples e ardorosa. Tem-se dito, que, imitando a cavalaria, Francisco também teve a sua dama, Madonna Povertà, a Senhora Pobreza, que ele serviu e cantou com grande entusiasmo. Em 1209 formou, com doze discípulos, a família dos doze irmãos menores. Os Clunicenses de Assis cederam-lhes um pouco de terreno, a porciúncula, e os Franciscanos construíram ali as suas choças. Adotaram vestuário dos humildes: túnica grossa de lã, com uma corda na cinta, e sandálias. A sua missão consistia em praticar e pregar simplicidade e amor a Deus e a caridade cristã. Esteve em Espanha e África, onde se juntou aos cruzados do Nilo. Fundou a Ordem dos Frades Menores em 16 de Abril de 1209. Em 1212 recolhe junto de si Clara d'Offreducci e algumas companheiras, que, perseguindo o mesmo ideal de pobreza, funda a Ordem das Clarissas.
Assim, amava e respeitava todas as pessoas, ao mesmo tempo, que protegia animais e plantas aos quais chamava, carinhosamente, de irmãos. Para ele, também a chuva, o vento e o fogo deveriam ser reverenciados e respeitados como irmãos. Nunca consumia mais que o mínimo necessário para viver e incentivava a todas as pessoas a fazerem o mesmo. São Francisco é respeitado por várias religiões pela sua mensagem de paz. Ficou famosa uma oração atribuída a ele que começa com os dizeres "Senhor, fazei-me instrumento de Vossa paz...". Embora não haja certeza de sua autoria, ela reflete mais que qualquer outra os ensinamentos e a vida desse grande homem, reconhecido como santo no mundo todo e adotado como patrono da Ecologia e, porque não, da paz.
Vida e obraEste Santo homem não vivia para si mesmo, mas para aquele que morreu por todos nós. Enchia a terra com o Evangelho de Cristo e em um dia percorria 4 ou 5 povoados anunciando o Reino de Deus, a Salvação, a Penitência e a Oração. Não sabia favorecer a vida dos pecadores e os repreendia pacientemente. Seus maiores milagres sempre foram através da Oração. São Francisco era como um rio caudaloso de graça celeste que alimentava os corações com sua palavra e exemplo, propunha uma nova forma de vida, o caminho da salvação, o amor a Deus. Estava sempre preocupado com a construção espiritual de seus filhos, o caminho das virtudes, a pobreza, obediência, a castidade e sobretudo com a renúncia. São Francisco tinha o rosto alegre, de olhar simples, afeto sincero e com o abraço fraterno colhia os desamparados. Amava tanto a Deus que lutava constantemente pela salvação das almas, seu amor ao próximo era tão intenso que quando não podia mais andar e quase cego, percorria as terras montado em um jumento para levar a benção do Senhor. Em seu amor a Deus sempre repetia: "Senhor! Minha alma tem sede de Vós e meu corpo mais ainda". Veio ao mundo com assinalado e luminoso destino, filho de pais abastados, nasceu em Assis velha cidade da Itália, situada na região da Úmbria em 26 de Setembro de 1182 e foi criado no luxo e na vaidade. Seu pai Pedro Bernardone, rico comerciante de tecidos, sonhava fazê-lo homem de negócios e de fortuna, mas Francisco, de gênio alegre e cavalheiresco pensava mais nas glorias do mundo do que nos negócios. Em 1202, com 20 anos, foi a guerra entre sua cidade natal e Perúgia, ao partir, jurou voltar consagrado cavaleiro. Caiu prisioneiro, ficando um ano na prisão. Comportou-se com serenidade, levantou a moral dos seus companheiros, transmitindo confiança e alegria. É resgatado pelo pai, por estar muito doente. Permanece um tempo em Assis para sua recuperação. Após uma mensagem em sonhos quis alistar-se novamente, mais ainda debilitado e doente, desiste e aceita os desígnios de Deus. É modelo de vida cristã para muitos jovens, e é dos maiores santos da Igreja Católica. A sua vida encontra-se bem relatada nas Fontes Franciscanas(colectâneas de textos de S. Francisco, Santa Clara, Santo António de Lisboa, entre outros).
"Carta aos Governantes dos Povos"São Francisco escreveu: A todos os podestás, cônsules, juizes e regentes no mundo inteiro, e a todos quantos receberem esta carta, Frei Francisco, mísero e pequenino servo no Senhor, deseja saúde e paz. Considerai e vede que "se aproxima o dia da morte"(Gn 47,29). Peço-vos, pois, com todo o respeito de que sou capaz que, no meio dos cuidados e solicitudes que tendes neste século, não esqueçais o Senhor nem vos afastes dos seus mandamentos. Pois todos aqueles que o deixam cair no esquecimento e "se afastam dos seus mandamentos" são amaldiçoados (Sl 118,21) e serão por Ele "entregues ao esquecimento" (Ez 33,13). E quando chegar o dia da morte, "tudo o que entendiam possuir ser-lhe-á tirado" (Lc 8,18). E quanto mais sábios e poderosos houverem sido neste mundo, tanto maiores "tormentos padecerão no inferno" (Sb 6,7). Por isso aconselho-vos encarecidamente, meus senhores, que deixeis de lado todos os cuidados e solicitudes e recebais com amor o santíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, por ocasião de sua santa memória. Diante do povo que vos foi confiado, prestai ao Senhor este testemunho público de veneração: todas as tardes mandai proclamar por um pregoeiro, ou anunciai por algum sinal, que todo povo deverá render graças e louvores ao Senhor Deus Todo-Poderoso. E se não o fizerdes, sabei que havei de dar conta perante vosso Senhor Jesus Cristo no dia do juízo. Os que levarem consigo este escrito e o observarem saibam que serão abençoados por Deus nosso Senhor.
Primeiro chamado DivinoDe fato, pouco depois, teve a visão de um esplêndido palácio, em que encontrou toda sorte de armas e uma noiva belíssima. No sonho, foi chamado pelo nome de Francisco e seduzido pela promessa de possuir todas aquelas coisas. Tentou, por isso, ir à Apúlia para entrar no exército e, tendo preparado com muita largueza tudo que era preciso, apressou-se para receber o grau da honra militar. Seu espírito carnal sugeria-lhe uma interpretação carnal da visão que tivera, quando nos tesouros da sabedoria de Deus ocultava-se algo muito mais preclaro. Foi assim que, uma noite, estando a dormir, alguém lhe falou pela segunda vez em sonhos, interessado em saber para onde estava indo. Contou-lhe seus planos e disse que ia combater na Apúlia, mas foi solicitamente interrogado por ele: - "Quem lhe pode ser mais útil: o senhor ou o servo?" - "O senhor", respondeu Francisco. E ele: "Então, por que preferes o servo ao senhor?" - "Que queres que eu faça, Senhor (cfr. At 9,6)?" perguntou Francisco. E o Senhor: - "Volta para a terra em que nasceste (cfr. Gn 32,9), porque é espiritualmente que vou fazer cumprir a visão que tivestes".
