quinta-feira, 22 de março de 2018

CABOCLA JANAÍNA

Nos primórdios tempos em que o homem branco colocou a ganância acima de seu bom senso e partiu em massacre contra os índios, para lhes roubarem as terras e suas riquezas, nascia uma pequena índia no meio da floresta, e entre guerras desordenadas entre o homem branco e índios e a beleza do reino de Pai Oxossi, vinha a esse mundo sem lei a pequena índia Janaína.

Seu pai, o cacique daquela tribo de índios e índias valentes, em um grande ataque dos brancos, lutou pela sua gente até que fora assassinado covardemente, entregando seu espírito ao Rei das florestas, Pai Oxossi, Orixá no qual o guerreiro cacique tinha tanta adoração.

Sua mãe, uma guerreira de uma tribo valente, que tinha uma vida de luta, para junto com suas amazonas guerreiras, defenderem suas terras e sua gente custasse o que custasse, mesmo estando sobre a grande pressão de um ataque dos homens brancos e grávida, ainda lutava. Mas ao ver o corpo inerte de seu amado cacique, pai de sua filha, a jovem índia guerreira desabou. E com a sua gestação já chegando ao dia limite, ela teve que naquele momento fazer algo que dentro de si achava impossível, fugir, deixar para trás seu povo, suas terras sagradas, sua vida.

Mas deveria preservar a vida de sua filha, deveria partir dali, buscar um lugar tranquilo para quando chegar o momento do parto, ela ficasse segura, para assim dar segurança a sua pequena menina. 

E assim foi feito, a jovem índia, com as dores do parto, com as dores de uma perda, com as dores em seu coração dilacerado pela maldade dos homens brancos sobre seu povo, ela partiu se embreando pela floresta que no mesmo momento que era encantadora era assustadora.

Ao chegar em um certo ponto da floresta fechada, onde se ouvia apenas o som dos ventos nas folhagens das árvores e os ruídos de vários animais que habitavam aquele espaço, a índia, fraquejada, se deita ao chão, pedindo aos espíritos da floresta que a ajudassem a ter sua criança, e que conseguisse sobreviver para ver essa criança crescer e ser uma guerreira, que lutaria em prol de seu povo.

O parto aconteceu, após algum tempo de dores intensas, a criança veio ao mundo. Era uma linda menina, uma indiazinha de rosto meigo e belo. E após tantos acontecimentos, após a grande pressão de um ataque dos homens brancos, e estando sozinha no meio da floresta, fica encantada ao ver pela primeira vez o rosto angelical da pequena indiazinha

Raios de sol atravessavam as densas folhagens das árvores, gigantescas, esses raios chegavam até a pequena menina, como parecendo a proteger de tudo e todos.

A índia sabia que não deveria ficar ali por muito tempo, deveria buscar abrigo. Animais selvagens, homens brancos gananciosos, tudo poderia acontecer. E ela em um esforço tremendo, partiu para a busca de um abrigo.

Com a menina nos braços, a índia caminhou por algumas léguas, até que na saída da floresta e entre uma linda praia, seguiu até uma gruta nas pedras que daria para o mar. E lá ela ficou, para descansar, alimentar-se e alimentar a pequena índia.

Alguns dias se passaram, a índia mãe já estava bem mais forte, sua pequena estava linda. A índia mãe passava seus dias admirando sua filha, buscando alimento para ela e sentada nas rochas observando, de um lado a imensidão do mar, e do outro a extraordinária beleza da floresta. Até que certo dia, a índia se encontrava de olhos fixos no mar, sem perceber que a seu lado havia uma linda mulher envolvida em um manto azulado. De olhos fixos também para o mar, a mulher diz em voz meiga e serena:

"A grandeza das águas do mar, quando junta-se com a imensidão do azul do céu, transforma-se em um grande poder, um poder que só é comparado ao amor de uma mãe por um filho."

Ao ouvir isso a índia deu um sobressalto, envolvendo sua pequena menina nos braços, em um abraço de proteção.

A bela mulher com seu manto azulado então diz:

"Não se assuste minha filha, não lhe farei mal. Cá estou para pedir-lhe que se afaste daquela gruta essa noite. O mal vai nela chegar em busca de descanso, para reabilitação e assim terem forças para novos povos massacrarem. Contudo enquanto nesse descanso estiverem, o mar vai julgar e dar a sentença de cada um desses assassinos. Não queria que você e sua princesa estejam lá, principalmente nas mãos dos homens brancos, que a ganância os fizeram seres das profundezas, e também não desejaria que estivessem na sentença da calunga grande. Por isso peço que se afaste essa noite dessa gruta, levando sua criança. Criança essa que eu me sentiria imensamente feliz que tivesse o nome de Janaína."

A índia agradeceu a proteção, obedeceu a linda mulher e partiu.

A noite chega, do alto de um monte a índia observava a praia e a gruta. Seus olhos estavam cansados, seu corpo fatigado pelo extenso tempo que andara para chegar naquele ponto. Acreditava que algo ia acontecer. Ficava tentando se lembrar de cada palavra que a mulher lhe teria dito.

Mas quem seria aquela mulher?
Porque ela queria que sua menina tivesse o nome de Janaína?

Perguntas sem respostas.

E no meio dessa reflexão, a índia se assusta, observando vários homens brancos, trazendo tochas acesas nas mãos, falando alto, gargalhando, e chegando a praia, indo direto para a gruta, gruta essa que a algum tempo atrás ela estaria se apropriando.

Ela agradece por não está lá, agradece aos deuses das matas, e agradece mentalmente a bela mulher de manto azul.

