Senhor Malta, homem distinto e freqüentador efetivo da Sociedade Carioca, reflexo de sua grande performance como cirurgião plástico, era por todos admirados não só por sua habilidade em corrigir e embelezar corpos físicos, mas também por seu alto senso de bondade para com os menos abastados. Uma vez por semana dedicava-se a trabalhos caritativos junto a um Asilo de Idosos próximo a sua residência.
A todos tratava com gentileza e simplicidade, e os colaboradores daquela casa assistencial nem sequer imaginavam que aquele humilde voluntário era pessoa de alto padrão sócio-econômico e cultural.
Malta não media esforços no sentido de amparar aqueles que, por razões diversas, viviam sob o estigma da pobreza e da indiferença.
Uma vez por mês dedicava-se a cirurgia gratuita, reparando rostos desfigurados, anomalias físicas e outros defeitos corporais, que infligiam pessoas carentes, sem meios de custear intervenção médica de tamanha complexidade.
O tempo corria suave, como brisa a tocar os botões de flores, dando lhes boas-vindas ao mundo das formas.
Homem casado, pai de 2 filhos, tendo esposa a quem amava e era amado, Malta sentia grande satisfação e felicidade por tudo o que Deus lhe proporcionara nesta vida. Católico praticante, lá estava ele pelo menos 3 vezes por semana a assistir a missa, comungando com Jesus Cristo e agradecendo por mais um dia de trabalho e de convivência fraternal com sua família, a quem tanto amava.
Era proprietário, juntamente com Núbio, seu sócio, de respeitável clínica de cirurgia plástica, encravada na zona nobre da cidade, tendo clientela formada na sua maioria de empresários, políticos e outras pessoas de grande poder aquisitivo.
Em determinada ocasião, por razões que só a Espiritualidade é dado explicar, foi induzido por Núbio a assinar alguns papéis, assim o fazendo, pois confiava na amizade de mais de 20 anos com seu amigo e sócio.
Passados três meses, eis que a bomba estoura: o sócio e até então amigo Núbio tinha vendido a clínica e sumira com todo o dinheiro. Malta ficou estarrecido com a situação, não acreditando na realidade amarga que jazia diante de si. E descobriu ainda que o agora traidor tinha feito um empréstimo bancário, apresentando como avalista ele, Malta. Lembrou-se imediatamente dos papéis que tinha assinado em ocasião outra. As lágrimas vertiam-lhe a face, o tremor tomava seu corpo e uma raiva colérica apossava-se de sua mente, fazendo-o expressar no sombrio rosto desejo de vingança.
Como iria sustentar sua família? Como arcar com as despesas? Como pagar a dívida bancária? Como iria viver?
Do lado espiritual, seus protetores faziam de tudo para lhe confortarem diante de tamanha provação. Entretanto, os fluidos emanados dos espíritos não conseguiam penetrar-lhe, pois Malta criara e alimentava de forma contínua em torno de si poderoso campo magnético densamente negativo, produto de seu ódio e desespero. Já apresentavam-se, tal qual nuvens negras, uma série de espíritos de ordem inferior, atraídos instintivamente pelos fluidos negativos emanados por Malta. Inspiravam-lhe dar cabo da própria vida; transmitiam a sua mente imagens grotescas de sua mulher e filhos, que lhe acusavam de irresponsável e ingênuo.
Contudo, pequena brecha em sua casca magnética de ódio e rancor, fez com que poderosos fluidos de seus protetores pudessem alcançar seu mental, fazendo-o afastar a idéia de suicídio. No entanto, a vingança persistia e faria justiça a seu modo.
Soube mais tarde que Núbio instalara-se em suntuoso apartamento na zona nobre da cidade vizinha, e desfrutava de vida de rei, com o dinheiro ilicitamente conseguido. Malta pensou então em tirar a vida de seu desafeto, mas faltava-lhe coragem para isto. Pensava em como fazer para punir Núbio por todo seu sofrimento e de sua família.
Tomou conhecimento que funcionava perto de sua antiga clínica, um lugar onde se manifestavam espíritos e que, por sua ignorância, conhecia como macumba. Sem tempo a perder, Malta se dirige ao tal lugar, ansioso por conseguir seu objetivo: a vingança. Em lá chegando, foi encaminhado a um espírito que se identificava como Preto-Velho X. Expôs à entidade espiritual a história e queria que Núbio pagasse com a vida os momentos de dor que infligira a si e a sua família.
O Preto-Velho, com sua sabedoria, experiência e perspicácia, identificou os espíritos que obsediavam Núbio, solicitando aos Exus Guardiães imediatas providências. Afastados os perigos de ordem externa, restavam resíduos magnéticos negativos que teimavam em alimentar o escudo que circundava Malta, nutrido pelos fluidos emanados de sua própria mente.
O iluminado Pai Preto sabia que tal situação só teria resolução com métodos pouco ortodoxos. Estando ambos frente a frente, o Preto-Velho disse a Malta que iria "atendê-lo", mas que, para o sucesso da empreitada, ele, Malta, teria que estar ali no terreiro por sete vezes, sem faltas.
Passou-lhe banhos com ervas de alto poder de repulsão eletromagnética. Malta, ansioso pelo resultado a que aspirava, se comprometeu a tomá-los.
Os dias passaram e Malta, tendo seguido as recomendações do espírito, e com a expectativa de sucesso em sua vingança, começava a relaxar sua parte neuropsíquica, dando campo de atuação favorável a seus protetores. Paralelo a isto, continuou a freqüentar o Templo Umbandista, ocasião em que o Preto-Velho, já tendo como reequilibrar o mental de Malta, com transpasse de fluidos astral superiores em sua aura, lhe aconselhava a ter paciência do ocorrido, e de que o sentimento de vingança prejudicaria sua marcha espírito-evoluicional.
Malta, já em melhor estado psíquico, começava a absorver daquela simplória entidade, ensinamentos de alta significação espiritual. Preto-Velho X fazia-o relembrar os momentos de oração e fé no catolicismo, e de que neste momento de dor é que ele, Malta, deveria estar em maior comunhão com Jesus.
Aquele homem, outrora abalado pelos incidentes que destruíram sua vida, foi colhido de grande remorso em razão da gravidade do pedido feito àquela entidade de luz, frente às máximas do Cristo Jesus: amor e caridade.
Na sétima e última vez em que era necessário a sua presença no terreiro, Malta, envolvido em feixes cristalinos da Espiritualidade Superior, pediu ao Preto-Velho que não concretizasse a vingança solicitada (e nem iria, pois Entidades da Corrente Astral de Umbanda só fazem o Bem), e que deixaria nas mãos de Deus o desfecho da situação. Ao final da conversa, o Preto-Velho X disse-lhe que breve chegariam novidades.
Após dois meses de sua última visita ao Templo, Malta, agora morando de favor em casa de parentes, recebe com surpresa a visita de Núbio, que, em correntes lágrimas, lhe pedia perdão. Malta, lembrando das doces e sábias palavras do amigo espiritual, afagou com carinho seu outrora desafeto, como um pai a acolher um filho em desespero.
Núbio devolveu-lhe todo o dinheiro que havia lhe usurpado. Quitou a dívida bancária, restituindo assim a Malta tudo aquilo que lhe era de direito.
Malta continua católico, mas, ainda hoje, visita o terreiro de Umbanda, não para pedir, mas para rever o novo amigo, Preto-Velho X, e lhe agradecer por todo o carinho, a atenção, o amor, o amparo, a dedicação, e sua eficaz PSICOLOGIA ESPIRITUAL!!!
Salve a Linha Iluminada dos Pretos Velhos... Adorei as Almas.