Segundo chamado DivinoRefeito da grave doença e em período de transição que mudará sua vida, encontrava-se caminhando fora da cidade, quando viu um leproso vindo na sua direção, ficou apavorado, pois tinha horror desta doença, quis fugir, mas manteve-se firme, dirigiu-se ao doente, beijou-lhe as mãos e o rosto, em demonstração de afeto e encheu-lhe a bolsa de moedas, com generosidade. Ao retirar-se sentiu-se vitorioso e voltou-se para ver uma vez mais o estranho, não logrou perceber figura alguma na estrada, o homem desaparecera misteriosamente. Após este fato sente o chamado de Deus., mas não muito, ainda viria Segundo chamado Divino. São Francisco costumava orar numa velha e abandonada capela, São Damião, frente a um crucifixo repetia fervorosamente: "Concedei-me Senhor, que Vos conheça, para poder agir sempre segundo a vossa luz e de acordo à vossa Santíssima vontade".
Terceiro chamado DivinoSão Francisco ora ante a imagem do Cristo Crucificado e recebe a missão de restaurar a Igreja. Ora nas ruínas da Igreja de São Damião. Um dia, pareceu-lhe ouvir claramente: "Francisco, não vês que a minha casa está em ruínas? Restaurá-la para mim!". Pensando tratar-se do velho templo onde se achava, agiu de pronto, contando para a reforma com o dinheiro de seu pai, que tinha em suas mãos.
Ano de 1206Comparece ante o Bispo Dom Guido III acusado pelo pai de furto, devolve ao genitor o que lhe pertence, até as roupas e se declara servo de Deus. Pede ao Bispo sua benção e abandona a cidade em busca dos caminhos do Senhor, o Bispo vê nesse gesto o chamado do Altíssimo e se torna seu protetor pelo resto da vida. São Francisco renuncia à todos os bens que o prendiam neste mundo, veste-se como eremita e começa a restauração da Capela de São Damião e cuida dos leprosos. Seis anos mais tarde, esta capela será o lar das Damas Pobres de Santa Clara.
Ante o Bispo de Assis e seu pai, devolve o dinheiro a este e se despoja até das roupas, pede a benção do Bispo, dom Guido III É o começo da sua vida religiosa, sofre e luta da forma mais intensa; ele, que teve de tudo, abraça a pobreza, deve primeiramente vencer-se a si mesmo, para logo pedir esmolas. Ele ora e trabalha incessantemente. São Francisco dizia: "O trabalho, embora humilde e simples, confere honra e respeito e sempre será um mérito ante Nosso Senhor".
Ano de 1208Restaura a igreja de Sta. Maria de Anjos (porciúncula). Esta pequena igreja se conserva dentro da grande Basílica de São Francisco em Assis (Erigida por frei Elias).
Restaura a Igreja de Sta. Maria de Anjos e São Pedro, persuadido de que sua missão principal era a de restaurar e construir igrejas zelava ardentemente pelos lugares em que se celebravam os Santos Mistérios.
A torre da igreja de São Pedro, capela que o Santo restaurou, essa torre é moderna, mais esse é o lugar. Um dia, na missa de São Matias, escuta o Evangelho sobre a missão Apostólica, como Nosso Senhor enviou seus discípulos para pregar o Reino de Deus e a Penitência, fica tão impressionado que decide então seguir a vida de Nosso Senhor seria pobre como Ele e pregaria o Evangelho, muda suas vestes de eremita e passa a ser um pregador ambulante e descalço, começa o estilo de vida Franciscano. Desde então foi Apóstolo, não descansou jamais, nenhum instante sequer, pregou a paz e o amor no coração, vivendo sem ódio, egoísmo, inveja ou outros sentimentos mesquinhos, seus discursos sempre foram claros, simples, mas incisivos, que a todos afetavam profundamente.
Ano de 1209Recebe os primeiros irmãos: Frei Bernardo de Quintavalle que será mais tarde seu sucessor, homem de grande fortuna que abandona tudo para seguir São Francisco. Frei Pedro Cattani, cônego e conselheiro legal de Assis, homem de esmerada cultura, instrução e dotado de grande inteligência. E o irmão Leão que será sempre e em todas as horas o fiel companheiro. ele foi
Ano de 1210
Com 11 irmãos vai a Roma, levando uma breve Regra (esta se perdeu). O Papa Inocêncio III admirado, ouve a exposição do programa de vida e com regras tão severas, fica indeciso e decide esperar, assim e tudo aprova as regras só verbalmente. Conta-se que dias mais tarde o Papa em sonhos teve a revelação da missão destinada por Deus à Francisco (se diz que este Papa foi enterrado com vestes Franciscanas). Instala-se com seus irmãos em Rivotorto, perto de Assis, num rancho abandonado e próximo de um leprosário, esta mísera residência foi a primeira casa por uns tempos dos irmãos Franciscanos, foi uma vida difícil, sombria e assinalada por duras provas, mas São Francisco só desejava enxugar as lágrimas dos desprezados do mundo, os pobres e os leprosos. Apesar do espírito de renúncia e sacrifício que deveria existir na vida de seus filhos espirituais São Francisco pregava que um servo de Deus não podia manifestar tristeza, desanimo ou impaciência. Na alegria da vida, o Santo via a fortaleza da alma cristã, a força que devia levar aos desamparados e todos àqueles que sofriam provações. Suas humildes túnicas amarradas por um simples cordão levam até hoje três nós, são seus votos de: Pobreza, Obediência e Castidade. Irradiam a luz Franciscana para toda a Itália, envia missionários, ao igual que o Cristo, aos pares para pregar o Evangelho, envia também à todo o Continente Europeu. Na Alemanha são maltratados e encarcerados, pois não sabiam falar o idioma e a tudo respondiam "Ja" ("Sim"): exemplo: "vocês são hereges? E eles respondiam "Ja". São Francisco orava e trabalhava sem cessar, assistia as viúvas, às crianças famintas, a todos os deserdados, fosse no campo, nas cidades ou nos mosteiros, derramava suas orações para converter os pecadores, proclamava a paz, pregando a salvação e a penitência para remissão dos pecados, resolvia conflitos, desavenças, estabelecendo sempre a harmonia em nome do Senhor. Compreendia a dor e o sofrimento, pelo amor a Deus, considerava-se um pecador, o mais miserável dos homens, vivia em penitência e jejum, purificando seu corpo e todo seu ser, renunciava às mais mínimas comodidades. Era severíssimo com ele, como São Paulo, ao qual admirava, mais aos seus filhos espirituais não permitia que fizessem demasiada penitência nem jejum, pedia sempre que imperasse a virtude da moderação, para assim poder melhor servir a Deus.