A madrugada chegou, na gruta os homens já não faziam mais barulhos, pareciam que todos dormiam. Sem que ela percebesse do local que estava, a maré começa a subir, e quando ela deu por si, toda a gruta estava encoberta, numa rapidez intensa, que não foi dado a menor chance daqueles homens saírem.

O cansaço tomou conta da índia, que adormeceu. Quando desperta o Sol estava intenso, o céu azul, o mar lá embaixo estava tranquilo, e a seu lado a linda mulher de manto azul.

Ela olha para a mulher sorrindo, que lhe retribui. A mulher diz a ela que deverá voltar a gruta, e lá deveria ficar até a sua pequena filha começar a dar seus primeiros passos.

A índia teme pelo novo aumento da maré, mas a mulher a tranquiliza dizendo que não vai mais acontecer esse fato, e que a partir daquele dia aquela gruta seria o local onde a sua pequena menina iria se transformar em uma guerreira, e iria usar disso para salvar seu povo da ganância dos homens brancos.

O tempo passou, a menina cresceu, e já ensaiava seus primeiros passos. E foi aí que a mulher novamente vem a mãe índia e diz: 

"Já é hora de partir desse lugar, essa foi a primeira gruta que deveríamos ficar com a sua pequena guerreira. De um total de sete devemos passar por elas até a menina completar seus 13 anos."


E assim foi feito, a menina Janaína passou por sete grutas, chamadas de "grutas mágicas", desde o seu nascimento até completar seus 13 anos. Em cada uma dessas grutas ela tinha a companhia de sua mãe, e da mulher de manto azul, que por diversas e diversas vezes, a ensinava a magia de trazer as energias o mar e das florestas.

A menina acabara de completar seus 13 anos, quando a bela mulher veio até ela e disse:

"Jovem Janaína, você está pronta para voltar e libertar seu povo. Agora você é uma guerreira das matas. Você tem o sangue guerreiro de seu pai da terra e de sua mãe que era uma amazona. Ambos tinham a proteção do Orixá Ogum e do Orixá Oxossi. Essa proteção agora está com você, mas com um teor diferente, pois hoje você tem a proteção e os ensinamentos de Iemanjá. Você é uma guerreira diferenciada, tem o dom de lutar e vencer, e tem o dom de dar a força e as energias do mar e das florestas as suas guerreiras comandadas. Você hoje não é só uma amazona guerreira, você é o caminho e a luz que todas as amazonas guerreiras deverão seguir."

Ela compreende, e mesmo sendo uma menina na idade terrena, já era uma guerreira vencedora e dominadora na vida espiritual, pois ela tinha dentro de si todas as energias dadas pelo mar e pelas matas, afim de comandar uma legião das mais belas e lutadoras guerreiras de todos os tempos nas florestas de Pai Oxossi.

E assim ela se foi, junto a sua mãe para o interior da imensidão da floresta.

Tempo a tempo, ela se embrenhava nas matas, indo ao encontro de novas amazonas, de várias idades e tribos, e após algumas palavras e gestos, as guerreiras entendiam que a Cabocla Janaína era a líder que buscavam a tanto tempo.

Assim sendo a Cabocla Janaína formou seu exército de amazonas guerreiras, dando um grande orgulho a sua mãe.

E enfim chegou o grande dia, a de libertar os povos índios das garras malditas dos homens brancos. Tudo foi preparado pela Cabocla guerreira, toda a sua legião de amazonas aguardavam as ordens de ataque em vários pontos da floresta, que foram tomadas pelos homens brancos, que escravizavam os índios de uma forma cruel e covarde.

E foi dada a ordem de ataque, cada passo dado acima do grandioso número de brancos era uma vitória para a Cabocla Janaína.

Aquela guerreira de grito poderoso, de ações intensas e certeiras, de demonstração de força, não parecia ter a pouca idade que tinha. Era uma águia atacando suas presas, um leão que dominava todo seu bando, sua força contagiava todo o grupo de lutadoras, fazendo assim com que fosse quase impossível de dominá-las.

Mas os homens brancos quando são tomados pela ganância não tem limites, em uma junção de centenas de homens dispostos a matar ou morrer pelas riquezas da terras indígenas, e claro continuar escravizando os índios, se fecharam em cerco, fazendo assim com que um grupo de amazonas que estaria um pouco distante da maioria delas fossem cercadas. Com um sorriso sarcástico no rosto, o líder dos homens brancos, manda seus comparsas eliminar todas que ali estavam. Diante disso, ao observar a cena, a guerreira Janaína se coloca na frente do grupo de guerreiras, e se utilizando dos ensinamentos de sua protetora Iemanjá, busca um campo de energia do mar, da floresta e das sete grutas, fazendo assim uma grande camada de energia que protege todas as guerreiras das centenas de armas de fogo que foram usadas contra elas.

O líder dos homens brancos fica apavorado ao ver aquele feito, com um grande receio, acreditando em uma possível magia vinda dos espíritos da floresta, ele bate em retirada, junto com toda sua tropa de assassinos e ladrões.

As amazonas venceram, com a liderança e toda a sabedoria da Cabocla Janaína, e todas festejaram essa grande vitória.

Nos festejos e nas junção das tribos, diante de uma grande fogueira, onde se encontrava a Cabocla Janaína, a sua mãe e alguns caciques de tribos vizinhas, poderiam ser visto por todos as lindas imagens de Pai Oxossi, senhor das matas, de Pai Ogum, senhor da guerra e paz e da linda Iemanjá, protetora das amazonas, e claro da linda Cabocla Janaína.


Hoje essa linda Cabocla guerreira trabalha em prol da caridade nos Terreiros de Umbanda, trazendo paz, justiça, vitórias, quebrando magias e usando a energia dos mares, das florestas e das sete grutas para proteção de seus filhos e consulentes.

Fonte: umbandayorima.blogspot.com.br