Ano de 1212Os Padres Beneditinos oferecem-lhe as pequenas igrejas de Santa Maria dos Anjos, em Porciúncula, pois eram muitos os homens que atraídos pela vida de pureza do Santo, queriam ser acolhidos na Ordem. Esta seria o berço da ordem Franciscana, os frades renovam solenemente seus votos, o Santo os chama de "Frades Menores" porque sempre serão pobres e humildes. Como nosso Senhor Jesus Cristo desejava que fossem seus apóstolos, fossem puros e livres das coisas deste mundo, ter o coração e a mente dominados pelo desejo de Deus, para trilhar o caminho da bem-aventurada simplicidade. Trabalhava com suas próprias mãos para alcançar os meios de subsistência, só em último caso pediam ajuda a outros, jamais deveriam possuir bens de qualquer natureza, assim não teriam correntes que os prendessem à terra, não temiam a desaprovação, a caridade os levava até tirar o pão da boca ou a despojar-se de suas míseras vestes para ir em socorro de quem estivesse com fome ou fosse mais pobre do que eles. No mesmo ano de 1212 funda a segunda Ordem das Pobres Damas, destinada às mulheres que desejassem deixar o mundo, numa dedicação exclusiva à Deus e a nosso Senhor, para uma vida de oração e de santa pobreza. A figura central á Santa Clara de Assis jovem nobre que abandonou tudo para seguir a São Francisco, hoje conhecidas como as Irmãs Clarissas.
Ano de 1213O Conde Orlando de Chiusi oferece a São Francisco um monte chamado Alverne, para servir de eremitério, retiro e oração. É aqui que São Francisco recebe os sagrados estigmas.
Ano de 1216Obtém do Papa Honório III, sucessor de Inocêncio III e a pedido do próprio São Francisco a Indulgência para a Igreja de Santa Maria dos Anjos. Ato bastante audacioso do Santo pois a Indulgência só era dada aos peregrinos da Terra Santa e aos Cristãos que iam às Cruzadas. Indulgência é a remissão dos pecados na terra e no céu, por todas as culpas cometidas desde o nascimento.
Desde o Ano de 1217 a 1219Levou São Francisco o Evangelho a todos os povos sarracenos e hereges. Efetuam-se grandes missões ao exterior. São Francisco visita o Santuário de San Tiago de Compostella na Espanha. Vai de navio a Marrocos, no Egito atravessa as linhas inimigas e vai ao acampamento do Sultão do Egito Melek el Kamel, temido guerreiro pela sua crueldade e que comandava as forças Muçulmanas nas Cruzadas contra os Cristãos. O Sultão fica surpreso com o audaz visitante, mantém longas conversas com São Francisco e pede para que fique com ele. São Francisco responde: "De bom grado fico se te convertes ao Cristianismo e pedes o mesmo ao teu povo".
No Egito, ante o Sultão Melek-el Kamel, temível guerreiro muçulmano (no tempo das cruzadas), ante o qual São Francisco efetua um milagre. Em Damieta, São Francisco se encontra com os Cristãos que faziam parte das Cruzadas e que tinham sido derrotados pelos Muçulmanos, ele cuida dos feridos, prega a palavra de Deus, levando a todo conforto espiritual, diz a historia que nessa batalha morreram 6.000 cristãos. Em Marrocos, 5 de seus missionários são mortos e decapitados, foram os primeiros mártires da família Franciscana e em 1481 são canonizados pelo Papa Sisto IV. Até hoje, os Frades Menores encontra-se em todo o Oriente, trabalhando pela conversão ao Cristianismo. Desde os primeiros tempos estes Frades Menores tem a custódia do Santo Sepulcro em Jerusalém, obra que causa admiração aos cristãos do mundo inteiro, esta conquista se deve a suas Santas Missões, pelas orações, pelas obras de caridade, porem nunca pela força. A sua volta do Oriente, por onde passa São Francisco estabelece a paz, converte os incrédulos, opera inúmeros milagres através da oração, cura doentes, inclusive um menino cego de um olho, que mais tarde foi frade. Em todas as cidades lhe prestam homenagem, mas ele se mantém sempre humilde e em penitência, com uma vida cheia de amor, fé e obras. Em Bolonha instala seu primeiro hospital. Conhece Santo Antônio de Pádua, que era cônego de Santo Agostinho, o qual passa para os irmãos Menores, era um profundo estudioso das Sagradas Escrituras e grande orador. São Francisco por carta pede ao seu querido irmão que ensine Teologia aos frades para que não se extinga o espírito da oração e devoção como mandava a Regra. Faz amizade também com São Domingos de Gusmão, fundador dos Dominicanos. Conta-se que este, arrebatado em êxtase recebeu um rosário das mãos da Santíssima Virgem, nossa Senhora do Rosário, Ordem dos Pregadores, hoje Dominicanos. Por ocasião do Concílio de Latrão em 1215 encontram-se em Roma, Francisco e Domingos. Dizem que ao sair de uma igreja Domingos viu São Francisco de Assis, reconhecendo de imediato o homem predestinado por Deus para a restauração da Igreja Universal. Sentiram-se atraído um pelo outro e uma santa amizade uniu aquelas duas almas, que tanto bem deveriam fazer para a humanidade. Os dois receberam do Papa Inocêncio III, em Roma, no ano de 1215 a incumbência de um trabalho gigantesco para a gloria de Deus e salvação das almas. São Francisco sempre foi um grande devoto da Santíssima Virgem Maria, prestou-lhe sempre homenagem. Foram os Franciscanos os promulgadores da devoção da Imaculada Conceição. O dogma foi promulgado em 1854. A virgem Maria representava para São Francisco as portas do céu, ela lhes oferecia o diurno auxílio na senda espiritual. Apesar de sua vida de árduos trabalhos, São Francisco agradecia sempre a Deus, porque se julgava um homem feliz, pelas graças que recebia. O Pensamento de São Francisco nunca se afastava da luz divina, era uma oração ininterrupta, sempre aperfeiçoando suas virtudes, jamais teve ostentação, as palavras do Evangelho e a vida do nosso Senhor Jesus Cristo estavam sempre presentes. Na sua humildade unia-se cada vez mais a Deus, desejando a confraternização de todos os seres, sem distinção de raça, credo ou cor. Ele repetia: "Todos os seres são iguais, pela sua origem, seus direitos naturais e divinos e seu objetivo final. Homens pobres, ricos e poderosos, rudes ou letrados pediam para seguir-lhe naquela vida.
Ano de 1221Funda a Ordem Terceira, ainda como instrumento de concórdia e de bem estar social. À Ordem primeira dos Frades Menores incumbia o apostolado de seguir os passos do nosso Senhor Jesus Cristo e de exemplo de obediência para a Igreja; á Ordem Segunda das Pobres Damas o sacrifício, a oração e o amor a Deus no Claustro e à Ordem Terceira a nobre missão de reavivar nas consciências a honestidade dos costumes e os sentimentos Cristãos de paz e caridade, destinada a homens e mulheres que sem deserção da própria família e sem renunciar as suas propriedades, pudessem levar a todos os sentimentos Cristãos e a estes os chamou de Irmãos da Penitência, conhecida hoje como Ordem Terceira Franciscana e seus membros tentam alcançar a perfeição Cristã. Nesse mesmo ano é aprovada a terceira Regra, chamada de Regra Bulada (aprovada) que impera até hoje, o texto original conserva-se como relíquia no Sacro Colégio de Assis, outra cópia, com a aprovação Papal se encontra no Vaticano.
Ano de 1224O Frei Elias fica sabendo em sonhos que São Francisco só terá mais dois anos de vida. Neste mesmo ano o Santo de Assis nomeia o próprio Frei Elias vigário, para suceder o Frei Pedro Cattani, falecido há pouco. São Francisco inspirado por Deus junto com o Irmão Leão, seu fiel companheiro e confessor e outros Freis retira-se ao Monte Alverne já bastante doente, preparando-se para a quaresma de oração e jejum e a festa de São Miguel Arcanjo, vive em louvor a Deus passando noites e dias inteiros em oração, só um pedaço de pão e água que o irmão Leão lhe levava. O Santo de Assis aceitou os percalços e as vicissitudes da vida terrena, numa demonstração de coragem e de fé inabalável, sempre aceitou tudo se colocando dentro da virtude da humildade, e de todas as graças dadas pelo Espírito Santo, nenhuma é mais preciosa do que a da renúncia. O maior dom de Deus é o da vitória sobre o amor próprio. É feliz todo aquele que suporta todos os sofrimentos por amor a Deus. Em toda sua vida religiosa espalhou o amor universal, a caridade, a paz e a humildade, levando felicidade a muitas almas, quantas vezes no fim da sua vida, doente estigmatizado e quase cego visitava cidades e aldeias pregando as verdades evangélicas, atendia os pobres, os leprosos e necessitados, com seu coração cheio de santas consolações pedindo a paz, jamais dando por terminada sua missão terrena e desejando ainda servir a Deus. Corrigia com doces palavras, mas sabia ser enérgico quando necessário. Falava aos seus filhos espirituais para que se afastassem do orgulho, vaidade, egoísmo e avareza, que fossem sempre o exemplo da santa pobreza (como ela a chamava), humildade, caridade e trabalho. Sempre foi simples em tudo, severo consigo mesmo, mas benigno com os outros. Nos ensinamentos do Evangelho encontrava o apoio para aliviar a dor de aquelas almas que em desespero acudiam a ele, e através da sua fervorosa oração operou grandes milagres. Ele dizia: "Tudo o que faço é Nosso Senhor que me guia". Sua alma pura e cristalina aparecia aureolada de luz e ao igual que o Apóstolo Paulo repetia: "Já não vivo eu, é Cristo que vive em mim". Suas orações e meditações, constantes e prolongadas por dias e noites eram elevadas ao Ser Divino, que ele tanto amava, eram de adoração, de louvor e de ação de graças, ardentes diálogos para poder servir melhor ao Senhor, outras para pedir pelos pobres, os doentes e desamparados, ou para implorar sem cessar a Deus por seus filhos espirituais, temendo a infidelidade de uns e a deserção de outros. Conta-se que estando ante uma visão divina, dizia humildemente: "Senhor Deus, que será depois da minha morte, da tua pobre família, que por tua benignidade foi entregue a mim pecador? Quem a confortará? Quem a corrigirá? ou Quem rogará por ela? Prometeu-lhe o Senhor que seus filhos espirituais não desapareceriam da face da terra, até o fim dos tempos, grandes graças do céu receberiam os religiosos da Ordem que permanecessem na prática do bem e na pureza da Regra. Os frades Franciscanos existem há mais de 800 anos!!
O milagre da vertente, São Francisco orando a caminho do monte Alverne (onde São Francisco recebeu os estigmas). Conta-se que quando ia para o Eremitério, na longa caminhada de Assis ao monte Alverne, o pobre homem, dono do jumento que levava São Francisco lastimava-se dolorosamente: "Estou morrendo de sede, se não beber água vou morrer!". O Santo compadecido e vendo o lugar tão árido, composto só de pedras e cascalho, desceu do jumento e ficou em fervorosa oração, logo disse ao homem: "Corre para trás daquela pedra, ali encontrarás água viva, que neste momento Cristo com sua força, misericórdia e poder fez nascer". Este fato é muito comentado porque nessa região nunca existiu água. No monte Alverne falou aos irmãos: "Sinto aproximar-me da morte e desejo permanecer solitário, recolher-me com Deus para lamentar meus pecados". O Frei Leão contava que muitas vezes viu São Francisco em êxtase adorando a Deus em visões celestiais. Em uma oportunidade viu que São Francisco falava diante de uma resplandecente chama, outra vez disse que viu o Santo extrair algo de seu peito para oferecer a Deus, o Frei Leão perguntou depois a São Francisco o que significava aquilo e ele respondeu: "Meu irmão, naquela chama que viste estava Deus, o qual daquela maneira me falava, como antigamente o fez com Moisés, e entre outras coisas me pediu para lhe oferecer três coisas, e eu lhe respondi: Senhor meu, Tu sabes bem que só tenho o hábito, o cordão e uma pobre vestem e ainda estas três coisas são Tuas, que posso, pois Te oferecer Senhor?" "Então Deus me disse: Procura no teu peito e oferece-me o que encontrares. Levei a mão ao coração e encontrei uma bola de ouro e a ofereci a Deus e assim fiz por três vezes, segundo Deus me ordenara! Imediatamente pude compreender que aquelas três oferendas significavam: a Santa Obediência, a Altíssima pobreza e a Esplêndida Castidade". Noutra ocasião o próprio São Francisco ainda deslumbrado, contou a Frei Leão que viu-se cercado de inúmeros anjos, um deles tocava em delicado violino uma maravilhosa música e que se o anjo continuasse com os acordes da celeste melodia, ele certamente teria deixado a vida terrena, para participar das harmonias eternas. Na solidão em que desejou ficar o Santo também teve momentos de difíceis provações. Nos estados contemplativos, eram-lhe revelados por Deus, não somente coisas do presente, mais também do futuro, assim como, por exemplo, as dúvidas, os secretos desejos e pensamentos dos irmãos. Frei Leão numa hora amarga quando sofria tentações, recebeu uma preciosa benção para qualquer doença do espírito. Uma benção assinada com um simples Tau, que representa o símbolo da cruz, o amor a Cristo, também é o signo dos que são amados por Deus, São Francisco tinha grande veneração por este símbolo e nas suas cartas assinava com ele. Tau é a transformação, o equilíbrio, o trabalho, a conversão interior que o homem deve sofrer para unir-se as coisas superiores.
Benção a Frei Leão: "O Senhor te abençoe e te proteja. Mostre a Sua face e se compadeça de ti. Volte para ti o Seu rosto e te dê a paz. Frei Leão, que o Senhor te abençoe". Tchau São Francisco amava tanto o Cristo crucificado que pediu ardentemente duas graças, que antes de morrer pudesse ele (São Francisco) sentir na alma e no corpo o amor e o sofrimento da paixão e o Santo de Assis alcançou essas duas graças. Ele pode ver no céu, um Serafim todo resplandecente de luz que se lhe aproximou e recebe os estigmas da Paixão, traspassando-lhe os pés, as mãos e o lado direito, imprimiu-lhe no corpo os sagrados estigmas do Cristo, isto foi em 14 Setembro de 1224.
São Francisco em êxtase, recebe os estigmas, a sua frente o Serafim Alado com o rosto de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ano de 1225São Francisco retorna a Sta. Maria dos Anjos, muito doente e quase cego, muitos foram os milagres realizados com seus estigmas, temos o exemplo quando em Rieti, em 1225 uma grave peste devastava os rebanhos, as ovelhas caíam vitimadas por estranho mal, alguém que conhecera São Francisco pediu-lhe a benção e a sua valiosa oração para que Deus fizesse cessar a peste. O Santo, abençoando, mesmo de longe a região atingida, e mesmo estigmatizado, orou humildemente, e deu-se o milagre, da noite para o dia desapareceu o terrível mal. A corte papal envia-lhe médico para tratamento, nada resolve, sabendo-se próximo da morte, desde a planície lança uma benção sobre Assis, compõe o Cântico ao Sol e dita seu testamento.
Morte de São Francisco, rodeado de seus Filhos Espirituais e coro de Anjos. Fez ler o Evangelho e na Última Ceia abençoa seus filhos espirituais presentes e futuros.
Sta. Clara na porta do convento de São Damião, despede-se dos restos mortais de São Francisco. No dia 3 de Outubro de 1226, morre São Francisco de Assis, cantando o Salmo 141 e foi sepultado na Igreja de São Jorge na cidade de Assis.
Ano de 1228A dois anos da sua morte é canonizado pelo próprio Papa Gregório IX no dia 16 de Julho de 1228, que vai a Assis. Conta-se que o Papa Gregório IX duvidando da chaga do lado de São Francisco, conforme depois contou, apareceu-lhe uma noite São Francisco e erguendo um pouco o braço direito, descobriu a ferida do lado e o Papa viu o sangue com água que saía da ferida, toda dúvida foi apagada.
Ano de 1230Suas relíquias foram trasladadas para a nova Basílica em construção.
Oração de São Francisco de AssisA Oração da Paz é atribuída a São Francisco de Assis e comumente denominada de Oração de São Francisco, esta oração anônima foi escrita no início do século XX tendo aparecido inicialmente num boletim paroquial na Normandia, França, em menos de dois anos foi impressa em Roma em uma folha, em que num verso estava a oração e no outro verso da folha foi impresso uma estampa de São Francisco; por isto e pelo fato de que o texto reflete muito bem o franciscanismo esta oração começou a ser divulgada como se fosse de autoria do santo.
1. A versão original em francêsBelle prière à faire pendant la Messe 
Seigneur, faites de moi un instrument de votre paix. 
Là où il y a de la haine, que je mette l'amour. 
Là où il y a l'offense, que je mette le pardon. 
Là où il y a la discorde, que je mette l'union. 
Là où il y a l'erreur, que je mette la vérité. 
Là où il y a le doute, que je mette la foi. 
Là où il y a le désespoir, que je mette l'espérance. 
Là où il y a les ténèbres, que je mette votre lumière. 
Là où il y a la tristesse, que je mette la joie. 
Ô Maître, que je ne cherche pas tant à être consolé qu'à consoler, à être compris qu'à comprendre, à être aimé qu'à aimer, car c'est en donnant qu'on reçoit, c'est en s'oubliant qu'on trouve, c'est en pardonnant qu'on est pardonné, c'est en mourant qu'on ressuscite à l'éternelle vie. 
La Clochette, n° 12, déc. 1912, p. 285.
2. A tradução em latimFac nos, Domine, instrumenta pacis tuae. 
Ubi odium, ibi caritatem seramus; 
ubi iniuria, ibi veniam; 
ubi dissensio, ibi concordiam; 
ubi dubium, ibi fidem; 
ubi desperatio, ibi spem; 
ubi tenebrae, ibi lucem; 
ubi tristitia, ibi laetitiam. 
Concede nobis ut 
non tantum consolationem quaeramus quam adhibeamus; 
non tantum comprehendi quaeramus quam comprehendamus; 
non tantum diligi quaeramus quam diligamus. 
Quoniam in donando accipiamus; in condonando condonamur; 
et in moriendo nascimur ad vitam aeternam. 
Amen.
3. A tradução em portuguêsUma das mais conhecidas traduções para a língua portuguesa desta oração é:
Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz! 
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor, 
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão. 
Onde houver Discórdia, que eu leve a União. 
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé. 
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade. 
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança. 
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria. 
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz! 
Ó Mestre, 
fazei que eu procure mais. 
Consolar, que ser consolado. 
Compreender, que ser compreendido. 
Amar, que ser amado. 
Pois é dando, que se recebe. 
Perdoando, que se é perdoado e 
é morrendo, que se vive para a vida eterna! 
Amém 
De todo o meu coraçao meu grande mestre.

NÃO TENHO VERGONHA DE DIZER EU SOU UMBANDISTA, E DAÍ????

Texto de Etiene Sales

 Eu sou Umbandista… Mas o que é isso? O que é ser Umbandista? 
É não ter vergonha de dizer: “Eu sou Umbandista”. 
É não ter vergonha de ser identificado como Umbandista. 
É se dar,acima de tudo a um trabalho espiritual. 
É saber que um terreiro, um centro, uma casa de Umbanda é um local espiritual e não a Religião de Umbanda em seu todo, mas todos os terreiros, centros e casas de Umbanda, representam a Religião de Umbanda. 
É saber respeitar para ser respeitado, é saber amar para ser amado ,é saber ouvir para ser escutado, é saber dar um pouco de si para receber um pouco de Deus dentro de si.
É saber que a Umbanda não faz milagres, quem os faz é Deus e quem os recebe os mereceu. 
É saber que uma casa de Umbanda não vende nem dá salvação, mas oferece ajuda aos que querem encontrar um caminho. 
É ter respeito por sua casa, por seu sacerdote e pela Religião de Umbanda como um todo: irmandade. 
É saber conversar com seu sacerdote e retirar suas dúvidas. 
É saber que nem sempre estamos preparados. Que são necessários sacrifícios, tempo e dedicação para o sacerdócio. 
É entrar em um terreiro sem ter hora para sair ou sair do terreiro após o último consulente ser atendido. 
É mesmo sem fumar e beber dar liberdade aos meus guias para que eles utilizem esses materiais para ajudar ao próximo, confiando que me deixem sempre bem após as sessões. 
É me dar ao meu Orixá para que ele me possua com sua força e me deixe um pouco dessa força para que eu possa viver meu dia-a-dia numa luta constante em benefício dos que precisam de auxílio espiritual. 
É sofrer por não negar o que sou e ser o que sou com dignidade, com amor e dedicação. 
É ser chamado de atrasado, de sujo, de ignorante, conservador, alienígena, louco. E ainda assim amar minha religião e defendê-la com todo carinho e amor que ela merece. 
É ser ofendido físico, espiritual e moralmente, mas mesmo assim continuar amando minha Umbanda. 
É ser chamado de adorador do Diabo, de Satanás, de servo dos encostos e mesmo assim levantar a cabeça, sorrir e seguir em frente com dignidade. 
É ser Umbandista e pedindo sempre a Zambi para que eu nunca esteja Umbandista. 
É acreditar mesmo nos piores momentos, com a pior das doenças, estando um caco espiritual e material, que os Orixás e os guias, mesmo que não possam nos tirar dessas situações, estarão ali, ao nosso lado, momento a momento nos dando força e coragem; ser Umbandista é acima de tudo acreditar nos Orixás e nos guias, pois eles representam a essência e a pureza de Deus. 
É dizer sim, onde os outros dizem não! 
É saber respeitar o que o outro faz como Umbanda, mesmo que seja diferente da nossa, mas sabendo que existe um propósito no que ambos estão fazendo. 
É vestir o branco sem vaidade. 
É alguém que você nunca viu te agradecer porque um dos seus guias a ajudou e não ter orgulho. 
É colocar suas guias e sentir o peso de uma responsabilidade onde muitos possam ver ostentação. 
É chorar, sorrir, andar, respirar e viver dentro de uma religião sem querer nada em troca. 
É ter vergonha de pedir aos Orixás por você, mas não ter vergonha de pedir pelos outros. 
É não ter vergonha de levar uma oferenda em uma praia ou mata, nem ter vergonha de exercer a nossa religiosidade diante dos outros. 
É estar sempre pronto para servir a espiritualidade, seja no terreiro, seja numa encruza, seja na calunga, seja no cemitério, seja na macaia, seja nos caminhos. Seja em qualquer lugar onde nosso trabalho seja necessário. 
É se alegrar por saber que a Umbanda é uma religião maravilhosa, mas também sofrer porque os Umbandistas ainda são tão preconceituosos uns com os outros. 
É ficar incorporado 5, 6 horas em cada uma das giras, sentindo seu corpo moído e ao mesmo tempo sentir a satisfação e o bem estar por mais um dia de trabalho. 
É sentir a força do zoar dos atabaques, sua vibração, sua importância, sua ação, sua força dentro de uma gira e no trabalho espiritual. 
É arriar a oferenda para o Orixá e receber seu Axé. 
É ver um consulente entrar no terreiro chorando e vê-lo mais tarde sair do terreiro sorrindo. 
É ter esperança que um dia, nós Umbandistas, acharemos a receita do respeito mútuo.
É ser Umbandista mesmo que outros digam que o que você faz, sua prática, sua fé, sua doutrina, seu acreditar, sua dedicação, seu suor, suas lágrimas e sacrifício, não sejam Umbanda. 
É saber que existe vaidade mesmo quando alguém diz que não têm vaidade: vaidade de não ter vaidade. 
É saber o que significa a Umbanda não para você,mas para todos. 
É saber que as palavras somente não bastam. Deve haver atitude junto com as palavras: falar e fazer, pensar e ser, ser e nunca estar. 
É saber que a Umbanda não vê cor, não vê raça, não vê status social, não vê poder econômico, não vê credo. Só vê ajuda, caridade, luta, justiça, cura, lágrima… e bom, mal e bem…Os problemas, as necessidades e a ajuda para solucionar os problemas de quem a procura. 
É saber que a Umbanda é livre; não tem dono, não tem Papa, mas está aí para ajudar e servir a todos que a procuram. 
É saber que você não escolheu a Umbanda, mas que a Umbanda escolheu você. 
É amar com todas as forças essa Religião maravilhosa chamada Umbanda.

Exu Tatá Caveira: Um relato

Relato do Sr. Exu Tata Caveira na Gira de desenvolvimento - Dia 02 de novembro de 2008
“Eu era um desses homens de preto, que usava chapéu e ia rezar para quem estivesse desencarnando, com meu livro ´embaixo do sovaco`. Em casas ricas recebia quadros, ouro, cavalos, carroças carregadas de milho, feijão e arroz. Nas casas pobras, recebia o que tinha - uma galinha, meia duzia de ovos, o único pão, a última carne que tinha na casa do filho - em nome de um papel que eu carregava, numa época em que só valiam as riquezas, o quanto pudesse carregar. Por isso, quando desencarnei, fui parar no portão do cemitério, para receber quem ter e quem não tem, quem se cobre com jornal ou com o maior dos tesouros.
Eu sei o valor da pedra que vocês chutam e também do carvão lapidado no dedo e no pescoço de uma bela dama.
Respeitem os Exus, porque eles vivem suas alegrias e choram suas tristezas. Somos nós que esperamos vocês na concepção e no desencarne.
Estar incorporado é deixar o espírito ir e vir e deixar o espírito caminhar dentro de você. Nós vemos o mundo através de vocês, através das limitações de vocês, porque a nossa visão é mais ampla, vai além do que vocês podem ver. Nós preferimos incorporar aqui do que soltar os gritos na imensidão e as pessoas ouvirem errado e fazerem o mal. Nós, espíritos de luz, nos limitamos aos corpos de vocês, porque é melhor fazer 50 filhos nos ouvirem de cada vez do que virar uma nação inteira do avesso. Se viverem a vida com equilibrio, nós somos os mentores que vão encaminhar vocês para uma boa caminhada. Quem fizer o mal, são os exus que fazem com que ele volte para você. Estamos na Umbanda, na Igreja com os padres, na detenção com os presos...
Não tive encarnação como preto, romano, não fui de nenhum exército e nem quis ser índio. Tenho mil, dois mil, três mil ou até mais anos, mas com sabedoria e por causa dela, pude escolher onde estou e eu quis estar ao lado dos filhos.”
“ Ninguem é tão bom que incorpore Jesus Cristo, nem tão ruim que incorpore o Diabo”
“As vezes você fica ouvindo aquelas vozes no ouvido dizendo o que fazer, de certo e errado, e você pensa que são um anjo e um diabinho. A voz que te fala coisas corretas somos nós e o demônio, são vocês mesmos.”
“Sou eu quem estou no portão do cemitério recebendo quem passa encarnado e diz ´Saravá` , quem passa desencarnado ainda com lágrima nos olhos e quem passa com lágrima nos olhos para se despedir de quem ama.”
Sr. Exu Tata Caveira

Fonte: www.terreiropaimaneco.org.br

Caboclo Pena Verde

CERTO DIA, A SUA TRIBO FOI INVADIDA E COMEÇOU UMA GUERRA SANGRENTA, PENA VERDE, SENTIU UMA PROFUNDA DOR NAS COSTAS, HAVIA SIDO ALVEJADO POR UMA FLECHA...

É de uma Tribo Asteca, oriunda dos Estados Unidos que veio migrando até chegar na Amazônia, onde se instalou.
Sua aparência: usava calça de couro, tinha cabelos longos e grisalhos e seu penacho, longo, tinha as cores (verde, vermelha e branca) cada cor representada um irmão.
Relatou que para um índio se tornar pagé, tinha que participar de um ritual: caçar e trazer um javali para a tribo;
Quando Pene Verde foi participar deste ritual, tinha mais um adversário, o vencedor seria quem trouxesse a presa primeiro;
Os dois saíram para a missão no mesmo dia. O seu adversário voltou no dia seguinte com um javali abatido.
Pena Verde só retornou após 30 dias, o impressionante é que ele não precisou abater o javali, durante este período ficou observando o comportamento e foi se aproximando até domá-lo. Só então retornou para a tribo. Entrou triunfante, montado no animal!
Tinha dois guerreiros que considerava seus braços, o filho e o sobrinho.
Certo dia, a sua tribo foi invadida e começou uma guerra sangrenta, Pena Verde, sentiu uma profunda dor nas costas, havia sido alvejado por uma flecha, antes de morrer, pediu a Tupã para ver quem era o autor de tamanha atrocidade. Poucos minutos se passaram e ele pode ver seus guerreiros sendo massacrados, mulheres e crianças sofrendo as maiores barbaridades, então virou-se para trás e pode ver que o seu querido sobrinho a quem tinha tanta estima e confiança era o mentor do ataque.
Para que morresse em paz, Pena Verde perdoou seu sobrinho, tirou a flecha das costas e partiu!

Fonte: www.terreiropaimaneco.org.br

Ansiedade e Desenvolvimento Mediúnico

NÃO DEVO TER SIDO O ÚNICO QUE RESOLVEU, DEPOIS DE MUITOS MESES NA ASSISTÊNCIA, PEDIR PARA VESTIR O BRANCO.

Também imagino que não fui o único que fez esse passo por algo maior do que simplesmente achar a gira bonita e me sentir bem no terreiro. Fiz o passo porque, em um momento da minha vida percebi que o trabalho da gira podia preencher uma lacuna. Naquela época eu não tinha nem a força nem o discernimento para ajudar aqueles que amo e que precisavam de ajuda. Dei o passo dizendo que aquilo era para aprender a como ajudar aquelas pessoas! Sou míope, o suficiente para ser obrigado a usar óculos para dirigir. O que não imaginava era que minha miopia se estendia à minha maneira de pensar e ver o mundo! Efetivamente, estava dando o passo porque eu eu precisava de algo! Só que não sabia daquilo ainda.
Recém chegado, imaginei que fosse normal que novatos experimentassem uma agitação mental em face do desconhecido. Por um tempo acreditei que a curiosidade e a pressa em entender e em fazer (nos meu limites) as coisas da espiritualidade e da materialidade fossem como molas que me impulsionariam a vivenciar, a cada semana, novos passos no meu processo de desenvolvimento mediúnico.
Racionalidade, karma, reencarnação, mediunidade, livre arbítrio, perispírito, espiritualidade... conceitos que conhecia a décadas mas que acreditava que não diziam respeito à minha vida naquele momento: "-Mediunidade não deve fazer parte do meu karma! Venho aqui só pra me equilibrar e assim poder ajudar os meus próximos!".
Logo no começo tudo era novo: os rituais, os gestos, as expressões. Muita coisa para aprender e medo de fazer errado. "-Mas como é que em todos os anos que participei na assistência, nunca me dei conta daqueles rituais e gestos?". Parecia que o primeiro dia em que vesti o branco dia era também o primeiro dia que colocara os pés no terreiro. De repente, não sabia mais nada ou esqueci o que achava que sabia! Hoje, penso que dependendo do nosso estado mental podemos adotar perspectivas bastante distintas: cada uma mostra a gira de uma maneira, permitindo que se aprenda algo específico: o aflito só terá olhos e ouvidos para a entidade responsável pela sua consulta, o contrariado não terá nem olhos nem ouvidos para nada, o cambone compenetrado refletirá sobre os ensinamentos da consulta que anotou, o médium novato tentará estimar se a vibração que sente se trata da aproximação de um espírito ou se tudo não passa de criação da sua mente, um capitão estará atento para que um médium novato não se machuque em uma incorporação, um médium de toco observará quão fácil foi intuir o que a entidade desejava manifestar para um consulente, um pai de santo verá o fluxo e a totalidade dos trabalhos da gira (as consultas a serem realizadas, os encaminhamentos que precisam ser feitos, a batida dos ogans, o canto dos sambas, a firmeza dos médiuns de toco, a objetividade e a pertinência das entidades incorporadas trabalhando no centro e dos médiuns na gira) e agirá de maneira que os objetivos da gira sejam atingidos naquele dia.
Hoje penso que o que mais dificultou o início do meu desenvolvimento foi o tempo que levei para deixar a perspectiva do médium novato, em que eu me via como o centro da gira. Eu vinha para o trabalho da gira esperando sentir uma vibração mais forte do que aquela que sentira na gira anterior. Se não fosse mais forte, se não fosse mais arrebatadora que a anterior deveria haver algo errado com meu desenvolvimento. Sem perceber, prestando atenção em manifestações que entendia como sinais de desenvolvimento nos irmãos da gira, elegi o meu desenvolvimento mediúnico como o principal objetivo a ser alcançado. Ficava meio sem graça quando no intervalo ou no final da gira, ouvia algum comentário do tipo "-Você viu como fulano recebeu uma entidade firme! Desse jeito, daqui a pouco já vai estar no toco!"
Com meus dois neurônios, comecei a cogitar que o objetivo final do desenvolvimento do médium seria ir para o toco. Nessa época, parecia que as vibrações que sentia logo que entrei na gira foram ficando mais fracas e rareando. Eu me esforçava, prestava atenção nos outros que incorporavam. Talvez aprendendo certos gestos fosse mais fácil receber a vibração... em vão.
Para piorar, as vezes aparecia uma pessoa nova na gira e pasme! Já no primeiro dia girava, incorporava com gestos vigorosos e belos de um índio, dirigia-se ao dirigente trocavam poucos gestos ou palavras e saia para colaborar nos trabalhos da gira com determinação e segurança. Era nessa hora que eu sabia que realmente eu devia estar fazendo algo errado. Mas, por que alguém não me avisava? Por quê não me diziam como que eu devia fazer para poder incorporar certo (igual aquele médium novato que recebeu aquele índio)? Ninguém dizia nada e eu também não perguntava. Imagina... pagar mico a toa? Para quê? E nisso o tempo passava, passavam as semanas e os meses.
Hoje, revendo minhas atitudes percebo que me deixei levar por um sentimento que cresce como erva daninha: a vaidade! Sem nada dizer, comparava meu aparente desenvolvimento com o aparente desenvolvimento de meus irmãos de gira. Esqueci o que era reencarnação, o que era a diversidade de caminhos que cada um de nós traçou antes de chegar nesta vida e, infantilmente, comparava meu desempenho na gira com o desempenho dos outros.
"Inteligentemente" conclui que provavelmente eu não seria um médium de incorporação, provavelmente poderia auxiliar no trabalho da gira contribuindo com o samba (mas precisaria aprender melhor os pontos), nas palmas (mas precisaria aprender a bater palmas daquele jeito novo tan, tantan, tan, tantan...) ou como cambone (ajudando a entidade e anotando as consultas). Cheguei a me perguntar se estava no lugar certo, se estava na gira certa e até mesmo no terreiro certo! Por sorte não perguntei a ninguém se estava no lugar certo. Perguntei ao meu coração! Naquele momento percebi que apesar de me sentir fracassado no meu desenvolvimento mediúnico não podia negar uma coisa: eu gostava do ambiente da gira e sempre, independentemente do meu desempenho nas performances de incorporação, eu sempre estava feliz ao final das giras! Então aquilo devia ser bom de alguma maneira e valia o esforço!
Decidi, não seria um médium de incorporação, então deveria  descobrir qual seria meu papel naquela gira. Naquele dia mudei a minha perspectiva. Hoje digo para mim mesmo que, sem perceber, abandonei a perspectiva do meu umbigo (onde intimamente achava que tudo na gira deveria ocorrer para que eu pudesse incorporar  uma "entidade forte") e comecei a observar o que ocorria na gira e por que a gira acontecia: havia as pessoas que vinham para a vibração (algumas poucas demonstravam curiosidade, muitas traziam expressões compenetradas, talvez esperando por um milagre, outras se mostravam humildes e mesmo resignadas); havia as pessoas que depois da vibração sentavam nos banquinhos (para essas, as entidades vinham dar o seu axé); havia as pessoas que vinham consultar na segunda parte (buscando aconselhamento, cura ou proteção). Foi nesse momento que percebi que a principal causa para existir o trabalho da gira não era o meu desenvolvimento. O trabalho da gira existia para o auxílio àquela multidão que vinha semanalmente!
Sem que a coisa fosse formulada explicitamente na minha mente, comecei a agir de maneira a ajudar o fluxo do trabalho da gira. Procurei estar disponível para qualquer coisa que fosse necessária. Quando solicitado cambonei (e como foi bom aprender ouvindo e vendo as entidades agirem!), bati palmas, cantei, enxuguei chão molhado para que alguém não escorregasse. Acabei esquecendo do meu umbigo.
Devia ser uma gira como as outras, Mas, quando me vi estava girando. Depois me levantei e estava indo ao encontro da entidade dirigente do trabalho. Fiquei apreensivo, não sabia o que tinha que dizer ou fazer. A entidade dirigente estava no meio de uma consulta. Fui direto, ajoelhei  reverenciei com o olhar e quando vi, fiz um gesto com as mãos que foram correspondidos por ela. Eu estava feliz de estar ali, de ter tido a coragem de estar ali. Mas, ela não sorriu. Pelo contrário, o caboclo olhou sereno e sério nos meus olhos. Entendi que o momento era de seriedade, havia um trabalho a ser feito. Naquele momento senti o caboclo que estava comigo, meu pulmão parecia ser pequeno para comportar o ar que eu queria inspirar. Ele quis se levantar, fiz o gesto e juntos fomos ajudar no trabalho da gira.
Uma gira não é como uma tela que se observa, mesmo na assistência, de certa maneira, se está imerso ma gira. Hoje, sinto que o participar da gira e o observar da gira não estão relacionados com o fato de estarmos ou não vestidos de branco (papéis formais durante a gira), ou em estarmos de pé (no círculo) ou sentados (na assistência). Cada vez mais, penso que o participar da gira está relacionado com a atitude mental que cultivamos. Se interiormente e exteriormente agimos para que o trabalho da gira seja repleto de êxito, se agimos para que aqueles que vem em busca de orientação ou cura encontrem algo que lhes alivie o fardo da vida (seja física ou espiritualmente), acho que estamos efetivamente trabalhando na gira.
Meu desenvolvimento mediúnico deixou de ser a coisa mais importante e o principal objetivo pelo qual eu venho semanalmente ao terreiro. Na verdade, no que se refere ao meu desenvolvimento ele mal começou! Ignorância mediúnica (tanto teórica quanto prática) é a expressão que melhor me qualificaria hoje. Entretanto, estes primeiros dois anos serviram para aprender algo muito importante: Meu desenvolvimento mediúnico não deve ser meu objetivo no terreiro; mas uma consequência das minhas atitudes na vida. Isso significa o que aprendo de duas maneiras:
  • A primeira, na minha vida de relação com a materialidade, nas ações do dia a dia que se traduzem em gestos, rituais, leituras e ações que colaboram para que empreendimentos conjuntos se concretizem. Por exemplo ajudando numa tarefa de casa ou da empresa, sabendo ouvir alguém que precisa ou então fazendo algo que percebo precisa ser feito (criando, consertando ou limpando algo).

  • A segunda, na minha vida de relação com a espiritualidade, nas atitudes mentais e físicas que fazem com que eu me sintonize mais com determinados planos da espiritualidade. Acho mesmo que essa parte do desenvolvimento mediúnico consiste na construção de hábitos que nos predispõem a estarmos, naturalmente mais sintonizados com nossos mentores do outro plano. Esses hábitos não estariam ligados a gestos físicos mas a atitudes interiores em relação ao próximo como paciência, humildade, disponibilidade, clareza, apoio, aceitação, etc.
Relendo como organizei mentalmente meus dois campos de aprendizagem (materialidade e espiritualidade), entendo por que demoro tanto para avançar no meu desenvolvimento mediúnico. O campo material é fácil de ser observado e transformado porque está relacionado com coisas recentes que aprendi nesta vida. Entretanto, o campo espiritual implica em mudanças profundas na minha maneira de ver e ser no mundo, em especial na maneira como me relaciono com os outros. Estas coisas estão profundamente enraizadas no meu inconsciente, provavelmente cristalizadas de minhas outras vidas. Acho que ai que se encontra o terreno de batalha individual do nosso desenvolvimento mediúnico: o trabalho interno que precisamos fazer para que o campo fique limpo, pronto para a semeadura que virá, na vontade de Zambi manifesta pelos caboclos, pelos pretos, pelas crianças e por todas as entidades que trabalham para a melhora da humanidade.
Refletindo sobre a complexidade e dificuldade para trabalhar minha dimensão espiritual percebo como foi bom ter transformado em consequência o objetivo que eu tinha de desenvolver minha mediunidade. É como se eu tivesse tirado um peso dos meus ombros, tirado algo que me distraia do que é realmente importante para mim: o meu movimento em direção de me tornar alguém melhor a cada dia.
O caminho a percorrer para este aprendizado ainda é imenso. O que mudou é que não me incomodo mais com a chegada, me concentro em aprender com a caminhada.
Hilton Azevedo
www.terreiropaimaneco.org.br